Crescimento do consumo de orgânicos no País também reflete em nossa região

Sapiranga – Em busca de mais qualidade de vida por meio de uma alimentação mais saudável, a procura por produtos orgânicos por parte dos consumidores apresentou significativo crescimento no último ano. Profissionais do setor primário, produtores rurais certificados e organizações do setor atestam essa informação. Os números positivos não ficam somente limitados aos grandes Centros, aqui em Sapiranga mesmo, os produtores de orgânicos comprovam o aumento na procura dos produtos livres de defensivos agrícolas. “Os produtores orgânicos relataram que houve um aumento de 40 a 50% na procura durante a feira. A divulgação na Festa da Colônia resultou em uma visibilidade interessante, assim como os eventos e atividades promovidas pela EcoFerrabraz. Recentemente, uma imersão contou com participantes de produtores da região e até mesmo do Uruguai. Isso acaba contribuindo para o turismo e também resgate cultural”, considerou o engenheiro agrônomo da Emater/Ascar em Sapiranga, Mateus Farias de Mello. Hoje, produtores de Sapiranga e região, contam com a Organização de Controle Social Orgânicos Encosta da Serra Sul Ferrabraz, para auxiliar produtores e encontrar tecnologias para a produção orgânica.

Setor faturou ano passado R$ 4,6 bilhões no Brasil

Segundo a entidade setorial Organis, o setor de produtos orgânicos faturou R$ 4,6 bilhões no Brasil no ano passado. A cifra representa um aumento de 15% em relação ao faturamento de 2018, quando o valor chegou a R$ 4 bilhões. Os números de exportação chegaram a aproximadamente U$ 190 milhões (26 empresas associadas), alta de 5,5% em relação ao ano anterior (R$ 180 milhões). Iniciativas do segmento comprovam o interesse dos brasileiros nos produtos cultivados e produzidos de modo orgânico. “Nossa estimativa tem base no aumento de toda cadeia. A principal feira do setor de orgânicos, a BioBrazil, cresceu 33% em número de expositores. Tivemos muitos brasileiros visitando as principais feiras internacionais do setor, mais do que em outros anos, na busca por ideias e conceitos com potencial para ser trabalhados por aqui”, disse Clauber Cobi Cruz, diretor da Organis.

Agroecologia tem espaço

De acordo com o responsável pelo escritório da Emater, Claudinei Baldisserra, em todo Brasil e até mesmo em outros países, a produção de orgânicos tem evoluído e apontam significativo crescimento. “Um grupo de 30 agricultores tem ações com princípios agroecológicos, com adubação orgânica e que evitam produtos externos e os agrotóxicos. A caminhada para a certificação é mais longa e até mesmo considerada onerosa”, disse Baldisserra. Hoje, a produção agrícola em Campo Bom está voltada a produção de hortaliças, flores, gado de corte, assim como cultivos anuais, como milho e feijão. Somente um produtor rural possui certificação orgânica. “Antes de chegar ao certificado todas tem atividades vinculados a agroecologia, enquanto que a produção do alimento orgânico é mais ampla em si por que cuidam de todos os princípios da natureza, desde a água, solo e a vegetação”, acrescentou. Segundo o extensionista da Emater, hoje um grupo de 30 agricultores possuem uma produção agroecológica em Campo Bom.

Sapiranga tem famílias certificadas

O engenheiro agrônomo da Emater/Ascar em Sapiranga, Mateus Farias de Mello, ressalta como é composto hoje o grupo de produtores da EcoFerrabraz. “Hoje tem oficialmente registrados seis produtores certificados e outros dois em transição para entrada. Pelo menos oito famílias estão trabalhando em uma transição consciente de não querer usar agrotóxicos. E ainda temos uma família certificada por auditoria dentro da EcoFerrabraz”, acrescenta. Segundo Mateus, a organização EcoFerrabraz trabalha com certificação participativa em sistema de organismo social que concede o cadastro de agricultores familiares para venda direta. O extensionista afirma ainda a fórmula de trabalho adotada junto aos agricultores. “A gente explica o funcionamento e que tem tecnologia possível para utilizar e fazer internamente em sua propriedade, caso queiram baixar custos e produzir seus insumos. Essa é a lógica do trabalho que a gente vem fazendo ao longo dos anos”, acrescenta.

Inovação exemplo de produção

O produtor rural Ruben Harff, de 64 anos, tomou a consciência de que poderia produzir alimentos com aquilo que já tinha a disposição em sua propriedade na década de 90. “Já plantava alface e outras follhosas, quando me dei conta de que eu poderia produzir somente com esterco e água”, disse. Entretanto, a paixão pela produção agroecológica e a participações em cursos e visitas técnicas, procedimento importante para a manutenção da certificação de produtor orgânico, levaram a descoberta de novas tecnologias de reaproveitamento de elementos da natureza presentes na propriedade localizada em um acesso pouco depois do Centro de Estudos Ambientais (CEMEAM), na Rua Harff, 400. A partir de novas descobertas, as vegetações cortadas durante roçadas, matérias em decomposição na floresta e até mesmo plantas aquáticas flutuantes no açude, foram parar na horta, que hoje possui a cobertura vegetal no solo. “Hoje acontece uma verdadeira reciclagem dos nutrientes. Não é feito mais uma adubação especifica para o solo, mas sim é criado todo um sistema favorável para a produção”, explicou. Algumas das vantagens da cobertura de solo é a manutenção da umidade no solo e a posterior decomposição da vegetação resultando em nutrientes.

O conhecimento técnico do produtor hoje já resultou na diversificação da linha de produtos cultivados e posteriormente oferecidos na feira dos produtores de orgânicos e também na venda direta na própria propriedade. “Hoje planto banana, chuchu, batata, rúcula, radite, e até mesmo algumas Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCS), como cará-moela, azedinha e picão preto”, destaca. As frutíferas hoje também dividem espaço com outras espécies de árvores, assim como cultivares de aipim e cana-de-açúcar, dentro de um sistema agroflorestal. “São feitas podas e cortes e tudo é reaproveitado junto a própria plantação”, declarou.

Foto: Fábio Radke.