Um trauma que precisa de ajuda e acompanhamento

Investigação de crimes sexuais contra crianças tem sido prioridade na DP de Nova Hartz Foto: Melissa Costa

Nova Hartz – A prisão de um estuprador que atacou crianças da vizinhança gerou grande preocupação e revolta na cidade e região. Os crimes foram descobertos cinco anos depois, após denúncia das vítimas, que na época tinham entre oito e nove anos. No mesmo período, um irmão menor de idade foi apreendido e internado por estuprar a própria irmã por dois anos, dos seis aos nove anos.

 

Quando uma criança é vítima de estupro ela passa por um grande trauma. E, quando o crime ainda é praticado por pessoas da família, que deveriam protegê-la e não abusá-la, o cuidado com o psicológico da vítima precisa ainda ser mais intenso. A psicóloga Régia Waschburger explica o que ocorre com uma criança vítima de estupro. “Crianças pequenas abusadas sexualmente costumam não entender o que está acontecendo com elas, ficam sem saber como reagir e se devem fazê-lo, porque na maioria das vezes quem comete o abuso é alguém próximo a ela, o que a destrói emocionalmente”, disse ela, reforçando que todo abuso “ gera um trauma na criança. Lembrando que trauma é toda situação que ocorre quando o perigo se apresenta maior do que o indivíduo é capaz de enfrentar”.

 

Uma criança que sofreu abuso deve ser considerada em situação de risco e precisa apoio

As consequências do estupro são emocional dilacerado, autoimagem destruída e profunda dificuldade em estabelecer relações de respeito e confiança com as pessoas. “Entre outras coisas, elas podem apresentar irritabilidade ou introversão excessiva, transtornos do sono e alimentar”, explica Régia, ressaltando que quando o abuso sexual é cometido por meio do incesto, é bem mais profundo e traumático, “pois de forma mais intensa a criança é marcada pelo abandono e traição, uma vez que lhe foi negado o direito ao amor e a confiança”.

Psicóloga Régia

Infância com privação emocional

Quando a criança não apresenta sintomas observáveis, não quer dizer que não sofra ou que não vá sofrer efeitos. Uma criança que sofreu abuso sexual deve ser sempre considerada em situação de risco e, portanto, requer acompanhamento familiar e terapêutico. Para Régia, o abusador também precisa de acompanhamento. “Geralmente eles tiveram uma infância marcada por privações emocionais sérias (causada por morte materna, doenças graves ou abandono de um ou de ambos os pais) que precisam ser ressignificadas através da psicoterapia”. É possível, ainda, identificar traços de desvio de conduta e personalidade na infância de um abusador: “um interesse precoce sobre a sexualidade que pode ser expressado através de brincadeiras sexuais persistentes, exageradas e inadequadas. Ausência de empatia também é um traço que pode ser analisado”, diz a psicóloga.

Crime descoberto em hospital

No mês de setembro, um menor de 16 anos foi apreendido e, posteriormente, internado pelo estupro da própria irmã, de apenas oito anos. O crime foi descoberto no hospital, durante atendimento da vítima, que estava ferida. Familiares levaram a menina até atendimento médico no município pois ela se queixava de dores abdominais. A menor, então, foi encaminhada para o hospital em Canoas, onde foi confirmada que ela havia sido de estupro. Ao ser questionada por profissionais da área, a menina relatou o que vinha acontecendo dentro de casa. Conforme relatos e denúncia da Polícia Civil, os abusos ocorreram por cerca de dois anos, entre os seis e oito anos. Para os policiais civis, que abriram inquérito e investigaram o caso, o acusado confessou os crimes contra a irmã. A vítima seguiu em acompanhamento e o menor internado.

Os casos de violência sexual contra crianças, sejam meninos ou meninas, tem preocupado no município. Atualmente, a investigação sobre estes crimes sexuais contra menores tem sido prioridade na Delegacia de Polícia de Nova Hartz. Desde o ano passado, uma série de casos já foram concluídos.

Qualquer pessoa pode denunciar um crime sexual, seja familiar, vizinho ou até mesmo a própria vítima. Basta ligar para o (51) 3565-1382. “Tudo que dor denunciado, será investigado”, garante a Polícia Civil.