Trabalho de seis anos derruba os índices de homicídios e coloca DP de Sapiranga no topo das prisões

Sapiranga – Quando ele aceitou assumir a Delegacia de Sapiranga, a situação não era nada favorável. Pelo contrário, Sapiranga viveu um período crítico, de insegurança, com altos índices de criminalidade e com uma série de crimes graves oriundos de facção criminosa. Pouco antes de se tornar delegado responsavél pela DP sapiranguense, em janeiro de 2015, as manchetes de jornais sangravam, sendo que somente em 2014, a cidade registrou 28 homicídios. “Aceitei o desafio, pois sou morador da cidade desde 1996. Só me afastei quando passei no concurso, mas sempre mantive vínculos. O quadro era bastante difícil, em todos os aspectos. 2014 tinha sido um ano bastante violento, principalmente na questão de homicídios. A dificuldade era tanto física, quanto de pessoal; era difícil de ser revertida. Precisamos trabalhar bastante para que isso fosse alterado”.
O primeiro ano de atuação foi praticamente para formação e adaptação da equipe. “Vários saíram, outras chegaram. Foi um período que buscamos implantar o método de trabalho que a gente acredita ser o melhor. E, enfim, o primeiro ano foi complicado. Embora o índice de homicídio tenha caído um pouco, para 20”. A partir de 2016, os resultados começaram a aparecer. “Nosso método consiste em dar maior ênfase na investigação criminal. Ela é o principal negócio da Polícia Civil, negócio quero deixar claro no sentido de ser o nosso principal mote, a Polícia Civil existe para investigar, essa é a nossa razão de existir”.

Do crime contra vida ao tráfico e roubos

Delegado Fernando Branco tem uma década de atuação na profissão (Foto: Melissa Costa)

Para conseguir reverter os índices, o delegado investiu forte contra a criminalidade, com ênfase na desarticulação de facção criminosa, que motivava a maioria das execuções, assim como priorizou a investigação de outros delitos, como roubos e, não deixando passar impune os a acusados de crimes sexuais. Prova dessa forte atuação é também o ranking de prisões: há cinco anos consecutivos, a Polícia Civil lidera as prisões entre todas as delegacias da região. São quase 800 presos em cinco anos. “Precisaria de um número superior, mas tenho que agradecer minha equipe. É a melhor que já tive em Sapiranga. As pessoas que estão hoje aqui, não estavam quando cheguei, elas foram se somando conforme os anos foram passando. Mas agradeço, são pessoas extremamente comprometidas com a polícia, comunidade e com seu trabalho; elas entregam um trabalho excepcional”. Sobre os homicídios, Branco pontua que as motivações mudaram nestes cinco anos. “Hoje, temos mais homicídios passionais e estes, como segurança pública, não conseguimos evitar. São crimes familiares e de convivência. O que podemos fazer é reprimir, prender os responsáveis para que respondam pelos seus atos”.

“As vítimas são sagradas para nós e toda equipe atua de forma jurídica”, diz Medeiros

Carlos Medeiros é o chefe da investigação e faz parte da equipe de Branco desde 2015 (Foto: Melissa Costa)

O chefe da investigação, Carlos Medeiros, passou a integrar a equipe em dezembro de 2015. Desde então, ele ressalta que o trabalho é feito de uma forma diferenciada, com ênfase à parte técnica e jurídica. “Na nossa equipe, não basta ser somente bom polícia, mas também é necessário ser um bom jurista. O inquérito, que antes que era feito de forma mais simples, passou a ser feito com preocupação maior. Não dividimos a equipe por função apenas, todos atuam nas ocorrências e se envolvem com ela do começo ao fim. Cada um trabalha no que tem de melhor, o que tem mais aptidão, mas toda equipe trabalha. Isso tornou o resultado mais efetivo e rápido. Todos fazendo parte da ação, todos se apaixonam e dão o melhor de si”, disse ele, citando que mesmo a equipe sendo reduzida, a delegacia conta com equipamentos modernos. Medeiros enfatiza a presença constante dos agentes nos homicídios, que agiliza a resolução dos mesmos, assim como o tratamento humano com as pessoas. “As vítimas são sagradas para nós e tratamos todas bem; é nossa função”.

Dor ainda latente e saudade imensa, um crime que chocou a região

Foram sete dias em que os sentimentos se misturavam. Em uma semana, eles lidaram com a situação mais difícil de suas vidas: o desaparecimento da filha Gabriele Wilbert, de 23 anos, e a descoberta, da forma mais cruel, do seu assassinato. “Perdemos tanto naquela semana que ainda é difícil descrever. Foram dias terríveis, mas desde o primeiro dia, sabia que algo ruim tinha acontecido”, relembra a mãe Leopoldina Wilbert.
A família de Araricá, em todo este período, esteve diariamente ao lado da equipe da Polícia Civil de Sapiranga, que investigou e elucidou o caso. Gabriele desapareceu na sexta-feira, dia 15 de maio, e seu corpo foi localizado enterrado na madrugada da sexta-feira para sábado seguinte, na Prainha Dourada, em uma área de vegetação nativa, em Sapiranga. O acusado e réu confesso pelo crime, Marlon Eduardo Parnoff Machado, 25 anos, matou Gabriele com um tiro na sexta-feira, dia 15, e após, enterrou o corpo da jovem. Logo que iniciou a investigação do desaparecimento, com auxílio de depoimentos e câmeras de segurança, os policiais conseguiram chegar ao nome de Marlon, que se identificava como ex-namorado de Gabriele. No entanto, a família diz que não o conhecia. “Nunca vimos ele. Ela também nunca nos falou dele. E a Gabriele sempre nos contava tudo da vida dela. Ela estava tão feliz, cheia de planos, construindo sua casa, estudando, fazendo planos de vida. Não entendemos porque alguém faz uma coisa dessas!”, desabafou a mãe.

“Queremos que a justiça seja feita”
Sobre a atuação da Polícia Civil, o pai Paulo Wilbert reitera que será eternamente agradecido por todo esforço da equipe em ter feito o melhor trabalho possível. “Tudo que eles nos prometeram, eles cumpriram. Eles trouxeram o corpo da minha filha, nos permitiram a despedida dela. É triste demais, sim! Mas por mais dolorido, sabemos o que aconteceu. Tivemos nosso momento para dar adeus a ela. Eles (policiais civis) não tinham como salvar ela. Sabemos que se houvesse a possibilidade disso acontecer, eles teriam feito”, disse o pai, com olhar cabisbaixo. Paulo conta que diariamente assistia reportagens de crimes bárbaros na televisão e “isso já nos chocava, mas a gente nunca pensa que pode acontecer com a nossa família. É duro, é difícil”. Ainda tentando superar a dor da perda precoce e de forma tão cruel, assim como lidar com a saudade diária da filha, Paulo diz que espera que a Justiça seja feita. “Nada trará nossa filha de volta. Mas queremos que ele fique preso o mais tempo possível e pegue a pena mais alta; queremos que a justiça seja feita”.

 

“Fizemos especialmente no segundo ano, uma operação grande, que reflete até hoje. O principal grupo de tráfico foi desarticulado. Isso não significa que o crime não se rearticula. Depois disso, voltamos e enfrentamos esse mesmo grupo, já o desarticulamos mais duas vezes pelo menos, mas essa é nossa sina. Se tiver que prender de novo, eu prendo. Não é problema para mim!” – Delegado Fernando Branco

Quadros estampam manchetes e reportagens ao longo dos últimos anos na delegacia de Sapiranga (Foto: Melissa Costa)