Caso Contreira: Polícia Civil irá indiciar mãe e filho por homicídio triplamente qualificado

Viúva foi presa preventivamente pela Polícia Civil na segunda-feira (Foto Melissa Costa)

Sapiranga – A investigação do assassinato do tenente Glaiton da Silva Contreira, 52 anos, degolado há duas semanas, trouxe à tona mais uma descoberta que deixa a comunidade de Sapiranga e região ainda mais perplexa.

Conforme apurado pela equipe do delegado Fernando Branco, não foi apenas o enteado de Contreira, Yago Rudinei da Silva Machado, de 25 anos, que esteve envolvido no assassinato. A viúva Ledamaris da Silva Contreira, 45, é acusada de ser a mentora do crime e também de ter participação efetiva no homicídio. Com mandado de prisão preventiva expedido pela juíza da Vara Criminal de Sapiranga, Rebecca Fernandes, os agentes da Delegacia de Polícia capturaram a viúva em Viamão, na casa de uma irmã. Diferente do filho, que ao ser interrogado confessou a autoria do crime, Ledamaria, que chegou na DP sapiranguense às 17h20, se reservou ao direito de falar apenas em juízo. Após os trâmites oficiais, ela foi encaminhada ao sistema prisional.

Lapso de 4h do sumiço intrigou os policiais

*Na noite que o tenente Contreira foi encontrado degolado, Yago acabou confessando o crime e tentou assumir toda a responsabilidade sozinho. Em nenhum momento acusou a mãe ou citou que ela teria algum tipo de participação.
*No entanto, contradições entre os depoimentos fizeram os policiais começarem a desconfiar da narrativa da autoria de um único participante.
*A viúva relatou que tomou uma medicação antes do meio-dia e foi dormir. Porém, o que ela disse e o filho, ficou um lapso de 4h. No entanto, no celular, no meio da tarde, ela trocou mensagens com o filho. Cada um passou um horário do desaparecimento.

Filho pequeno ficou na rua brincando

Cerca de 20 minutos depois que Contreira chegou da caminhada, a polícia conta que Ledamaris abriu o portão e deixou o filho pequeno, de 8 anos, brincando na rua. Ela trancou o portão. Yago colocou o carro de ré para dentro da garagem. Ele chegou a bater o carro no portão de nervoso. Alguns minutos depois, Ledamaris abriu o portão da garagem, Yago saiu e “ela ficou limpado o lado esquerdo da garagem, local onde possivelmente eles deixaram Contreira cair. Isso já era cerca de 18 horas”. A suspeita da polícia é de que o militar tenha sido dopado com uma substância colocada em um iogurte e oferecida para Contreira. “Isso nos causou estranheza. No depoimento de Yago, ele disse que colocou um pano no nariz do padrasto, mas ficamos questionando como um rapaz, de estrutura menor, conseguiria isso, sem que Contreira reagisse? Ele era um militar, treinado e no seu corpo não havia nenhuma marca de defesa. Agora, entendemos. Ele foi dopado dentro de casa”, conta Medeiros. Yago, então, foi até o local do crime e, com o padrasto desacordado, desferiu os golpes fatais com estilete.

“Venha de uma vez, por favor”, pediu viúva ao filho momentos antes do crime

Para a Polícia Civil, o tenente Contreira foi vítima de uma trama articulada por Ledamaris e o filho Yago, cuja principal motivação era em relação ao patrimônio do militar, pois o casal estava em processo de divórcio. Conforme levantado em depoimentos, Contreira deixaria a casa na semana seguinte em que foi morto. Ele passaria a morar em Nova Hartz, onde teria nova companheira. Ledamaris contou que cerca de três meses antes do crime, ela e Contreira não mantinham mais uma vida conjugal. O chefe de investigação, Carlos Medeiros, conta que a mãe da acusada, em depoimento, relatou que a filha não estava aceitando a separação. “Ela chegou, inclusive, a dizer que se ele fosse se separar, ela lhe mataria”.
Contreira também não foi caminhar às 17h, conforme dito pelos acusados. Testemunhas afirmaram que viram ele sair de casa após às 15h, com roupa de correr, como era de costume. Neste intervalo, com a saída de Contreira, Ledamaris mandou mensagens para o filho. “Foram três áudios, um atrás do outro. Ela, bastante nervosa, mandou para o filho: venha de uma vez, por favor! Só está eu e o pequeno (filho menor)”, conta Medeiros. Yago, que mora sozinho, também em Sapiranga, ouviu os áudios da mãe e foi até a casa. Contreira, então, chegou em casa, depois das 17h, e encontrou a esposa, o filho e enteado.

Mais sobre o caso Contreira

*Não foi a família que procurou a delegacia para registrar o desaparecimento. Colegas do militar foram até a DP depois que ele não apareceu na segunda-feira para trabalhar e não atendeu o telefone. Mãe e filho só foram até o local após serem chamados pelos policiais.

*Na versão de mãe e filho, o bombeiro não era mais visto desde à tarde, quando saiu para correr. No entanto, em uma rápida busca, os policiais civis constaram que o celular de Contreira estava dentro da casa às 19 horas. Após matar o padrasto, Yago contou que o celular, embalagem da substância e estilete foram jogados em um arroio.

*No dia do crime, além dos áudios, Ledamaris efetuou 20 ligações para o celular do filho. Segundo a polícia, houve uma tentativa de acusar a vítima de ter abusado do enteado, mas “isso foi descartado, assim como o fato de ouvir vozes. O que levantamos é que a vítima era bom pai e tinha boa relação com o enteado ”, diz Medeiros.

Contreira era bastante conhecido na região (Foto: João Eduardo Arnhold)

“Queremos que eles paguem por isso”, diz irmão de Contreira

O irmão do tenente, Gladiomar Contreira, ainda está tentando assimilar tudo que ocorreu e os desmembramentos do caso, prisão da cunhada e do filho dela. “Somos gratos à polícia pela agilidade, mas estamos tristes demais com tudo. Que a justiça seja feita, agora!”, disse ele, que reside em Rio Grande, cidade onde Contreira foi sepultado. “Ela (viúva) esteve no velório, chorou e até desmaiou; foi horrível. Aí, depois a gente fica sabendo disso. Estava desconfiado, pois meu irmão não se deixaria conter por um rapaz da estrutura dele (Yago). Imaginamos que tivesse mais alguém junto. Queremos que eles paguem por isso”.

 

Mãe e filho serão indiciados por homicídio triplamente qualificado

Ledamaris e Yago serão indiciados pelo delegado Fernando Branco por homicídio triplamente qualificado. “Os dois responderão, com base na nossa investigação, pelos mesmos crimes”, disse o delegado, reforçando que os depoimentos das testemunhas e as provas colhidas ao longo da investigação são suficientes para determinar a autoria e o próprio planejamento. O crime, conforme os relatos, mensagens e buscas em celular, estava sendo planejado por cerca de duas semanas. A própria proximidade de Ledamaris com o filho despertou a desconfiança das pessoas mais chegadas à família. “Nas últimas duas semanas, ela chegou a dar presentes para o filho, o que não era de costume. Conforme uma testemunha, isso ocorria quando ela queria algo do filho. Neste caso, ela pediu a ajuda do Yago na separação, pois o marido tinha uma boa relação com o enteado”, completa o chefe da investigação. Se o Ministério Público e Judiciário aceitarem a denúncia, mãe e filho irão a júri popular.