Churrasco e a tradição gaudéria; histórias do Acampamento Farroupilha em Sapiranga

Sapiranga – É tempo de comemorar e relembrar as tradições pelo Rio Grande. No Mês Farroupilha, as vestimentas, costumes e atividades são especialmente voltadas ao orgulho de ser daqui, com o DNA do gaúcho à flor da pele.

 

No Parque do Imigrante, em Sapiranga, alguns hábitos que da nossa essência são imprescindíveis nos 81 piquetes espalhados, marca, inclusive, que credencia o município do Vale do Sinos como o segundo maior do RS no quesito Acampamento Farroupilha. Essa menção, que é marca registrada, se refere ao churrasco, suas formas, seus meios de preparo e suas experiências únicas proporcionadas.

Para conhecer um pouco mais sobre esse meio, tratando especificamente sobre os locais de preparo, ou seja, as churrasqueiras, passeamos pelo parque com Uili Böes, churrasqueiro da região, que nos mostrou algumas grelhas diferentes, outras mais tradicionais e as virtudes de cada uma delas.

Durante a caminhada, nos deparamos com os modelos tradicionais, montadas com tijolos e que utilizam o fogo no chão (fogo de chão) para cozimento da carne. Tratada como precursora dos churrascos, ao menos aqui no Estado, ela é considerável móvel e prática, pois necessita apenas dos tijolos para contingência do calor, e da lenha ou do carvão para acender as chamas, além, claro, da carne, que antigamente nem era suspensa com espeto de madeira, mas, sim, de taquara, mostrando as origens simples desta culinária registrada por nosso povo, um prato típico e conduzido por todas as classes.

Latões como churrasqueira

Outro costume “raiz” observado durante o passeio pelo Acampamento Farroupilha de Sapiranga foi o das churrasqueiras de latão. Também conhecida como churrasqueira tambor, essa também carrega as origens deste teor gastronômico gauchesco, onde o próprio recipiente é responsável por manter a temperatura alta para assar os cortes.

Nos moldes encontrados, foram vistos três modelos: a mais tradicional, com as abas cortadas e os espaços para o espeto; outra com o espaço para os espetos e também aberta, mas com as laterais apenas dobradas; e ainda, uma terceira, inteira, apenas com a tampa retirada, onde a carne fica em pé e o calor, produzido pelas brasas da lenha, é o que garante o ponto desejado da carne.

Em qualquer um destes modelos, o objetivo é o mesmo: reunir os amigos e familiares, lançar a carne sob o fogo e aguardar, com boas histórias e interação entre todos, o momento da degustação.

Segredos do assador

Profissional do ramo, Uili Böes conta um pouco das suas preferências na hora de assar a carne e deixar sua marca durante o churrasco. “Eu gosto de usar a lenha em tudo. Eu uso a lenha tradicional, um eucalipto, uma acácia bem sequinha e, para finalizar, uma lenha de defumação, onde vai dar o gosto na carne, que é uma lenha de macieira, de pessegueira, qualquer tipo de fruta. O que é bom colocar, também, para dar um gosto na carne são algumas especiarias, alguns temperos, por exemplo, um pouco de alecrim. Fica bom”.

Cultura castelhana cresceu no estado; piqueteiros de Sapiranga aderem os hábitos

Sapiranga carrega a tradição do churrasco e suas novas vertentes também. Antes não tão utilizada em nosso Estado, as parrillas (Uruguai ou Argentina) podem ser encontradas no Acampamento do Parque do Imigrante.

Entre os seus principais diferenciais, está o melhor proveito da carne, como descreve Uili. “Hoje, o gaúcho aderiu porque vê que consegue tirar uma suculência realmente diferenciada de uma carne mais elitizada, mais especial”, menciona.

Nos modelos observados, encontramos a parrila uruguaia. Essa, diferente da de origem argentina, possui as grelhas (as canaletas) em formato redondo, mas assim como sua vizinha, expõe a carne bem próximo ao fogo, um pouco diferente do que estamos habituados no tradicional churrasco no espeto.

Para assar a carne, as parrillas possuem um “fire box”, ou caixa de fogo. Ali, vai o carvão, onde é produzido todo o calor responsável pelo cozimento. Aos poucos, as brasas produzidas despencam para o fundo deste modelo de churrasqueira, onde ocorre o cozimento. Com a parrila, os preparos costumam ser rápidos e o churrasco móvel, visto que, normalmente, a estrutura é montada com rodinhas em sua base.

20 anos de tradição

Acima de tudo, o mês da Revolução Farroupilha, que simboliza o orgulho de ser gaúcho, é propício para reunir os amigos e familiares. Esse é o propósito seguido pelos piqueteiros do Tchê Borrachos, que desde o início dos anos 2000, marca presença no Parque do Imigrante durante os festejos farroupilhas.

Considerada a melhor e mais esperada época do ano por eles, os membros do Tchê Borrachos se preparam durante todo o ano para participar das celebrações em setembro. A cada fim de edição, os preparativos para a próxima edição já começam a ser elaborados por toda a equipe, a fim de aproveitar cada vez mais este período e inovar como sempre junto à cultura rio-grandense.

Reunião dos piqueteiros do Tchê Borrachos | Foto: Divulgação

Valor ao tradicionalismo

Atualmente, o grupo conta com 41 integrantes. Dentro destes participantes, são incluídas as crianças que marcam gerações, consideradas, por eles, “a chama para manter nossa tradição acesa no futuro”.

O orgulho de ser do Rio Grande do Sul e a prática dos costumes tradicionais do Estado acompanham o Tchê Borrachos mesmo antes da formação dos piquetes, onde todos costumavam frequentar bailes na cidade e na região, além do forte convívio e presença confirmada nos CTG’s da cidade e arredores.

Neste ano, com o acampamento ocorrendo a todo o vapor, o olhar é de gratidão pela forma como tudo foi montado e a preocupação concedida pela Administração Pública aos piqueteiros. “Ficamos muito felizes em termos mais dias para aproveitar esse evento, para o qual a gente se prepara e espera o ano todo. Ficamos muito contentes em ver a prefeitura pensando em nós, tradicionalistas, e fazendo tudo isso com tanto carinho para esses dias”, cita um dos “borrachos”.