Prática do voo livre em Sapiranga fortalecida com fundação da AGVL

Sapiranga – O Morro Ferrabraz como ponto para prática do voo livre teve o primeiro impulso na década de 1970, quando os precursores da prática na região começaram a utilizar o morro como ponto de partida. Mas, foi a partir da fundação da Associação Gaúcha de Voo Livre, a AGVL que o esporte passou a se fortalecer e a se destacar na cidade. Hoje, são cerca de 130 sócios pagantes. Na festa de 40 anos, em 2018, praticamente todos os fundadores participaram. “Veio gente de São Paulo, foi muito legal. Transformamos eles em sócios beneméritos. Todos ganharam carteirinha. A maioria deles ficou extremamente emocionado”, conta Flávio Pinheiro, diretor de desporto da Associação.

Pinheiro voa desde 1981, participa da AGVL e tem a escola | Foto: Sabrina Strack

“O grupo começou como Grupo Os Falcões. Eles começaram lá no morro do Chapéu, em Sapucaia. A maioria era de São Leopoldo. Anos depois, esse grupo veio para Sapiranga”, conta Flavinho. Foi neste período, antes da fundação da AGVL, que a primeira rampa foi construída. O voo livre, conforme Pinheiro, que voa desde 1981 e já dá aulas há 33 anos, desenvolveu muito na questão da infraestrutura. E, nos anos 1990, com a chegada do parapente, cresceu ainda mais. “Até então só existia a asa delta. Não existia o parapente no Brasil nem no mundo. Surgiu nos anos 1980, e nos 1990 chegou no Rio Grande do Sul”, relata.

Hoje, acontece uma renovação no esporte, a grande maioria dos novos praticantes, prefere e passa pelo parapente, pela sua praticidade e menor valor. “O parapente é mais leve, se tornou mais prático para praticar. As mulheres também puderam voar, os mais velhos. A asa delta exige um perfil mais de atleta. Precisa ter força, carregar, montar, desmontar. Então o parapente ampliou o leque de possíveis praticantes”, pontua. O custo é outro lado que influência. “Uma asa delta hoje é caríssima. Um parapente de competição se paga R$ 18 mil. Uma asa delta, vai pagar R$ 60 mil”, compara Flávio. Assim, a prática de voos de asa delta foi sendo deixada de lado, e hoje, o número de praticantes é consideravelmente menor. Por isso que a Associação estuda uma forma de reestrutrar o voo de asa delta. O número de novos praticantes em um ano no parapente chega a 40, na asa, são cinco ou seis. “Vamos fazer alguma coisa para ter essa retomada da asa. Para a gente ao menos estancar esse decréscimo”, avalia Pinheiro.

Ainda falta conscientização do sapiranguense em cuidar daquilo que é seu. Episódios de vandalismos são constantes

Projetos não faltam e a estrutura do morro recebe melhorias contínuas. A própria sede da AGVL foi revitalizada. O que falta agora é conscientização. Lembrando que a Associação organiza frequentes mutirões de limpeza do morro e da Estrada do Carlão. Festas irregulares são organizadas no local, o que favorece o abuso de álcool e drogas, resultando em badernas, vandalismos e lixo. “A prefeitura se sensibilizou, vai ajudar, a própria Brigada Militar fez blitz, fomos também na promotoria. Todos muito solícitos”, revela Flávio. A ideia da AGVL é levar cada vez mais esportes para o morro. “Queremos levar vários esportes para lá, juntar a turma do ciclismo, e transformar em um lugar do bem. Prefeitura pode ajudar embelezando o lugar”, destaca.

Temporada de competições em Sapiranga inicia no segundo semestre

Prática da asa delta vem decaindo em função do alto
custo e pouca praticidade
Foto: AGVL

A grande missão da diretoria hoje, segundo Pinheiro, é manter-se envolvida na questão de conscientização sobre o morro, manter o lugar, a infraestrutura, mas, principalmente, não perder o foco, que é o lado esportivo. “A AGVL continua sendo uma das referências internacionais na formação de bons pilotos, então temos esse foco com o esporte”, destaca.

 

 

 

 

Placas
informativas sobre o fechamento da estrada que leva ao topo do morro foram instaladas em outubro
de 2018 pela
prefeitura
Foto: Arquivo JR

Um fato interessante e bom para a cidade é que há muitos anos, a maioria que voava era de fora de Sapiranga. Hoje, já se tem gaúchos e sapiranguenses voando e competindo. “Isso é bem legal para a ciade. A gente quer continuar essa renovação. Isso me alegra muito, ver que tem gente daqui”, comemora. De competições, a AGVL já sediou três etapas de campeonato brasileiro de parapente, em 1993, 2007 e 2015, e outras três de asadelta, em 2009, 2010 e 2011. A temporada de competições este ano inicia no segundo semestre. No feriado de 15 de novembro ocorrerão no Ferrabraz as etapas do gaúcho de asa delta e do sul brasileiro de parapente.

 

 

 

Cancela, instalada pela AGVL, tem objetivo de barrar acesso noturno de pessoas não
autorizadas
Foto: Arquivo JR

O prazer de voar, segundo Flavinho, é inexplicável. “É muito bom poder usar a força da natureza para voar 200, 300 quilômetros. Decolar meio dia e voar até às 17h ou 18h, e pousar, por exemplo, em Passo Fundo . Quer dizer, tu acertou, foi técnico, acertou todas as decisões durante as cinco horas. Fez uma coisa muito legal”, ressalta Pinheiro. Ele ainda revela que há um grupo de antigos praticantes de asa delta que estão retomando os voos. “Vou voar agora de novo de asa, porque está tendo uma volta, uma nostalgia, alguns caras agora de mais de 50 anos, que tinham parado de voar há 15 anos, estão retomando. Uns três pilotos que são da minha época. Vou fazer um ou dois voos! Parapente é muito mais fácil!”. Como escola, Pinheiro pretende voltar a explorar os voos de longa distância na fronteira com o Uruguai, onde se tem um corredor muito bom para voos, sem aviação. Outra região que será explorada é a do Planalto, das Missões.

Espaço aéreo em Sapiranga, um dos maiores patrimônios, é bem posicionado e menos restrito do que outros locais

Pinheiro explica ainda sobre o espaço aéreo em Sapiranga, considerado por ele como um dos maiores patrimônios. “Com as novas regras da ANAC, de voo, só podemos voar em espaço aéreo restrito. A gente ficou muito bem posicionado porque lá nos anos 1980 foi criado uma SBR (os detalhes do espaço aéreo), que quando foi emitida nos permitiu uma área que é toda a cordilheira, sai de Sapiranga, para Igrejinha, 15km de comprimento , mais ou menos 3 a 5 de largura e 1500 metros de altura. Essa “gaiola” é nossa, para a prática do voo”, comemora Flávio, lembrando que em 1980, haviam pouquíssimos voos saindo do aeroporto de Porto Alegre. Se esta restrição fosse requisitada nos dias atuais, o espaço aéreo concedido, seria minúsculo.

Texto: Sabrina Strack

Fotos: AGVL