Sapiranga – No período de 1824 a 1826, os primeiros alemães estabeleceram-se no Rio Grande do Sul.
Estes imigrantes germânicos desembarcaram em São Leopoldo em julho de 1824, iniciando a história dos municípios que formam a região conhecida como Vale dos Sinos.
Segundo a historiadora e professora Dóris Magalhães, a Fazenda Padre Eterno, após discussões jurídicas, foi levada à leilão e arrematada em praça pública por João Pedro Schmidt, em julho de 1842. Essa venda marca o início, de fato, da colonização alemã nas terras que hoje formam Sapiranga.
Os colonos nessa época se dedicavam à atividade agrícola de subsistência, bem como ao artesanato, ferraria, marcenaria, carpintaria, selaria e tamancaria, trabalhos que haviam trazido da Europa e graças a qual puderam suprir suas necessidades nas novas colônias. Nos primeiros anos era comum encontrar os colonos dedicando-se, simultaneamente, a alguma atividade artesanal e outra agrícola.
Em 1850, começou o povoamento efetivo do solo sapiranguense, com o estabelecimento dos primeiros colonos. Em 1.º de julho desse ano havia em Sapiranga e seus arredores 398 habitantes, a maioria deles (265), evangélicos.
A Batalha dos Mucker
O desenvolvimento da colônia alemã teve um episódio violento na segunda metade do século 19, conhecido como Conflito dos Mucker, um movimento sociorreligioso que envolveu os colonos no Morro Ferrabraz e que se estendeu de 1868 a 1874.
Os protagonistas desse movimento foram Jacobina Mentz e João Jorge Maurer, que moravam em terras da encosta do Morro Ferrabraz. A mulher sofria de ataques epiléticos e quando adoeceu, o curandeiro Ludwig Buchorn a tratou e ensinou seu marido sobre as ervas e como elas podiam ser usadas para a cura de enfermidades.
Como naquela época os médicos eram escassos, as pessoas recorriam aos curandeiros. Enquanto Maurer utilizava seus conhecimentos com chás e ervas, Jacobina usava a religião no atendimento espiritual aos doentes, o que a tornou conhecida.
Criou-se uma legião de seguidores de Jacobina, o que atraiu a ira de muitos outros habitantes que a viam como uma inimiga da igreja e acusavam de falsa curandeira, surgindo então a definição Mucker para os seus seguidores, uma palavra alemã que é traduzida como falso. Mal vistos pela sociedade, os Mucker sofriam acusações, ataques e a opressão. Em maio de 1873, Jacobina e seu marido chegam a ser presos em São Leopoldo.
Os conflitos seguem, até que em junho de 1874, se inicia uma sequência mais violenta e sangrenta de ataques, que ficou conhecida como A Batalha dos Mucker. Casas comerciais e residenciais foram incendiadas, resultando em mortes, além dos abaixo-assinados, acusações e pressões na Justiça e no governo estadual. A chegada das tropas de infantaria comandadas pelo coronel Genuíno Sampaio acentuam o prenúncio da ofensiva derradeira. Após diversos embates entre os colonos e as forças oficiais, em 19 de julho a casa de Jacobina é atacada definitivamente, resultando em sua fuga em meio a mata fechada do Morro Ferrabraz, com mais 16 adeptos. Já em 20 de julho ocorre a morte de Genuíno.
Arma-se, então, o combate final de tropas do Exército e da Guarda Nacional contra os Mucker, que ocorreu em 2 de agosto de 1874. Ela e seus seguidores foram massacrados. Os poucos que sobreviveram foram presos e condenados.
Em 2009, um Memorial da Reconciliação foi erguido em Sapiranga, ao pé do Morro Ferrabraz, junto à uma estátua em homenagem ao coronel Genuíno Sampaio, selando simbolicamente a paz entre descendentes dos dois lados do conflito. Os Caminhos de Jacobina, roteiro turístico criado em 2001, percorre parte dos lugares de memória dos Mucker em Sapiranga e permitem conhecer mais da história de um dos mais importantes conflitos sociorreligiosos do Brasil.
As mudanças de Sapiranga nas últimas décadas
A partir de 1890, Sapiranga deixa de ser parte do 4.º Distrito de São Leopoldo. Anos depois, com o surgimento de uma rodovia, Sapiranga recebeu um novo impulso e, ao longo da estrada de ferro, se formaram os povoados.
Em 1933, a partir do surgimento de novas fábricas, houve a ampliação do mercado de trabalho sapiranguense. Com isso, a população triplicou. Em 1948 se tem efetivamente início o movimento emancipacionista, buscando a independência política e econômica de Sapiranga através do desmembramento de São Leopoldo. Anos mais tarde, em dezembro de 1953, ocorre o plebiscito. Seguindo-se todos os trâmites necessários, um ano depois, em dezembro de 1954, é criado o Município de Sapiranga, ocorrendo a instalação a 28 de fevereiro de 1955, data na qual é oficialmente festejado o aniversário da cidade.
Em divisão territorial datada de 1.º de Julho de 1960, o município é constituído de 4 distritos: Sapiranga, Araricá, Campo Vicente e Picada Hartz, assim permanecendo em divisão territorial datada de 1.º de janeiro de 1979. Em dezembro de 1987, desmembram-se do município de Sapiranga os distritos de Picada Hartz e Campo Vicente para formar o município de Nova Hartz. Em 28 de dezembro de 1995, desmembra-se o distrito de Araricá, não ocorrendo mais mudanças na geografia sapiranguense.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, estima-se que atualmente Sapiranga possui 80.514 habitantes.