“Eu só pedia para não morrer”, diz garota baleada que ficou paraplégica

Garota sente muitas dores e mantém viva a esperança da reabilitação (Foto: Claudia Silva)

Sapiranga – Deitada na cama improvisada em um novo espaço da casa, a jovem baleada durante uma briga generalizada, disparo que lhe tirou os movimentos das pernas, conversou com a redação do Repercussão. Ela contou detalhes do ocorrido, o sentimento pelo qual passa e como se vê no futuro.

A briga que resultou na lesão grave da garota ocorreu na madrugada do dia 12 de fevereiro em meio a uma briga em frente de um clube social no bairro Centenário. A menina apenas passava de carro pelo local, na companhia do namorado e de um amigo, quando foi atingida por um disparo nas costas.

Ela, que tinha 17 anos no dia que foi baleada (completou 18 anos no HPS em Canoas), relata que passava na frente de um clube social na rua Kraemer-Eck quando foi surpreendida pela bagunça na rua. O veículo Corsa, dirigido pelo namorado da garota, atingiu uma motociclista e, neste instante, um grupo que espancava um rapaz correu em direção ao carro. “Estava sentada atrás… Passamos na frente da festa, onde estava dando essa briga. Consegui ver a hora que o guri pegou a arma e atirou. Não tinha visto o vidro do carro quebrado, mas senti que a bala atingiu o carro e atravessou o banco, e pegou em mim. Coloquei as mãos na perna, caí para trás no banco, e não sentia mais as pernas; adormeceu tudo. Daí falei: levei um tiro”, relembrou.

O amigo que estava na carona (na frente) saiu correndo, sem saber o que fazer. “Meu namorado começou a acelerar; eles (grupo) não queriam sair da frente. Ele ficou nervoso e corremos para a UPA. Me colocaram na maca, logo chegaram dois policiais… Fiquei consciente todo o tempo. Na hora não tinha dor, só não sentia as pernas”.

Após o primeiro atendimento, a jovem foi levada para o Hospital Sapiranga e, na sequência, para o Hospital de Pronto Socorro (HPS), de Canoas. Lá, passou por cirurgia e ficou internada por quase um mês. Quando acordou, ficou sabendo que estava paraplégica. ” Me falaram no dia seguinte à cirurgia. Mas eu estava tranquila, pois sabia que tinha levado o tiro; eu só pedia para não morrer. Como eu não mexia as pernas, mas estava viva, estava tranquila. Daí me falaram que levaria um tempo para andar, se voltasse a andar ainda. A bala está alojada no pulmão, mas os médicos dizem que isso não é problema. Quebraram dois ossinhos da coluna”.

“Nada justifica”

Sobre o ocorrido, a jovem diz não estar revoltada, mas deseja que a justiça seja feita. “Foi muito na hora errada, no local errado. Nada justifica o aconteceu. Um carro passa e eles atiram, nada justifica terem atirado. O cara do chão sozinho, com várias batendo nele. Imagina se acontece uma morte. Poderia ter sido ainda mais grave. Desejo que a justiça seja feita, pois perdi os movimentos sem ter culpa de algo”.

 

Garota tem esperança de voltar a andar

Passado um mês e meio do ocorrido, a jovem mantém viva a esperança de voltar a andar. Segundo ela, os médicos não descartaram a possibilidade de reabilitação, no entanto, não será algo fácil e rápido. “Quero voltar a andar, tenho esperança. Eu sinto os nervos do pé, então, penso que se fizer fisioterapia, vou conseguir andar. Não tão logo, mas acho que vou”, planeja ela.

A adaptação à nova vida está sendo difícil. Acostumada com a rotina de estudar, trabalhar e lutar por uma vida melhor, uma das maiores dificuldades é a necessitade de ajuda para qualquer movimento em casa, desde o mais simples. “Nunca me passou pela cabeça de ser dependente de alguém. Tipo, gosto de fazer as minhas coisas; não dependia de ninguém. Daí o que eu logo pensei: quem vai sofrer com isso? Meus pais! Sempre sobra para eles. Agora minha mãe vai ter que ficar só me cuidando. Minha irmã trabalha o dia inteiro, depois também vem aqui me ajudar, e ela nunca reclamou. Mas tenho que dar graças a Deus de estar com vida. Porque sei que iria ser uma dor maior para eles (se tivesse morrido)”.

QUATRO PRESOS E UM PROCURADO

Acusado se entregou na Polícia Civil sexta-feira (Foto: Melissa Costa)

A Polícia Civil, coordenada pelo delegado Fernando Branco, conseguiu identificar cinco acusados de envolvimento no crime. Quatro já foram presos – entre eles, o atirador. Ainda há um acusado para ser preso. Além da tentativa de homicídio contra a jovem, que sofreu grave lesão, os cinco também irão responder pela tentativa de homicídio do outro rapaz espancado sobre o asfalto. “Este foi um crime extremamente grave, violento, que necessitou uma investigação trabalhosa e meticulosa por parte da Polícia Civil, mas que logrou êxito em identificar e prender os envolvidos. Nos solidarizamos com a vítima e sua família e esperamos que a justiça, ao final, seja feita para os envolvidos nesse caso”, disse o delegado Branco.