Em pouco mais de um ano, Patrulha Maria da Penha protege 206 mulheres agredidas no Vale do Sinos

Policiais militares visitam regularmente as vítimas que possuem medida protetiva (Fotos: Melissa Costa)

Região – A violência contra a mulher é um dos crimes que mais está presente, e de forma crescente, nas estatísticas da segurança pública. A agressão contra a mulher é realidade em municípios de todos os portes, desde os menores e interioranos, até capitais. Com o intuito de prestar apoio e proteção, especificamente a partir do deferimento da medida protetiva de urgência pelo Poder Judiciário, a Brigada Militar criou a Patrulha Maria da Penha.

Na região de circulação do Grupo Repercussão, no Vale dos Sinos, a patrulha atua há pouco mais de um ano em Sapiranga, Campo Bom, Nova Hartz e Araricá. Neste período de atuação, a patrulha cadastrou 206 vítimas das quatro cidades. A patrulha é formada por dois soldados, que realizaam visitas periódicas para acompanhamento da vítima até a decisão de extinção ou término do prazo de concessão da medida. O soldado Araújo, de Sapiranga, é um dos integrantes da patrulha e dedica muita atenção às vítimas. “Atualmente, me sinto muito feliz em ajudar essas vítimas de violência doméstica. Sabemos que tem muito ainda a melhorar com nosso programa, mas a gente sempre faz o melhor, o que está ao nosso alcance para poder ajudar essas pessoas que precisam do nosso apoio”, destaca o soldado, que atua desde que a patrulha iniciou.

“É uma atividade preventiva”, diz capitão 

O capitão Juliano Cardoso Arali, subcomandante do 32ºBPM, com sede em Sapiranga, comenta sobre a atuação que tem o objetivo principal de prevenir crimes graves de violência contra a mulher. “A Patrulha Maria da Penha é uma atividade da Brigada Militar que visa a atuação preventiva, a preocupação da questão da segurança pública com relação aos crimes de violência doméstica contra a mulher, no que tange as lesões em tese mais leves ou não físicas, evitando que aconteça o pior, que seriam os feminicídios”.

Relação chegou ao fim após agressão

Eles estavam há alguns anos juntos. A relação sempre foi conturbada, com discussões, no entanto, ela acreditava que a situação pudesse mudar. Porém, em um dos dias, as agressões verbais passaram para a física, o que foi crucial para colocar um fim ao relacionamento. “Ele me empurrou, me agredindo fisicamente. Antes disso, acreditava que as coisas mudariam”, disse uma das vitimas atendidas pela patrulha em Sapiranga. Antes do fim da relação, ela também procurou ajuda com psicólogo na rede privada, o que ainda segue em andamento. “Logo, tive receio de registrar, pois tinha medo que isso deixaria ele ainda mais bravo. Mas, desde que tenho a medida, nada mais ocorreu. Este é um trabalho importante, que nos fornece ajuda”.

Três décadas de violência

Uma das vítimas de violência doméstica que está recebendo proteção e apoio é uma senhora de 57 anos. Há nove meses, com o apoio de uma amiga, ela decidiu colocar um fim em cerca de 30 anos de agressões físicas e verbais. “Entre vai e vem, foram 33 anos de relação. Desde o começo, nunca foi um mar de maravilhosa. Logo no começo foi um tapa na cara, na rua, em público. Aquilo doeu muito”, relembra ela, que tinha medo de separar por causa do preconceito. “Eu já vinha de outra separação, ficava muito feio uma mulher ter dois maridos. A gente veio da colônia; tinha muita vergonha”. A cada pouco tempo, ela conta que ocorriam brigas motivadas por ciúmes. “A maioria ocorria por isso, por ciúmes”.

“Eles foram minha salvação”

Os anos de violência foram se agravando até que chegou a coragem de mudar. Ela registrou ocorrência, contou as atrocidades cometidas e conseguiu a medida. “Não aguentava mais, não conseguia me reerguer. E, mesmo assim, agora, com nove meses de separação, ainda tenho crises de pânico. Uma vez, ele (ex-companheiro) chegou a abrir o gás; se eu e meus filhos não tivéssemos saído de casa, o pior tinha acontecido. Eles (patrulha) foram minha salvação, contei com eles para conseguir ter a liberdade que precisava, eu estava sufocando. A gente não consegue se libertar se não tem uma ajuda”.