Molling é citado na Operação Lava–Jato

Escândalo na Petrobras | Lista com 6 deputados do Partido Progressista (PP) gaúcho traz nome de Renato. Ex-prefeito de Sapiranga revela que não conhece e nunca viu o delator do esquema, Alberto Youssef

O escândalo de corrupção na Petrobras reflete diretamente na política do Vale do Sinos. Com a citação do nome do deputado federal e ex-prefeito de Sapiranga, Renato Molling (PP), a desconfiança sobre a lisura do trabalho do deputado é posta em cheque.
Por ser parlamentar, compete ao Supremo Tribunal Federal (STF) abrir um inquérito e investigar o susposto envolvimento de Renato Molling e outros 34 políticos (22 deles deputados) no esquema de desvio de recursos. Os procedimentos que serão adotados (e solicitados pelo ministro do STF, Teori Zavascki),  não foram divulgados para não atrapalhar as apurações.
Em investigações criminais, os procuradores pedem que a Polícia Federal (PF)abra inquérito para averiguar os indícios de autoria, além da quebra de sigilo fiscal e telefônico dos envolvidos.  Molling disse que irá contribuir com a investigação e é um dos principais interessados em esclarecer a citação. Os acusados também podem ser chamados para serem ouvidos pelos delegados. A PF tem prazo de 30 dias para concluir o inquérito, que pode ser prorrogado por igual período.
A polícia diz que o grupo responsável pela investigação é  integrado por servidores com experiência no combate à lavagem de dinheiro, desvio de verbas públicas e crimes financeiros.
Para entender o que é a Operação Lava-Jato
O que é a Operação Lava Jato?
É uma investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal a respeito de uma organização criminosa formada por políticos, funcionários públicos, executivos de empreiteiras e doleiros. As empreiteiras distribuíam entre si contratos com órgãos públicos, em especial a Petrobras, mediante o pagamento de propina e desvio de dinheiro público, que era repassado a partidos políticos.
Como funcionava o esquema das empreiteiras?
De acordo com o MPF, as empreiteiras reuniam-se e decidiam previamente quem executaria cada uma das obras oferecidas pelo poder público. Ao valor da oferta apresentada nas licitações era acrescentado um determinado percentual, desviado para funcionários públicos e partidos políticos. Essa verba era repassada pelas empreiteiras à quadrilha por meio de empresas de “consultoria” ligadas aos integrantes do esquema, “lavando” o dinheiro.
E a parte dos políticos, como funcionava?
Baseado nos depoimentos, o MPF afirmou que os agentes políticos responsáveis pela indicação de Paulo Roberto Costa para Diretoria de Abastecimento da Petrobras recebiam, mensalmente, um percentual do valor de cada contrato firmado pela diretoria. Outra parte era destinada a integrantes do PT responsáveis pela indicação de Renato Duque para Diretoria de Serviços. Era essa diretoria que indicava a empreiteira a ser contratada, após o concerto entre as empresas no âmbito do cartel. De 2004 a 2011, eram os integrantes do PP quem davam sustentação à indicação de Paulo Roberto, e, a partir de meados de 2011, os integrantes do PMDB responsáveis pela indicação do diretor da área internacional da estatal passaram a apoiar o nome de Paulo Roberto para o cargo de diretor. Daí porque também passaram a receber uma fatia da propina.
Qual é o futuro da Lava Jato?
Os processos e investigações referentes à Lava Jato seguirão em duas mesas distintas. Enquanto o juiz federal Sergio Moro continua com suas investigações em Curitiba, a fim de provar o esquema criminoso envolvendo as empreiteiras, doleiros e empresas públicas, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, debruça-se sobre as provas para, perante o STF, conduzir a investigação dos detentores de foro privilegiado, os políticos.
Como será realizada a investigação dos políticos?
Nesta semana, Janot entregou ao STF os pedidos de abertura de inquérito contra os políticos envolvidos no esquema. A intenção do PGR é coletar mais provas além das já recolhidas pela PF e pelo MPF para fazer denúncias bem embasadas, que dificultem a derrubada das ações durante a tramitação. O responsável por analisar os pedidos de inquérito foi o ministro Teori Zavascki. Os pedidos aceitos por ele foram encaminhados ao MPF e à PF, que ampliarão as investigações. Com base nas novas evidências, Janot decide se apresenta ou não as denúncias contra políticos. Novamente, Zavascki vai decidir se aceita as denúncias, transformando os acusados em réus.
Confira a entrevista com o deputado Renato Molling
Jornal Repercussão – De sexta-feira (6) até a segunda (9), o que o senhor conseguiu apurar desta citação na Operação Lava-Jato?
Renato Moling – Apenas que existe uma declaração do Alberto Youssef, colocando que todos os deputados da bancada do Partido Progressista (PP) receberam dinheiro.
Jornal Repercussão – O depoimento diz que o senhor recebia de 30 a 150 mil reais mensais?
Renato Molling – Essa é a declaração dele. Não sei de que maneira ele tem o meu nome, não conheço ele, nunca passei perto dele. Nunca o vi. Acredito que isso foi orquestrado para envolver todo mundo do partido e minimizar quem realmente está envolvido. Sabemos que tem meia dúzia do partido envolvidos, mas eles tentam repartir. Eu não coloco minha mão no fogo por ninguém. Acho que dentro dos citados (que são 30), mais de 20 não possuem envolvimento algum.
Jornal Repercussão – Como o deputado avalia o envolvimento de toda a bancada gaúcha do PP nesta citação de Alberto Youssef?
Renato Molling – Acho que é para tentar colocar o foco em alguém. Tem partidos que estão muito envolvidos e querem tirar o foco. Quanto mais deputados de um mesmo partido forem envolvidos, mais a culpa recai sobre aquele partido. Fica difícil até de trabalhar. Espero que esta operação sirva de exemplo para que possamos melhorar nosso país. 
Jornal Repercussão – A bancada gaúcha do PP sempre se mostrou muito opositora e contundente. Acredita que isso pode ter relação?
Renato Molling – Alguém tem que levar a culpa. Penso que isso é orquestrado. Aí colocaram todo mundo junto para criar uma situação.
Jornal Repercussão – Quem acompanha política sabe que o senhor circula também dentro do governo. Isso fica confuso e contraditório para o eleitor. Como explicar isso?
Renato Molling – Sinto que não adianta fazer oposição radical por fazer. Voto conforme minha consciência. Claro que vou ser castigado em algumas situações. Porém, há outras votações e temas que voto a favor. Programas que são bons não adianta ficar 100% contra. Não quero estar lá como deputado e nem ser recebido por ninguém, sem poder levar um pedido da região para o governo. Fazer uma oposição radical inviabilizaria o mandato. É necessário ter um ambiente mínimo de acesso aos ministérios. Procuro manter uma visão crítica para tentar ajudar e construir junto. Nosso estado quer um deputado que seja crítico total, mas que depois, conquiste recursos para os municípios. Nos ministérios, as pessoas me respeitam porque não faço uma oposição radical. Faço uma oposição construtiva para ajudar o setor produtivo.
Jornal Repercussão – Uma nova CPI foi aberta na Câmara dos Deputados. Como fica o relacionamento, que já não estava bom no Congresso? Como o senhor vai se comportar?
Renato Molling – O grande problema hoje no Brasil não é o Legislativo. É o Executivo. É a ineficiência. A falta de seriedade. A promessa fácil levou o governo a gastar o que não tinha. Agora, querem que a Câmara faça as maldades. Esse governo quebrou o país. Mas, a culpa disso tudo é do Executivo, não do Legislativo. Quem vai acabar pagando por isso é o povo brasileiro devido a ineficiência do Poder Executivo. Foram muitas promessas só para ganhar a eleição.
Jornal Repercussão – E a CPI. Como o senhor vê isso?
Renato Molling – Posso ser chamado. Não tem problema nenhum. Quero que o meu processo ande. Se quiserem que eu abra meu sigilo telefônico e fiscal, eu abro. Tudo que for possível fazer para acelerar o processo, farei. Na verdade, não tenho processo contra mim. Vou ser investigado. Nem quero que se forme processo contra mim. Enquanto não arquivar este processo, estou sendo julgado. Podem me convocar a qualquer hora. Não quero trancar nada. Quero ver o processo andar rápido. Com certeza vou provar que não tenho nada a ver com a Lava-Jato.
Jornal Repercussão – O deputado possui muitos simpatizantes e correligionários. Eles entraram em contato com o senhor para prestar solidariedade neste momento?
Renato Molling – Muitas pessoas me ligam, da comunidade e lideranças políticas que sabem da minha história e do meu trabalho. Claro que tem alguns adversários que fazem festa…
Jornal Repercussão – Em Sapiranga, vários oposicionistas comemoraram via redes sociais o seu nome na lista…
Renato Molling – Quem fez esse tipo de coisa não tem moral nenhuma. Terão alguma moral para fazer isso quando eles fizerem 1% do que eu já fiz por Sapiranga. O PT pode ficar na cidade 50 anos que não vai fazer o que eu fiz em oito anos como prefeito. Tenho certeza absoluta. O que vem deles não me atinge. Recebi a solidariedade de muitas pessoas. A gente se sente confortável, mas quero mostrar que não tenho absolutamente nada a ver com isso.
Jornal Repercussão – Quem fará a sua defesa?
Renato Molling – Estamos vendo. Tive uma conversa na segunda-feira (10) com o partido e temos alguns nomes, mas ainda não temos nomes confirmados.
Jornal Repercussão – Acredita que este momento conturbado pode atrapalhar a reeleição do partido em Sapiranga em 2016?
Renato Molling – A administração vem melhorando, pouco a pouco. Acredito que falta um pouco de comunicação. Mas, nesses dois anos a prefeita Corinha fez muito mais do que a administração passada fez em seis anos. Deu sequência na Escola Técnica, que perderíamos. A UPA não saía do papel e conseguimos concluir a obra. A saúde é uma das mais elogiadas do Estado. O município gasta 5 milhões a mais que não é de sua responsabilidade. As pessoas ficam doentes e precisam de assistência. A gestão da prefeita Corinha Molling é um governo honestíssimo. Tenho certeza que até 2016, muitas coisas boas irão acontecer. O Partido Progressista estará preparado para ganhar a próxima eleição.
Jornal Repercussão – Existem muitas mudanças ocorrendo na equipe de secretários. Isso pode atrapalhar?
Renato Molling – Às vezes, as mudanças são importantes e necessárias. Às vezes tem que oxigenar. Acho que todos fizeram sua parte. São pessoas competentes que conhecem o funcionamento. Quem entrar vai acelerar e dar continuidade ao que os secretários estavam fazendo. A troca é sempre uma oxigenação. Se for necessário fazer outras mudanças, a prefeita tem que fazer.
Jornal Repercussão – Muito se fala da saída do PMDB do governo e o fim da aliança na cidade. Existe essa chance?
Renato Molling – Temos uma aliança forte. O PP sempre cumpriu com a palavra e essa é a nossa política. O que prometemos sempre cumprimos. Enquanto o PMDB quiser manter a aliança e o trabalho, tudo será mantido.
Jornal Repercussão – Pretende acionar o Alberto Youssef na Justiça?
Renato Molling – Acho que é um caminho. Vou me defender e vou arquivar o processo. Entrarei na justiça contra todos que estão fazendo esta acusação leviana. Com certeza vamos procurar reparação. Temos uma história de muito trabalho, com muito suor, passando necessidade. Por causa de uma citação, a gente vira manchete internacional. Alguém terá que pagar por isso.
Jornal Repercussão – O deputado Gerônimo Goergen disse que o PP acabou. Acredita que é por aí?
Renato Molling – Acredito que vai manchar. Temos que provar que não teve envolvimento nenhum. As coisas não terminaram. É um trabalho que vamos fazer e tenho certeza que uma grande parte não tem culpa. O PP no Rio Grande do Sul é um dos partidos mais corretos e eficientes. Nossos líderes administram bem os recursos e são corretos.
Jornal Repercussão – Pensa em abandonar a carreira política após isso?
Renato Molling – Não penso em abandonar a carreira política. Tenho que demonstrar que não tenho nada a ver com essa operação. Vou reconstruir o que estava fazendo. Fico chateado. Logo tudo será colocado nos eixos.