Governador anuncia suspensão da cogestão; Medida vale por uma semana a partir de sábado

Estado – Em reunião com prefeitos do estado na tarde desta quinta-feira (25), o governador Eduardo Leite anunciou a suspensão do sistema de cogestão por uma semana, passando a valer a partir do próximo sábado (27), e se estendendo até domingo (7). A medida leva em consideração o número elevado de internações no estado, que, segundo a Secretaria Estadual da Saúde, registram média diária de 230 hospitalizações, em leitos clínicos ou de UTI. Com a suspensão, as regras das bandeiras do Distanciamento Controlado passam a valer conforme decreto do estado, e não mais a partir dos protocolos definidos pelas prefeituras de cada região.

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A secretária de saúde, Arita Bergmann, externou sua aflição sobre a situação em que o estado se encontra. “Tudo que preparamos em termos de retaguarda de leitos não está sendo suficiente para atendermos as demandas diárias. Dobramos, em 30 dias, a necessidade de internações de pessoas. Não haverá leitos suficientes, especialmente de UTI, para atender a demanda que é crescente. Crescente o suficiente para nos deixar com uma lista de espera que nos aflige. Estamos aqui apavorados”, alerta. Segundo a secretaria, 60% dos pacientes que chegam à UTI morrem. Além disso, Arita informou que o número de mortos até agora na epidemia é maior que a população de 350 dos 497 municípios gaúchos e alerta que podem morrer mais de 200 pessoas por dia em março ou 6 mil no mês de março, o que representaria metade das pessoas que morreram ao longo dos últimos 12 meses. “O número de recuperados está caindo desde dezembro. Não sabemos explicar o que está acontecendo. Que vírus é esse?”, diz a secretária de Saúde.

Já o governador Eduardo Leite demonstrou estar preocupado com a situação, de acordo com ele, sem precedentes. “Vemos que a inclinação dos leitos clínicos não dá trégua, desde o dia 10 de fevereiro tem um crescimento muito forte na ocupação dos leitos clínicos e de UTI. Por isso que é tão importante que nós nos alinhemos em medidas mais restritivas agora. Nós precisamos dos prefeitos agora. Não dá para pagar para ver o que vai acontecer a partir das medidas que adotamos esta semana. Elas foram importantes, sem dúvida nenhuma, mas nós precisamos avançar na direção de uma efetiva conscientização coletiva, de que não estamos dentro da normalidade. Para dar este golpe, na taxa de contágio, precisaremos ser mais restritivos desde já”, explicou o governador. Além disso, ele afirmou que a situação crítica nos hospitais não significa que vidas serão salvas. “Existir leito não é mais garantia de não perder a vida, pois 60% dos que chegam lá, morrem. O que realmente ajuda a salvar vidas é evitar que o vírus circule, e precisamos de cada um”, reforça.

Reunião apresentou cenário aos prefeitos

Às 14h, o governador teve reunião com os representantes das associações de municípios, como o prefeito de Campo Bom e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Sinos (Amvars), Luciano Orsi, e o prefeito de Parobé e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Paranhana (Ampara), Diego Picucha, assim como o presidente da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Maneco Hassen. No encontro, o chefe do executivo gaúcho, juntamente com seu vice, Ranolfo Vieira, e a secretária de saúde do estado, Arita Bergmann, apresentaram a situação crítica da saúde no estado.

O técnico do Departamento Estadual de Economia e Estatística (DEE), Bruno Paim, apresentou os dados de crescimento de internações e contaminações. Nos dois picos de casos e hospitalizações registrados em 2020, em agosto e novembro, o total de confirmados diariamente nos leitos clínicos e de UTI não ultrapassou os 70. Neste momento, o nível está em 246 internações de casos confirmados por dia no estado. Além disso, no ano passado, foram mais de 40 dias até que se chegasse no índice de internações. Agora, o crescimento ocorreu em apenas 18 dias. Segundo as informações apresentadas, a taxa atual de crescimento nos leitos clínicos é quase 4 vezes superior à média dos ciclos anteriores, e nas UTIs é de 3,2 vezes maior. “Esta elevada taxa de crescimento ocorre sobre o nível mais alto de internados em leitos clínicos e em UTI”, explica. No momento, o Rio Grande do Sul registra a maior ocupação de leitos de UTI desde o início da pandemia. São 2.470 pacientes para 2.703 leitos, o que indica uma taxa de 91,4% em todo o território gaúcho. Além disso, os leitos de UTI de hospitais privados de todo o estado estão ocupados (são 754 pacientes para 741 leitos existentes, uma taxa de ocupação de 101,8%). Na região Covid de Novo Hamburgo, a ocupação é de 108%, e na de Taquara, 90,5%.

• UTIs de Sapiranga e Campo Bom chegam a 92,5% de ocupação

O que disseram os prefeitos da região

Diego Picucha, prefeito de Parobé e presidente da Ampara

“Continuamos com o entendimento, mesmo tendo em vista todo o contexto que o governador e a secretária de saúde colocaram, com a preocupação que temos, acho que nesse momento (o governador) está tomando a decisão errada. O governador fala de botar na conta dele ou dos prefeitos, mas o problema é a conta dos comerciantes, que trabalha seguindo os protocolos. É o segundo segmento que mais emprega, vamos chegar num caos econômico. Vamos ter recurso para pagar UTIs, mas não para pagar os médicos. O problema é quem aglomera, quem faz festa com os amigos. Tirar a cogestão vai fazer muito mal para a nossa região. Entendemos o momento, nos preocupamos em primeiro lugar com a saúde do nosso povo.”

 

Luciano Orsi, prefeito de Campo Bom e presidente da Amvars

“Entendemos, sim, a dificuldade do momento. Já discutimos sobre isso na última segunda com o governador e grupo de prefeitos, quando acertamos algumas medidas que acredito bastante corretas, principalmente em relação às restrições à noite, que foi uma medida muito acertada, que estamos mantendo e está se trabalhando firme. Essa parceria entre os municípios e órgãos de segurança está ocorrendo há mais de um ano, somos parceiros, e agora temos um plano mais organizado. Fomos o primeiro caso no RS e desde aquele momento tivemos medidas duras e necessárias. Precisamos de uma conscientização maior da população, respeito principalmente dos jovens, que devem evitar festas, raves, bailes, e para isso precisamos de restrições muito maiores do que para algumas atividades econômicas. Me coloco a disposição para discutir alguns protocolos para restrição das atividades. Precisa ser cobrado também, do governo federal, uma maior vacinação. Só a vacinação vai ser nossa saída a médio prazo. Sabemos que temos um problema a curto prazo, que se agravou nos últimos dias, sabemos que o governo do estado tem a secretaria da Saúde e os dados, que são pessoas muito competentes e que devemos levar em consideração.”