Marca histórica: Sapiranga está sem registrar homicídio há seis meses

Delegado Fernando Branco assumiu está à frente da DP sapiranguense desde janeiro de 2015 (Foto: Melissa Costa)

Sapiranga – O trabalho desempenhado na polícia, em determinadas situações, não se tem o resultado imediato. Os frutos são colhidos após intensa dedicação. Mais do que elucidar crime e prender assassinos, assaltantes e demais acusados de ações ilícitas, quando assumiu a Delegacia de Polícia de Sapiranga, o delegado Fernando Pires Branco tinha uma missão maior: conseguir reduzir as estatísticas, que sangravam e estavam no ápice da violência. Ele assumiu a DP sapiranguense em janeiro de 2015 e, no ano anterior, a cidade havia registrado 28 homicídios. Hoje, cinco anos e meio depois, o cenário é o oposto. Pela primeira vez na história recente, a cidade completa mais de seis meses sem assassinatos. Também não houve registros em Nova Hartz e Araricá, municípios em que também são de abrangência de atuação da delegacia de Sapiranga. A queda nos crimes contra a vida foram ocorrendo de forma gradativa e como resultado de um trabalho direcionado do delegado Branco e da sua equipe, que também foi totalmente reformulada.

Além da diminuição das mortes violentas, Branco tem mantido uma taxa superior a 90% de elucidação, com identificação e prisão dos acusados. “Já havia atingido uma outra marca, um período de cinco meses em homicídios, mas nunca chegamos a mais de meio ano”, comenta o delegado. Para conseguir a tão projetada queda nos índices de assassinatos, Branco pontua que a estratégia foi o trabalho focado em responsabilizar os culpados. “Temos que reprimir. Repressão, investigação e punição dos culpados sempre que acontece um homicídio é a principal estratégia que se pode adotar para reduzir os índices. Porque essas pessoas têm que ser presas, têm que responder pelo que fizeram. Quando reiteradamente os envolvidos neste tipo de crime são presos, passa a mensagem que este tipo de crime não compensa e que não vai passar em branco. Essa é a ideia que a gente tenta implantar. Sempre investigar, sempre punir os responsáveis”.

“A nossa estratégia de sempre e que vamos sempre ter é a mesma: a gente tem de reprimir. Repressão, investigação e punição dos culpados sempre que acontece um homicídio é a principal estratégia que se pode adotar para reduzir os índices. Porque essas pessoas têm que ser presas, têm que responder pelo que fizeram”,
Delegado Fernando Pires Branco

ENTREVISTA

“Pela gravidade, precisa de repressão imediata”

Jornal Repercussão: Como era a situação quando você assumiu?
Delegado Branco: O ano anterior a minha chegada, tinha sido o mais violento da história recente, pelo menos, com 28 mortes. Os índices, nos anos seguintes, foram caindo e numa tendência de baixa. Este ano, por enquanto, não tivemos nenhum e estamos no meio do ano. Quando assumimos a taxa de elucidação não era muito alta, havia bastante coisa para investigar; hoje em dia, nossa taxa passa de 90%.
Na época, as principais motivações eram o tráfico de drogas e desavenças relacionadas ao tráfico. Também teve, além dos homicídios, alguns latrocínios. Maioria dos homicídios era de perfil, com características de execução, naquele estilo tradicional (com muitos disparos de arma de fogo).

JR: Como está a realidade atual, qual é o perfil destes crimes?
Branco: Tem muitos casos que, independente do que façamos, nunca vão poder ser prevenidos, por exemplo, o crime passional, que são a maioria hoje. Não temos como impedir que aconteça. Por mais trabalho de conscientização e repressão que se faça, nunca vai terminar. Mas logo, essa estatística ocorre por várias razões, entre elas, as que citei, além da repressão, estratégia e combate, temos um pouco de sorte, não podemos negar isso. Mas, reduziu sensivelmente a ação violenta das facções e isso é resultado do trabalho efetuado ao longo dos últimos anos.

JR: Um dos destaques da atuação em Sapiranga é por muitas vezes obter a rápida elucidação. Qual é o diferencial para isso?
Branco: Isso é um método de trabalho que acreditamos e implantamos ao longo dos anos. Isso porque um homicídio, o quanto mais cedo ele é investigado e apurado, mais fácil fica de esclarecer. A investigação precisa ser rápida para facilitar nosso trabalho. Comparecemos aos locais e tentamos dar atenção imediata para esse tipo de crime, porque a gente precisa, pela gravidade, precisa de repressão imediata. Por isso, conseguimos obter uma taxa de elucidação acima de 90%.

Investigação agindo rapidamente

Assassinato do tenente Contreia, em outubro de 2020, mobilizou agentes
(Foto: Melissa Costa/Arquivo JR)

Mesmo com redução nas estatísticas, o ano de 2020 foi marcado por investigações intensas e que exigiram dias e madrugadas por buscas de informações. Um dos crimes em que a Polícia Civil conseguiu dar resposta quase de imediato, foi no assassinato do tenente Contreira, em outubro. Assassinado em um local ermo, os agentes, coordenados por Branco, desvendaram a autoria e co-autoria, do enteado e da viúva, respectivamente. O desaparecimento da jovem Gabriele Wilbert, de Araricá, que culminou, em apenas em uma semana, com a localização do seu corpo e prisão do acusado, também esteve entre os casos mais difíceis e de atuação rigorosa da equipe. No último homicídio do ano, de Natalino Gaspar da Silva, 54 anos, morto em um bar de Araricá na véspera do Natal, seu carro foi incendiado em Taquara e o corpo enterrado em Araricá. Os policiais identificaram e prenderam quatro acusados e localizaram a cova com o corpo em dois meses de atuação.

 

MESMO COM PANDEMIA, ATUAÇÃO SEGUE FORTE

A pandemia da Covid-19 alterou a rotina do mundo inteiro, no entanto, muitos trabalhos tiveram que continuar, como é o caso da Delegacia de Polícia de Sapiranga. O trabalho sofreu alterações, mas seguiu acontecendo. Os agentes continuaram trabalhando focados na identificação e prisão de criminosos e somente pararam quando infectados. “De alguma forma prejudicou a questão funcional, muitos servidores se afastaram porque contraíram a doença. Algumas diligências também ficaram comprometidas pela questão de afastamento social, mas nosso trabalho continuou basicamente normal. Todos trabalhando, salvo afastamento por motivo da doença. Do nosso trabalho, seguimos atuando. Obviamente, acho que vai ter uma queda nas prisões, pois durante a pandemia houve mudança no perfil nos crimes; as ações violentas, todas diminuíram. Aumentou muito, muito mesmo, os crimes virtuais, golpes através da internet, numa quantidade enorme”.
Sobre as prisões, desde que o delegado reestruturou a equipe, também tem liderado o ranking, sendo a delegacia que mais prende na região. No semestre passado, a Delegacia de Polícia de Sapiranga liderou pelo quinto ano consecutivo o ranking da região, com o total de 131 prisões. O ano com maior índice de prisões ocorreu em 2016, totalizando 181, seguido de 2018, com 177 acusados atrás das grades.

ESTATÍSTICA DE CRIMES

2014                                           28

2015                                          20

2016                                          18

2017                                          20

2018                                          6

2019                                          6

2020                                        11

2021                                        0*

Até o dia 16 de junho.