Bom Samaritano funcionava sem alvará em Sapiranga

Região – A interdição judicial do Abrigo Bom Samaritano, com sede em Campo Bom, gera reflexos em Sapiranga e Nova Hartz. Depois da investigação do Ministério Público campo-bonense apontar situações de maus-tratos, abuso sexual e pacientes passando fome, a Justiça determinou que a Prefeitura de Campo Bom passe a gerenciar o espaço temporariamente, até que o local seja readequado. A responsabilidade, agora, está com o secretário de Saúde, Jerri de Moraes.
Como desdobramento da interdição do Abrigo Bom Samaritano, que ocorreu no dia 14 de novembro, a Polícia Civil de Campo Bom, cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do proprietário do Abrigo, José Claudiomiro Tedesco, na sexta-feira (21). Quando a polícia chegou ao local, o empresário não se encontrava na residência e a casa estava vazia. Na moradia de alto padrão do empresário foram recolhidos documentos dos abrigos sob sua responsabilidade, cartões de crédito de internos, um computador e um notebook. Tudo passará por perícia. Conforme o delegado de Campo Bom, Clóvis Nei da Silva, entre os motivos que sustentaram a prisão preventiva do empresário, pesam as denúncias de maus-tratos e o caso de abuso sexual. “Temos este caso de abuso que estamos apurando. A vítima apontou um possível agressor, que será convocado para depor”, esclareceu o delegado.
Convocado para prestar esclarecimentos na delegacia da Polícia Civil na segunda-feira (24), sobre a administração do Abrigo Bom Samaritano, José Carlos Tedesco, acabou recebendo voz de prisão do delegado e no mesmo dia foi encaminhado para o Presídio de Montenegro. Questionado pelo delegado sobre as possíveis irregularidades no Abrigo, Tedesco desconversou no depoimento. “Ele disse que está tudo regular, que o local sempre foi bem limpo e organizado. Perguntei sobre quanto ele retirava de pró-labore e ele não soube responder. Disse que quando precisava de dinheiro retirava direto do caixa do Abrigo”, comenta o delegado.
Casa irregular em Sapiranga
>Conforme o secretário de Saúde de Sapiranga, Emerson Leite, existe uma filial do Abrigo Bom Samaritano que está irregular no município. Localizada no Alto Ferrabraz, a unidade não possui nenhum tipo de alvará autorizando o funcionamento do local.
>Desta forma, ainda na semana passada, o local foi interditado pela Vigilância Sanitária. “A partir deste momento, começamos a contatar outros municípios que possuem munícipes internados em Sapiranga, para que eles possam voltar para a casa de familiares ou outros locais adequados para sua estadia”, disse Emerson.
>No momento em que ocorreu a interdição do Abrigo Bom Samaritano em Sapiranga, que abriga apenas mulheres, haviam 37 pessoas no local. “O perfil das pacientes é de saúde mental comprometida, abandono familiar” citou.
Quadro técnico inferior ao necessário
O prefeito, Faisal Karam, disse que chamava a atenção o fato que técnicos eram muito poucos para atender uma demanda de 150 pessoas, mesmo em um universo separado por alas. A casa contava ainda com trabalho voluntário. “A casa tinha uma responsável técnica, enfermeiro, mas não em número suficiente. O Cláudio sempre dizia que tinha 100 pacientes. Mas, ele vinha absorvendo cada vez mais. Então agora, se começa o processo de recuperação da casa para ter ela saneada. Mandamos projeto para a aprovação dos vereadores para compra de alimentos e pequenos ajustes que são necessários fazer para tentar qualificar a casa, para que ela fique enxuta”, espera o prefeito.
Irmãos de Parobé contraem sarna
Os irmãos Consuela Raimundo Guedes, 57 anos e João Batista Raimundo, 46 anos (foto acima), confidenciaram à reportagem que os seus irmãos possuem esquizofrenia e que uma das principais queixas era com a comida. “Trazíamos fruta, chocolate e bombom toda semana para eles. Na última visita, meu irmão estava cheio de sarna”, denuncia. No mês passado um dos irmãos de Consuela e João Batista fugiu da unidade do Bom Samaritano no Centro de Campo Bom.
Vereadores de Campo Bom Rejeitam pedido de informações
Na segunda-feira (24), o vereador Victor Souza (PC do B), protocolou um pedido de informações na Câmara de Vereadores, solicitando dados para a Prefeitura dos acompanhamentos profissionais dos pacientes no Abrigo Bom Samaritano. O vereador queria saber, entre outras informações, se ocorriam vistorias periódicas pelo Conselho de Assistência Social. O pedido acabou derrubado pelos vereadores governistas. Apenas Jair Wingert, Valter Lemos e o próprio Victor foram favoráveis.
Faisal Karam comenta
“Fizemos uma avaliação clínica de todos os pacientes internados. Alguns estavam fracos e debilitados. Começamos um processo de esvaziamento do Abrigo. Esse processo todo envolve 300 pessoas. Em Campo Bom são 150 pessoas. De lá para cá tiramos 51 pessoas do Bom Samaritano para suas cidades de origem. Cada cidade deve absorver os seus cidadãos. Municípios com convênio com o Bom Samaritano devem buscar ou nós iremos encaminhar essas pessoas. Estamos fornecendo alimentos para as casas de Sapiranga e de Nova Hartz. Campo Bom tem comprado alimentos para dar uma qualidade para os internos. A vigilância sanitária sempre apontou situações que precisavam ser revistas. E que, se registre, o Cláudio Tedesco, sempre cumpriu com os pedidos. Mas técnicos eram muito poucos para a demanda “, disse Faisal Karam.