Criminosos aterrorizam revendas exigindo “pagamento de pedágio” em Campo Bom

Print revela exigência de pagamento de "caixinha". Caso não ocorra, há ameaças de represálias (Foto: Reprodução)

Campo Bom – Diversas revendas de veículos de Campo Bom são alvos de ações criminosas, com a exigência de pagamento de dinheiro para continuar trabalhando com suposta segurança, aterrorizando os empresários. O motivo do medo é de que as ameaças enfatizam represálias, caso não haja o pagamento solicitado, cerca de R$ 1 mil por mês. A pressão para o pagamento é rotineira.

O delegado Clóvis Nei da Silva, que responde pela DP de Campo Bom, conta que há registros de ocorrência, mas prefere não detalhar a investigação. “Estamos apurando”, limitou-se a dizer o delegado Clóvis. “Nenhum empresário deve fazer pagamento e os casos devem ser registrados”.

O proprietário de uma revenda, que prefere não ser identificado, relatou estar com muito medo do que pode vir a acontecer. Apesar do temor, ele garante que não irá pagar os valores exigidos. “Trabalho com a venda de carro há oito anos e o que vou dizer? No começo estava com muito medo, mas eu não vou pagar. Não vou pagar. Imagina: já pago imposto para os governos federal e estadual e agora ser obrigado a pagar para a criminalidade? Isso não existe! Já pagamos imposto para ter segurança, para não acontecer isso. Ficamos de mãos atadas. Sabemos que alguns acabam pagando; mas eu não irei pagar”, relata ele, que tem as conversas salvas no celular.

 

“No momento que tu participa do ‘caixinha’, tu fica refém deles”

Em uma das revendas, as mensagens recebidas mencionam a cobrança mensal como um “caixinha”. O criminoso faz a exigência de R$ 1 mil por mês e detalha que a cobrança será feita pessoalmente entre o dia 1º e 5. Ele afirma que outras revendas já estão pagando e que se não houver a colaboração, haverá represálias. “Conversando com mais colegas, se não houver alguma resposta por parte das autoridades, a gente vai fechar a loja, fechar os portões. Não tem! Porque no momento que tu participa do ‘caixinha’ deles, como eles falam, tu fica refém deles. Tu te obriga a fazer favor a eles”, disse. Um outro proprietário também diz estar com medo, mas garante que não vai pagar. “Recebi as mensagens e fiquei na minha. Eu não vou pagar”.

 

Prisões em Taquara

No ano passado, donos de revendas passaram pela mesma situação em Taquara. A Polícia Civil conseguiu prender cerca de sete criminosos, alguns ligados à facção criminosa e outros que usavam de um crime praticado (um rapaz executado com dezenas de tiros na frente de uma revenda), se passando por integrantes de facção, para amedrontar os empresários e fazer com que eles pagassem.

 

Draco com investigação

A cobrança de quantias para garantir “segurança” às revendas tem feito vítimas em quase todas as cidades da região do Vale do Sinos e do Paranhana.
A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), com sede em São Leopoldo, está desarticulando uma quadrilha com vínculo em municípios da região. O delegado Ayrton Figueiredo Martins Júnior conta que a cobrança em uma revenda de Ivoti culminou na prisão de um dos principais integrantes da quadrilha, morador de Sapiranga. A investigação ainda está em andamento. “Também precisamos explicar que há dois tipos de cobranças”, diz o delegado. Uma delas é a extorsão verdadeira, que é ameaçar as vítimas e ir às vias de fato (quando o criminoso vai pessoalmente fazer a cobrança e ameaça, muitas vezes armado). Outra é a falsa extorsão, quando ocorrem pelas plataformas Facebook, Instagram e Whats. Após cobrança, o pagamento é feito por PIX. “Independente da ameaça, a orientação é fazer o registro na delegacia mais próxima”, orienta Ayrton.

 

SEM EXPOR DEMAIS

O delegado Ayrton também pede o arquivamento das conversas, sem que elas sejam apagadas, com as exigências e ameaças. “Além de registrar, de preferência não apagar a conversa. Também pedimos que seja feito um print da tela porque isso será utilizado pela investigação. E jamais fazer qualquer depósito PIX; jamais”, disse ele. Como medida preventiva, uma forma de tentar evitar ser vítima de extorsão, o delegado da Draco pede que as pessoas tenham mais cuidado com o uso das redes sociais. “É necessário um pouco de reserva quanto a familiares em redes sociais, ter cuidado. Não ficar fazendo postagens que demonstrem grande poder aquisitivo. Eles (criminosos) escolhem vítimas pelo que elas demonstram nas redes sociais”, destaca o delegado.