Artigo: “Das intenções abstrusas”, por Marco Cassel

Agrada-me a visão teleológica de Aristóteles acerca do mundo e do ser humano – telos do grego significa finalidade. Segundo ele, toda ação humana possui um fim, um objetivo.

 

Se olharmos para as coisas que nos cercam, o que nos é oferecido pelo mercado, pela política, economia, religião, educação, pelas notícias, perceberemos que em tudo existe uma intenção, uma finalidade implícita.

 

A intenção da propaganda de um produto é vendê-lo; de uma religião pode ser desenvolver uma vida espiritual agradável ou encher os cofres de dinheiro; de uma ideologia política pode ser organizar uma sociedade baseada em princípios éticos ou apenas matar a sede de poder; da educação, formar seres humanos melhores e pensantes, que refletem a respeito de tudo ou impor respostas prontas e produzir “máquinas humanas” que apenas respondem às necessidades (ou fins) de determinados grupos; das notícias, pode ser mostrar aos cidadãos o que está acontecendo ou induzi-los a pensarem de forma que atendam a alguns interesses.

 

Portanto, tudo parece ter um fim e é fundamental pensarmos a esse respeito, para que não sejamos manipulados por indivíduos ou grupos que estejam se passando por cordeiros quando na verdade são lobos famintos que desejam nos devorar.

Nascemos com a capacidade de pensar de forma crítica e racional e é o que nos diferencia dos outros animais. Se queremos um mundo melhor devemos cultivar uma vida ética e usar a nossa razão e nosso coração, numa justa medida, para não sermos apenas escravos num mundo onde as virtudes, parafraseando Zygmunt Bauman, parecem líquidas.

Voltando a Aristóteles, que via a felicidade como o “sumo bem” e desejada por todos, que tenhamos também sua visão de que os fins não justificam os meios para atingi-la e que pensar ao contrário é desejar a felicidade egoísta que permeia nosso modo de vida atual, onde muitas vezes nosso olhar não ultrapassa a distância entre nossos olhos e nosso umbigo.