Negros: a presença silenciosa na Cidade das Rosas, sua história e o racismo

Pai João, personagem citado na matéria | Foto: Arquivo Pessoal

Por Caroline Waschburger

Sapiranga – O Brasil é 55,8% negro. Somos o segundo país do mundo com a maior população negra, ficando atrás apenas da Nigéria. Já sabemos que é por causa das origens africanas que conhecemos o samba, o blues, o carnaval, entre diversos outros segmentos, inclusive religiosos. Mas de que forma a influência africana está presente no Sul do Brasil, tão marcado pela imigração alemã e italiana?

A população do Rio Grande do Sul é 21% negra e os negros estão presentes desde os primórdios de Sapiranga, quando a área ainda era chamada de Padre Eterno. O “Padre Eterno” que identificava a região era o Capelão Ignácio Coelho dos Santos, um negro muito velho (“steinalter Mann”), que rezava o terço, cantava, batizava e fazia enterros na região por volta dos anos 1780. Desde então, Sapiranga também foi fazenda de escravos na época da “Fazenda Leão” no século XIX, e teve um bairro denominado como “África” (onde hoje é o bairro Centenário), no século XX.

De acordo com a historiadora Doris Fernandes, a presença dos negros sempre esteve aqui de forma silenciosa: os negros participam da sociedade, são conhecidos, mas ninguém fala sobre o assunto.

Presenças que ganharam destaque em Sapiranga

O primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG) do nosso município recebeu o nome de um negro: era chamado de Cabanha do Pai João. Pai João era funcionário de Reginaldo Dresch, e participava ativamente das atividades das famílias sapiranguenses. Ele contava histórias para as crianças, que adoravam escutá-lo, e também participava com declamações e oferecendo chimarrão, cozinhando e ajudando na organização das festas particulares da família Dresch. Os negros sempre estiveram presentes, porém de forma silenciosa, no futebol, nas atividades domésticas, em trabalhos agro-industriais e na localização de suas moradias: na “África”, na Fazenda Leão e nas margens do rio. Há também a história de Fridolino, que andava com sua bicicleta “toda equipada” e falava alemão e de Dona Urbana, que trabalhava na casa das pessoas fazendo faxina.

Movimentos antirracistas recebem destaque no país e no mundo

Talvez você se lembre de estudar sobre Zumbi dos Palmares e a Guerra dos Porongos durante o Ensino Fundamental. A história é muito mais longa e é difícil conseguir resumi-la completamente em uma só matéria. Muitas das informações aqui expostas tiveram como fonte a professora doutora Doris Fernandes, historiadora e residente de Sapiranga, que possui diversos estudos relacionados ao tema. Os dados técnicos, como porcentagens, são de fonte do site do IBGE do ano de 2018. Esta matéria terá continuação com a ajuda da comunidade, levando em conta os fatos que estão acontecendo no Brasil e no mundo e que merecem destaque.

Combata o racismo

Se em algum momento você já se perguntou de que forma ajudar a combater o racismo, aqui vão algumas indicações: podemos ajudar aprendendo sobre o racismo, estudando sobre a história e a cultura afro no Brasil e riscando piadinhas e comentários racistas do vocabulário. Mantenha-se sempre informado e não torne seu posicionamento momentâneo. Também podemos ajudar identificando a presença negra na nossa sociedade, além de caracterizar a cultura negra presente na maneira de ser brasileiro e gaúcho. E acima de tudo, ouvindo pessoas negras.