Após um mês, mais de 4 mil vacinas contra Covid-19 foram aplicadas nas cidades da região

Foto: Fernando Bertotto

Região – Quase um mês se passou desde a primeira vacina aplicada na região, que ocorreu em Sapiranga, na tarde do dia 19 de janeiro. De lá para cá, as cidades de cobertura do Grupo Repercussão no Vale do Sinos registram 4.168 doses do imunizante aplicadas, e 6.126 vacinas recebidas, segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde (SES/RS).

Das 208 doses aplicadas em Araricá, 124 correspondem aos profissionais de saúde imunizados (101 na 1ª dose e 23 na 2ª), 54 às Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), sendo 28 a primeira aplicação e 26 a segunda, e outras 30 pessoas com 65 anos ou mais, não institucionalizadas, que foram imunizadas.

Em Nova Hartz, foram 367 pessoas imunizadas até agora, sendo que todas receberam somente a primeira dose da vacina: são 272 profissionais da saúde e 95 idosos com 65 anos ou mais.

Campo Bom já aplicou 73% das vacinas que recebeu, sendo que, das 1.668 doses ministradas, 1.331 foram em profissionais da saúde, 72 em ILPI, três em pessoas entre 70 e 74 anos não institucionalizadas e 262 em idosos com mais de 80 anos.

Já Sapiranga, o município que mais recebeu doses até o momento entre os quatro, tem 70% do estoque de vacinas utilizado. Foram 1.134 profissionais da saúde, 163 em ILPI, 16 em idosos entre 65 e 79 anos, e 612 pessoas com mais de 80 anos não institucionalizadas.

Vacinas pela região

Município Aplicadas Recebidas
Araricá 208 554
Campo Bom 1.668 2.272
Nova Hartz 367 558
Sapiranga 1.925 2.742
Total 4.168 6.126
Fonte: Secretaria Estadual de Saúde (SES/RS)

Cronograma da Saúde

Em Sapiranga, a pessoa mais idosa a receber a vacina foi uma senhora de 105 anos, que recebeu sua dose de imunização no Drive Thru ocorrido em 11 de fevereiro de 2021. Segundo a Secretaria de Saúde do município, a vacinação está sendo feita conforme o recebimento das doses. Atualmente, estão sendo vacinados os profissionais de saúde, agentes funerários, farmacêuticos e atendentes de farmácia. O setor conta com três profissionais para aplicação das vacinas. “Quanto ao recebimento de mais doses, infelizmente não temos previsão, uma vez que não é disponibilizado calendário prévio com essa informação. O envio da vacina é fracionado e a Secretaria de Saúde é informada do recebimento, assim como do quantitativo e do público ao qual aquelas doses se destinará 24 horas antes da retirada”, explicou a secretária Janete Hess.

“Seria muito importante que a logística de distribuição das doses fosse revista”, diz virologista

A Doutora em Ciências Farmacêuticas e coordenadora do mestrado em Virologia da Universidade Feevale, Juliane Fleck, observa um ritmo ainda lento da vacinação.

“A gente observa que há um ritmo bastante diferente entre as cidades, e que algumas parecem estar ou justificam um ritmo mais lento para estarem guardando parte da dose recebida para a aplicação da segunda dose. Mas realmente seria importante que a gente tivesse uma maior velocidade na vacinação, de uma maneira geral, para que a gente pudesse realmente conseguir ter uma maior segurança para a maior flexibilização das atividades. Especialmente considerando agora as novas variantes que estão circulando no RS, e as transmissibilidade das novas cepas. Além disso, a gente sabe que, sim, existe o risco de nós também termos que suspender a vacinação em função das doses. Seria muito importante que fosse revista a logística de distribuição das doses, em nível nacional. Sempre fomos considerados um país exemplos de campanhas de vacinação e logística de distribuição e aplicação de vacinas, mas isso não está ocorrendo com as vacinas contra Covid-19. O plano nacional de vacinação prevê um tempo muito longo para a vacinação da população, e isso não é adequado, considerando que muito provavelmente sejam necessárias revacinações e atualizações das vacinas. Realmente, o ritmo é muito lento. É urgente que se reveja essa logística.”

Jornal Repercussão: Quais os cuidados que as pessoas já vacinadas precisam manter?

Juliane Fleck: Já está bem estabelecido que o sistema imune vai levar um tempo até produzir uma imunidade efetiva, após aplicação da vacina. Então todas as pessoas que forem vacinadas ainda devem manter os cuidados de prevenção da disseminação do coronavírus, como uso de máscara, evitar aglomerações, lavar as mãos e usar álcool em gel, evitar entrar em casa com sapatos e roupas que se veio da rua, evitar levar as mãos aos olhos e boca, enfim. Quem contrai sintomas mesmo após a vacinação é justamente porque não houve tempo hábil para que o sistema imune tenha produzido a imunidade.

Algumas vacinas ainda destacam que, mesmo vacinadas, as pessoas podem acabar contraindo, se infectando, mas a vacina vai evitar a progressão negativa da doença, para casos mais graves. Além disso, sabemos que existem também diferentes variantes e linhagens do vírus circulando, e não se sabe exatamente qual o papel de proteção, ou qual a efetividade da proteção induzida pelas vacinas que já estão aprovadas, frente a essas novas linhagens. Gostaria de destacar que, mesmo que ainda em estudos a questão da efetividade das vacinas frente às novas linhagens e variantes, a vacinação é fundamental para evitar que a gente tenha o surgimento de outras mutações, que gerem então novas variantes e linhagens. A vacinação em massa é muito importante.

Ainda está em estudo se quem já foi vacinado ainda pode disseminar o vírus, qual o impacto das vacinas na excreção viral, mas tudo indica que exista uma diminuição nessa excreção, e aí temos uma diminuição do potencial de disseminação. Os estudos ainda estão em andamento, então não é possível garantir uma taxa de disseminação, nem afirmar que a pessoa vacinada não vá contaminar outros indivíduos.

JR: O que é preciso para retomarmos a uma “normalidade”?

JF:  Pelo o que temos aprendido sobre o Sars-CoV-2 durante 2020, para que tenhamos um retorno mais seguro à plenitude das atividades, precisaríamos de aproximadamente 70% da população vacinada. No entanto, percentuais um pouco menores já parecem ter resultados interessantes, do ponto de vista de diminuição das taxas de internação, como tem se observado com a experiência de Israel, que, quando atingiram cerca de 40% da população vacinada, já perceberam um impacto na diminuição nas taxas de internação. É bastante importante que a gente tenha uma adequação na logística e na velocidade de vacinação para que atinjamos esses percentuais o mais breve possível.

JR: O que é preciso para retomarmos a uma “normalidade”?

JF:  Foram elencados como prioridade os idosos e profissionais de saúde justamente porque, o segundo grupo, atua na linha de frente e têm uma exposição maior, e porque a presença deles na assistência saúde é fundamental, então quando se infectam, se afastam do trabalho, e isso impacta na assistência à população. E em relação aos idosos, a prioridade se dá em função da gravidade da doença associada ao grupo. Muitas vezes, os idosos acabam necessitando de internação, em quadros que podem evoluir para casos mais graves, com a necessidade de internação em UTI, entubação, enfim. Então, em função da maior frequência de casos graves na população idosa, se priorizou esses indivíduos.

JR: No seu entendimento, acredita que haverá vacina disponível de forma privada a curto prazo, enquanto não há uma grande parcela da população imunizada? Quais seriam as implicações disso ocorrer?

JF:  Sobre a disponibilização de vacinas de forma privada a curto prazo, no meu ponto de vista isso é um dever do estado. É fundamental que o Estado disponibiliza a maior quantidade de vacinas à população. Acho que sim, há uma tendência que haja a disponibilidade de forma privada, mas reafirmo que é um dever do país. Entendo que poderia ser feita uma parceria entre Estado e empresas, tentando contribuir para ampliar a parcela da população imunizada, e auxiliar o SUS na vacinação.