Perda auditiva profunda possui implante que pode ser alternativa

Região – A surdez está diretamente ligada a qualidade de vida, seja do paciente que sofre com o problema de audição, seja para a família que passa a buscar formas de se adaptar com a condição. Felizmente, a medicina e a tecnologia evoluem e soluções como aparelhos auditivos estão presentes com diversos sistemas diferentes na busca de melhor atender aos pacientes.

Porém, há casos em que os aparelhos auditivos convencionais não são mais capazes de auxiliar. Foi uma situação como essa que Florida Colório, 57 anos, precisou enfrentar. Por volta de 2000, Florida começou a ter tonturas, passar mal e sofrer com um zumbido. Em 2007, foi diagnosticada com Síndrome de Menière, uma condição rara, que não tem cura e causa a perda da audição. Desde então, passou a utilizar um aparelho de amplificação sonora individual (AASI), no ouvido esquerdo. Porém, em 2018, de forma repentina, Florida perdeu consideravelmente a audição do ouvido direito, sem causa aparente. Novos aparelhos foram testados até que se chegou na última possibilidade, o implante coclear.

O que é implante coclear

O Doutor Sady Selaimen, professor titular da disciplina de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e diretor do Instituto Gaúcho de Otorrinolaringologia, explica que o implante coclear é formado por duas unidades, uma externa, parecida com um aparelho auditivo convencional, e uma unidade interna que é implantada. Este sistema “transforma uma energia sonora em eletricidade e essa eletricidade é transferida, através de um eletrodo, para dentro do ouvido, estimulando as fibras do nervo auditivo. Ele funciona como um ouvido humano”, explica Selaimen.

Possível cura da surdez de nascença

Selaimen esclarece que os implantes cocleares são recomendados aos pacientes para os quais os aparelhos convencionais já não adiantam mais, e também para crianças que já nasceram com surdez profunda. “Há duas condições: o paciente que tem uma surdez ao longo da vida, que usa aparelhos convencionais e em um determinado momento o aparelho para de beneficiá-lo, aí ele passa a ter que contar com uma outra solução, que é o implante coclear. E as crianças pequenas que nascem com perda auditiva profunda. Nessas é importante que se faça o diagnóstico precoce, porque o ideal é fazer o implante até dois anos de vida, depois o rendimento já não é mais o mesmo”, explica Selaimen.

O doutor ainda destaca a importância dos testes da orelhinha, pois é possível curar uma surdez de nascença “contanto que o diagnóstico seja feito rapidamente, e o implante, idealmente, realizado até os dois anos de idade.”

Sobre a cirurgia, o médico explica que como qualquer procedimento cirúrgico, há riscos. “O principal é não atingir os objetivos que a gente gostaria de atingir, até porque o implante não é simplesmente colocar o aparelho e a criança sai ouvindo, ela tem que fazer um treinamento auditivo, mas se for comparar os potenciais riscos com os benefícios da cirurgia, não tem nem o que dizer, vale a pena correr esse risco sim”, declara.

Resultados não são milagrosos e requerem atenção da família

Entretanto, Selaimen lembra que não são todos os casos que estão aptos a receberem o implante, e que a solução não é milagrosa e precisa de acompanhamento da família e de uma equipe transdisciplinar. “A cirurgia não é nenhum procedimento milagroso. Ela faz parte de um contexto e esse contexto envolve a atuação da família, dos professores e de uma rede multidisciplinar que atua junto, com um apoio grande da fonoterapeuta. Os adultos que são implantados são aqueles que já ouviram alguma vez, tem linguagem, tem código linguístico estabelecido e por algum motivo perderam a audição. Um adulto que nunca ouviu na vida e não desenvolveu linguagem auditivo-oral, ele não é candidato ao implante, porque ele pode até ouvir, mas não vai processar absolutamente nada, então não tem indicação. A indicação, então, é para o adulto que nós chamamos de pós-lingual, que depois perdeu a audição, ou uma criança pré-lingual, até os dois anos de idade, isso é o ideal”, esclarece o médico.

Uma das preocupações, principalmente dos pais, é a respeito da recuperação após a cirurgia, mas Selaimen garante que é tranquila como a de uma cirurgia de ouvido convencional. “Normalmente, a criança fica uns dois dias, no máximo, no hospital e vai para casa. O procedimento é um procedimento padrão e o pós-operatório tem as preocupações básicas de uma cirurgia de médio-grande porte de ouvido”.

NO SUS

O procedimento é oferecido pelo SUS. Em Sapiranga, para ter acesso ao implante o paciente deve ser avaliado e encaminhado das Unidades Básicas de Saúde para a Unidade de Saúde Especializada, para consulta com o otorrinolaringolo-gista, o qual indicará, ou não, o procedimento. Os sapiranguenses que necessitam da cirurgia são encaminhados pelo sistema de saúde a hospitais de Porto Alegre, que possuem a estrutura e conhecimento para a realização do implante.

Foto: Arquivo pessoal.