Delegado confirma que mortes no Hospital Lauro Reus foram decorrentes de hipóxia

Vereadores da CPI fizeram incursão no hospital (Foto: Cássios Schaab/Câmara de Vereadores de Campo Bom)

Campo Bom –  Quase dois meses após a trágica manhã no Hospital Lauro Reus, em Campo Bom, se aproximam as conclusões das investigações que estão em andamento.
Nesta semana, a Secretaria Estadual de Saúde já emitiu um relatório preliminar da auditoria realizada e o mesmo aponta que houve falta de oxigênio no tanque principal do hospital e possível falha no sistema de backup na manhã de 19 de março. A auditoria identificou que havia oxigênio para backup, mas ele não chegou aos pacientes internados com covid na casa de saúde. Ainda conforme apurado pela auditoria, o problema no Hospital Lauro Reus foi “multifatorial”, ou seja, mais de um fator contribuiu para que o tanque de ar esvaziasse sem ser reposto e para que o sistema de reserva não fosse acionado imediatamente. Entre os apontamentos, estão falta de treinamento adequado para agir neste tipo de situação, falha na comunicação interna e não uso do Plano de Operação Padrão para casos de emergência. O registro no sistema de telemetria aponta que o nível de ar do tanque principal caiu abaixo de 30% no dia 18 de março (um dia antes), e, conforme os protocolos, quando isso ocorre é preciso fazer o reabastecimento, o que foi feito somente após o incidente pela empresa Air Liquide.

Falta material do hospital

O relatório preliminar da Secretaria Estadual de Saúde já foi encaminhado ao Ministério Público e à direção do Hospital Lauro Reus, administrada pela Associação Beneficente São Miguel. O Lauro Reus ainda não entregou todo o material solicitado e a SES aguarda sua manifestação para concluir a auditoria.

IDENTIFICAR AS FALHAS PARA EVITAR QUE NOVOS EPISÓDIOS OCORRAM EM HOSPITAIS DO RS

A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Saúde reforça que a SES busca, por meio das auditorias, identificar as falhas ocorridas e focar em correção de procedimentos para todo o sistema de saúde, inclusive o hospitalar, ajudando a criar estratégias preventivas. O objetivo, segundo o diretor do Departamento de Auditoria do Sistema Único de Saúde da SES (DEASUS), Bruno Naundorf, que acompanha as auditorias, é evitar que os problemas se repitam. Em 2 de março, a SES chegou a encaminhar um ofício a todos os hospitais do Estado orientando que as instituições acompanhassem o consumo de oxigênio medicinal e realizassem abastecimento para garantir um estoque mínimo para sete dias, o que segue sendo reforçado, em forma de orientação.

“Ouvimos todos que trabalhavam naquela manhã”

*O inquérito da Polícia Civil, coordenado pelo delegado Clóvis Nei da Silva, deverá ser concluído em cerca de duas ou três semanas. “Ainda temos mais uma rodada de depoimentos antes da conclusão”, disse ele. Antes disso, o delegado prefere não antecipar em qual direcionamento está se encaminhando a investigação.

*Sobre a possibilidade de solicitar exumação dos corpos, o delegado relata que não acredita na necessidade, pois para ele, as causas das mortes estão esclarecidas. “As vítimas estavam em assistência médica, os médicos presenciaram as causas e consequências; tudo está relatado. A causa da morte foi declarada, por hipóxia – que é a falta ou baixa oxigenação. Na realidade, neste episódio, faltou oxigênio, os pacientes entraram em parada cardiorrespiratória, e, mesmo com todos procedimentos da equipe, entraram em óbito.

*O delegado conta que “ouvimos todos que trabalhavam naquela manhã, médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem”. Assim como demais envolvidos.

*O hospital, desde o início, declarou que somente irá se manifestar após a conclusão da sindicância. Também está em andamento um procedimento do Ministério Público e CPI da Câmara.

Investigações em andamento

Clóvis Nei da Silva, delegado de Campo Bom. “Temos mais uma rodada de depoimentos e estaremos nos encaminhando para a conclusão do inquérito, que deve ocorrer em cerca de três semanas. Somente após termos todo material, iremos divulgar as conclusões”.

Jerri de Moraes, presidente da CPI. “Nesta semana fizemos uma incursão no hospital porque precisávamos de registro in loco para comparar com oitivas. Devemos concluir o relatório da CPI da Câmara até o final do mês. Ouvimos várias testemunhas e nosso relatório será encaminhado ao MP e Polícia Civil.