Por Nicole Roth
Há uma tendência – cada vez mais evidente – em Hollywood, de trazer para a indústria cinematográfica norte-americana longas metragens de sucesso de outros países. Com a desculpa de “trazer a história x ao público daqui”, Hollywood já produziu filmes totalmente desnecessários e sem sal, como a refilmagem de O Segredo de Seus Olhos, originalmente um filme argentino. Outras vezes, os estadunidenses acertam, como com Vanilla Sky – e também, com Perfume de Mulher, de 1992.
Remake do longa Profumo di Donna, de 1974, seria possível dizer que, embora um ótimo filme, a refilmagem norte-americana, dirigida por Martin Brest, fica em um nível abaixo em relação ao original, não fosse por um detalhe: Al Pacino. Sua interpretação de Frank Slade, um coronel aposentado (que se aposenta cedo, devido a um acidente que o deixou cego) lhe rendeu o único Oscar de sua carreira – e não é para menos. Pacino é a alma do filme, entregando a interpretação do destemperado, rude e melancólico militar que compensa as (várias) mudanças feitas no roteiro, para adaptar o longa ao país – e ao público – norte-americano.
Por outro lado, Chris O’Donnell faz o papel de um estudante que é contratado para “pajear” o coronel durante um final de semana, o que acaba se desenrolando em uma viagem a Nova York, fazendo o filme se tornar quase um road movie. Ao longo dessa viagem, uma amizade improvável se desenvolve entre os dois personagens. Charlie, o estudante interpretado por Chris O’Donnell, precisa se decidir entre dedurar os colegas que participaram de uma brincadeira envolvendo o diretor da escola ou ser expulso, caso se negar a entregar os colegas. É essa amizade, entre duas pessoas que vêm de realidades muito diferentes, que faz dessa refilmagem uma daquelas (poucas) que valem a pena serem vistas, sem deixar de apreciar o material original.
O maior acerto do longa de Brest certamente é o casting dos atores para a refilmagem. O elenco de apoio conta com nomes como Phillip Seymour Hoffman (ainda bem jovem, interpretando um dos colegas de escola de Charlie), Bradley Whitford e Frances Conroy, que emprestam credibilidade ao longa metragem.
Apesar de que o filme original seja superior à refilmagem em muitos aspectos, o filme de 1992 conta com uma cena icônica, que não está presente no longa original: o diretor Martin Brest teve a sacada de colocar o coronel cego de Al Pacino para dançar tango. A combinação entre a surpresa da parceira de dança do coronel, a leveza de Pacino durante a cena e o rosto maravilhado do estudante de Chris O’Donnell é perfeita – e é por essa cena, muitas vezes, que o filme é lembrado.