Nova Hartz – Foi no ambiente em que elas deveriam se sentir mais protegidas que acabaram vivenciando a dor e o medo. Na semana passada, a Polícia Civil de Nova Hartz prendeu dois homens acusados de abusar e estuprar duas vítimas no município. Mais do que cessar com os crimes sexuais contra as vítimas, a ação da polícia colocou fim em uma prática que ultrapassava gerações no ambiente familiar.
Em um dos casos, uma menina de 8 anos foi estuprada pelo marido da avó. O crime hediondo foi descoberto após a criança apresentar sinais da violência no corpo. Alertada pela cuidadora, a mãe levou a filha em um posto de saúde da cidade. O médico, então, orientou a mãe a procurar a Polícia Civil. Somente após insistir em conversas com a filha, a menina tomou coragem para relatar o que os exames médicos já indicavam. Os estupros ocorriam dentro de casa e a vítima era induzida a não relatar nada para a mãe. Com o caso registrado, a mãe da menina também denunciou o acusado, que é seu padrasto, de ter lhe abusado quando também era menor de idade. “Conseguimos a prisão com o Poder Judiciário em razão do estupro da menina também registramos a ocorrência da mãe, relatando que no passado o acusado também cometia o crime de abuso sexual na família”, contou a delegada Ariadne Langanke, que preside o inquérito.
Pai preso pelo abuso da própria filha adolescente
A mãe relatou que foi abusada pelo padrasto dos 11 aos 16 anos. Com base nos depoimentos e laudos, a prisão foi decretada e o acusado, de 60 anos, detido. Para os policiais, ele negou os crimes. A denúncia do estupro foi registrada em 17 de março. “Crimes de estupro são muito graves e agimos o mais rápido possível para dar a resposta”, pontua a delegada Ariadne.
Ainda no mês de março, no dia 19, a Polícia Civil registrou outra acusação de estupro. A vítima é uma adolescente de 16 anos. A mudança de comportamento da jovem, que passou a sofrer de ansiedade e demonstrar semblante de tristeza, chamou a atenção da tia. Após insistência da tia e de ter acompanhado uma palestra na escola, a menina desabafou e contou o que ocorria dentro de casa. Ela estava sendo abusada e o acusado era seu próprio pai, de 41 anos. Segundo a vítima, os abusos também eram cometidos pelo avô. “Em diligência e ouvindo testemunhas, conseguimos elementos para pedir as prisões. O pai, inclusive, no trabalho estaria falando que iria cometer o crime contra a filha”.
O Poder Judiciário decretou a prisão preventiva do pai, que foi capturado na semana passada. Para o avô, de 70 anos, devido à idade, foram decretadas medidas cautelares, como não se aproximar mais da vítima. Após a denúncia, o pai passou a ameaçar a tia da menina e o marido. Com a prisão do investigado, a mãe da vítima também relatou ter sido vítima de abusos por parte do sogro, avô da menina, na época em que todos moravam na mesma residência.
“PRECISA DENUNCIAR”
A delegada Ariadne assumiu a Delegacia de Polícia de Nova Hartz no início de março e se surpreendeu com os casos denunciados de estupro. Além dos dois concluídos com prisões, há uma terceira investigação em andamento. Ela chama a atenção para a importância da denúncia. “Alertar também aos adultos para acreditar no que a criança está falando, porque normalmente estes crimes, contra a dignidade sexual, a palavra da vítima é tudo”, destacou ela, citando também a importância do conhecimento sobre o assunto. “Uma vítima passou a ter mais coragem para denunciar após uma palestra. A orientação sobre o certo e errado também é essencial”, disse ela.
“Não é normal, é crime”
A delegada Ariadne pede atenção redobrada de mães e pessoas que tenham proximidade e confiança das crianças. “Isso não é normal, é um abuso. Às vezes, isso já vem de tanto tempo dentro das famílias, tão dramático, que algumas vezes podem achar que é normal, passar a mão em partes íntimas. As crianças não têm noção que aquilo ali é errado, até ela aprender que isso é errado passa-se muito tempo”, alerta a delegada, pedindo que as mães acreditem no que os filhos estão relatando. “As mães precisam acreditar e dar apoio para seus filhos e filhas, isso é um abuso que, às vezes, se perpetua ao longo das gerações e não pode mais continuar”.
Três prisões na mesma semana
Além das duas prisões pelo crime de estupro, na mesma semana a Polícia Civil de Nova Hartz efetuou uma terceira prisão, pelo crime de homicídio. Um homem matou o cunhado a marteladas no último dia 3, na rua Minas Novas. Após as agressões, o assassino fugiu para um matagal. Policiais civis saíram no encalço e conseguiram capturá-lo. Ele foi preso em flagrante. “Foi uma semana de trabalho intenso e conseguimos dar as respostas”, completou a delegada.