Andamento do processo do esquema D9 depende da extradição do líder

Sapiranga – Em agosto do ano passado foi deflagrada a operação que investigou o grupo criminoso D9 Trader e apreendeu valores, carros de luxo e documentos. Desde então, centenas de pessoas se manifestaram à Polícia Civil e ao Ministério Público alegando prejuízos com o esquema. A investigação, conduzida em conjunto por MP e Polícia Civil, resultou em um primeiro processo com 23 réus, acusados, principalmente, de formação de organização criminosa e crime contra a economia popular, totalizando 29 crimes. Hoje, conforme o promotor de Justiça, Sérgio Cunha de Aguiar Filho, o andamento do processo de julgamento dos réus depende da extradição de Danilo Santana, líder e criador da D9, que está nos Emirados Árabes. “O Brasil não tem tratado de extradição com os Emirados Árabes. Então, eles fizeram uma série de exigências bem burocráticas para essa liberação”, explica. A tradução para o árabe é o que hoje atrasa o andamento do processo.

Importante população saber identificar esquema de pirâmide

No golpe, que prometia ganhos imediatos entre 30 e 150% do investimento, através de apostas em eventos esportivos, os apostadores tinham os valores revertidos em bitcoins (moeda virtual), e depois disso não conseguiam mais sacar os valores. O promotor destaca que, atualmente, é muito comum os criminosos tentarem disfarçar a ideia de pirâmide, utilizando o conceito de marketing multinível, que seria um comércio de porta em porta. “Praticamente todas as pirâmides tentam mascarar através de uma atividade comercial. A D9 também era assim. É muito fácil identificar quando se está diante de uma situação de pirâmide financeira. Quando o negócio não se mantém com a venda de um produto, se mantém de aportes financeiros e de entrada constante de novas pessoas, é pirâmide”, sentencia o promotor, que salienta a importancia das pessoas não acreditarem na possibilidade de conseguir dinheiro facilmente. “A própria vítima se torna vítima da própria ganância. Se parar para pensar, se daria conta de que dinheiro fácil é uma ilusão”, pontua Aguiar, que argumenta ainda que a melhor forma de combater esse tipo de golpe é a conscientização.

Vítimas serão ressarcidas

Após a designação do tradutor juramentado, que fará a tradução da documentação, permitindo a extradição do réu, será ainda necessário aguardar pela tradução em si, o que deve demorar cerca de dois meses. Depois disso, toda a papelada será encaminhada para os Emirados Árabes. Eles então farão a análise da documentação para finalmente extraditarem o acusado.

Danilo Santana, natural da Bahia, tem residência estabelecida no país asiático e hoje se encontra em situação similar a uma prisão domiciliar brasileira. “Ele está com o passaporte retido. Então não tem como fugir. Ele continua com o nome na difusão vermelha da Interpol. Ele foi preso justamente por estar nessa difusão vermelha. Quando retornou para os Emirados Árabes, fizeram a consulta do passaporte e foi preso”, explica o promotor.

Com a extradição do réu, o processo seguirá o curso normal. “Estando ele aqui, os fatos estão bem claros. A prova está bem clara. Uma vez havendo a condenação dos acusados, se forma um título executivo”, ressalta Aguiar. A partir disso, cada pessoa lesada poderá apresentar as provas do seu prejuízo, sendo ressarcida. “Elas se habilitam e se ressarcem daquilo que conseguirem provar. A gente tem recurso suficiente para ressarcir as vítimas do nosso processo. Foram retidos bens, contas bloqueadas, muitos veículos”, elucida.

Cifras milionárias

Cerca de R$6 milhões – entre contas bloqueadas e bens, como os veículos apreendidos e que seguem no depósito aguardando pelo fim do processo – é o valor que garante o ressarcimento das centenas de lesados. “Cifras são impressionantes. Tem pessoas que perderam R$80, R$100 mil. Venderam casa, carro. Situação muito triste. Deram todas as suas economias e venderam aquilo que tinham e não podiam dispor”, revela o promotor. A orientação do MP e da PC às vítimas que procuraram as autoridades foi de imprimir os prints das telas em que apareciam os valores “investidos”. Dessa forma, o ressarcimento ocorrerá de forma mais tranquila ao final do processo, o que, segundo o próprio promotor, não deve ocorrer neste ano. “Esse ano ainda vai ser difícil por conta da questão da extradição. Não fosse isso, já estaria andando tranquilo. O problema é a burocracia do árabe (tradução para o árabe)”, pontua Aguiar.

Texto e fotografia: Sabrina Strack