Sapiranga – Encerrou nesta semana o primeiro ciclo de encontros dos grupos reflexivos de gênero na Comarca de Sapiranga. O trabalho inédito no município visa a reeducação de homens que se envolveram em situação de violência doméstica/familiar contra uma mulher. Um total de 20 homens participaram deste primeiro grupo e, em breve, inicia o segundo com 40 agressores.
A iniciativa do grupo de gênero é uma parceria entre Fórum, Ministério Público, Defensoria Pública e prefeitura, através do Centro de Referência no Atendimento à Mulher. A participação no grupo de reabilitação é uma das medidas protetivas impostas pelo Judiciário. Se eles não participarem, é descumprimento de determinação judicial e pode acarretar em prisão. Os encontros acontecem na sala do Tribunal do Júri e são feitos após o horário de trabalho.
Coordenadora dos grupos reflexivos, a assistente social Silvia Cristina Ferreira Maciel, conta que os resultados do primeiro trabalho são positivos. “A gente conseguiu que eles participassem, falassem dos receios e das questões emocionais. Foram tiradas dúvidas e feitos diversos encaminhamentos”, disse ela, que conta com apoio de diversos profissionais, entre psicólogo, advogado, delegado e promotor.
QUEBRAR CICLO DE VIOLÊNCIA
A cada encontro, o grupo de homens contava com um profissional diferente, entre eles, delegado, psicóloga, advogado, promotor e de grupos que atuam como apoio à dependência. A advogada Adriana Maria Pereira Rost atuou como voluntária e destaca que este é um trabalho que iniciou e precisa ser mantido. “Participei porque acredito que todos podemos nos doar um pouco para auxiliar em um tema tão importante. Conseguimos esclarecer muitas questões com eles, é preciso tratar o problema”, disse a advogada, que também participou da última reunião.
MINISTÉRIO PÚBLICO
O promotor público Bill Eugênio Scherer, que atua há três meses na Comarca de Sapiranga, conversou com o grupo e explicou o trabalho feito através da Lei Maria da Penha, assim como alertou sobre as consequências do descumprimento de medidas protetivas. “Sou um promotor de justiça, não promotor de acusação, tenham certeza os senhores de que se de um lado temos a atuação firme do Ministério Público, vocês também terão nesse promotor alguém que busca entender o problema complexo da violência doméstica e familiar contra a mulher, e não buscar somente o encarceramento, embora já tenha nestes três meses já tenha tido prisões preventivas, inclusive em audiência”, disse ele.
“Entre colocar um homem no presídio ou deixar uma mulher morrer, temos a Lei”
O promotor Bill fez questão de enfatizar que agir com violência e ameaças não é a forma de resolver o problema e que se isso acontecer, a ação do MP vai ser para cumprir a lei. “Violência doméstica não se concretiza somente com homem e mulher morando junto, a violência é possível de configuração também em relacionamento passado, com ex-cunhado, não é preciso que more junto para configurar. Entre colocar um homem no presídio ou deixar a mulher morrer, ou que ela continue sendo agredida, ou que ela continue sendo vítima de violência física, psicológica ou moral, o Ministério Público não hesita em fazer cumprir a lei”, destacou o promotor.
REGIÃO MOBILIZADA
Apesar do pouco tempo de trabalho do grupo de reflexão de gênero em Sapiranga, ela já está servindo de inspiração para outros municípios. A coordenadora Silvia conta que já foi procurada por representes de Campo Bom, Novo Hamburgo e Antônio Prado. “São municípios que nos procuraram para saber mais detalhes de como funciona este trabalho. Plantamos uma semente e confiamos que isso vai crescer em vários lugares”, destacou ela, que irá atuar no grupo de gênero em Campo Bom. “Serei voluntária porque acredito nesse projeto”.