Bicicross em Campo Bom desde 1987

Campo Bom – O Bicicross se tornou esporte olímpico em 2008, em Pequim, mas sua história em Campo Bom é bem mais antiga, ela começa em 1987. No ano, não havia a pista que há atualmente, e nem qualquer pretensão de criá-la. Através do incentivo familiar de um tio e primos, Marcelo Dreyer, 40, atual presidente da Liga de BMX de Campo Bom, à época com 7 anos, começou a praticar o esporte em São Leopoldo. Mas como os treinos eram constantes, e o custo para ir a São Leopoldo era caro, surgiu a ideia de solicitar uma pista em Campo Bom. O pai de Marcelo, Bertoldo Oscar Dreyer, tomou a frente do projeto, e solicitou para o prefeito da época, Karl Heinz Kopittke, a instalação de uma pista de BMX.

Junto com outros pais de atletas da cidade e região, foi formada a primeira diretoria da associação. Em 1989, a pista foi inaugurada, e desde então está sendo utilizada em competições gaúchas e até etapas nacionais. Hoje a associação conta com 45 atletas inscritos, mas como o esporte é familiar, estima-se que até 130 pessoas se envolvam com o esporte.

Quadro composto por atletas de qualidade já rendeu boas posições em competições internacionais

Em 2015, a pista de Bicicross de Campo Bom foi reformada, passando a adotar o padrão da Union Cycliste Internationale (UCI), sendo a única do Brasil a ser homologada neste padrão internacional.

Pedro Barbosa é o atual campeão Panamericano. Ele faz parte do quadro de grandes atletas da Liga de BMX de Campo Bom Foto: Divulgação

Atualmente, participam da associação de BMX 45 atletas, 5 meninas e 40 meninos, com idades de 6 até 40 anos. No quadro de atletas, a associação de Campo Bom conta atualmente com o 4º melhor do mundo na categoria 13 anos, Thales (BAKU, Azerbaijão -2018), o atual campeão Pan-americano, Pedro Barbosa, 15 (Argentina, 2018), a irmã de Thales, Julia, que também já ficou em 4º no mundial, além de diversos outros atletas de ponta. Dreyer acredita que isso se deve a um trabalho construído em conjunto. “A rotina de treinos, a própria pista que tem perfil profissional (UCI) que dá uma base bem grande e a dedicação”, disse. Quanto a diferença entre praticantes meninas e meninos, Dreyer explica. “No geral, as pessoas enxergam como um esporte masculino, de contato, mas não é. O bicicross é um esporte de família, todos podem praticar”, disse Dreyer.

 

Presidente da Liga de BMX fala dos muitos projetos realizados e o desejo de um campeonato nacional

Marcelo Dreyer, presidente da Liga de BMX de Campo Bom, e a família, em competição pela seleção gaúcha, em 2018 | Foto: Arquivo Pessoal

A Liga também realiza projetos e ações para fomentar o esporte no municipio. “Temos a escolinha de Bicicross, feita aos sábados de manhã, das 9h30 às 11h30. Para participar, a criança vai até a pista, pega uma ficha de inscrição e preenche. Pedimos que esteja de calça e manga comprida. Caso não tenha bike e capacete, emprestamos. Ela deve estar sempre acompanhada de um responsável, que pode sentar na sombra, tomar um chimarrão, ver o filho andar de bike. Não é para largar a criança ali e ir fazer outra coisa, é um momento para a família. Sem responsável, não anda”, disse.

Ele comenta ainda que os treinos são fechados para a Liga, mas pelo menos uma vez por mês, realizam o treino solidário. “Temos os treinos solidários para arrecadar alimentos não-perecíveis para doar a comunidade”, conta. Além disso, planejam o projeto Bicicross Olimpíco. “Temos um projeto que estamos tentando viabilizar que é o Bicicross Olímpico, para tentar formar atletas. Seria no contraturno escolar, em que as crianças poderiam optar por praticar algum esporte, futsal, basquete, bicicross ou algum outro.Também estamos pedindo um campeonato nacional aqui, para trazer atletas do Brasil todo” pontua.

Família que anda de bike juntos permanece junta

Uma das caraterísticas do BMX é que ele é um esporte familiar, as pessoas viajam juntas, competem juntas, treinam juntas, e ainda contam com mais de um pai e uma mãe.Todos formam uma grande família. Por falar em família, a Liga de Campo Bom conta com diversas participantes, como a de Carlos Frantz, 40, o “Carlinhos”.

Carlinhos Frantz (ao fundo), sua esposa Marciana, e os filhos Otávio (esquerda) e Bernardo (direita) Foto: Arquivo Pessoal

Carlos é um dos percursores do esporte no município e corre desde 1987. “Inauguraram a pista em 1989. De lá para cá, fiquei seis anos parado por causa de lesão, mas retornei em 2004. O Bicicross estava parado naquele ano em Campo Bom, pois a gurizada parava, ia para a faculdade, trabalho”, conta. Carlos comenta que o esporte o ajudou a superar uma situação difícil. “Eu perdi meu pai aos 13 anos de idade, e ele teve a oportunidade de presenciar uma prova minha, que foi a inaugural da pista de Campo Bom. Ele tinha o desejo que eu viajasse o mundo através do esporte, e nós, de família humilde, sabemos que o mundo pode ser dentro do estado. Mas eu pude cumprir o desejo dele, e através do esporte já fui três vezes vice-campeão brasileiro, campeão Sul-Brasileiro, ganhei várias etapas nacionais, fui tetracampeão gaúcho consecutivo, participei do Pan-americano na Argentina, da Disney Cup, na Flórida, dois mundiais”, lista Carlinhos.

Bernardo Frantz, 7 anos, brilha em competições Foto: Arquivo Pessoal

O esporte está no coração do atleta, assim como no de sua esposa, que conheceu praticando, porém handebol. Ela jogou por 12 anos, e atualmente não pratica mais handebol e nem Bicicross, mas é uma incentivadora ferrenha de Carlinhos, bem como dos filhos Bernardo, 7, e Otávio, 10. Juntos, Carlinhos e os filhos somam títulos importantes. Otávio, já foi campeão gaúcho, e Bernardo também (mas atualmente é o vice). Bernardo também já correu no Chile, Argentina e Estados Unidos. No ano passado, ele venceu todas as baterias classificatórias do brasileiro, mas na última corrida, acabou caindo e ficou em 5º. Carlinhos conta que a união da família é forte e que fazem tudo juntos. “Nosso ano já começa com o calendário de eventos, até internacionais.Nos preparamos e vemos o que nos interessa. Fazemos tudo junto. Se alguém não pode ir, ninguém vai”, finaliza Carlinhos Frantz.

Presidente da Liga de BMX de Campo Bom convida pais a levarem seus filhos no projeto

Para se associar na Liga é necessário pagar uma mensalidade de R$ 25,00, além do custo da fardamento oficial da equipe. O atleta então compete defendendo o município nas competições. Os valores obtidos são revertidos nas manutenções da pista. O presidente da Liga de BMX de Campo Bom, Marcelo Dreyer, fala sobre o esporte e o incentivo do município. Ele também convida os pais a levarem os filhos para participarem, que é um momento para toda a família. “Agradeço a oportunidade de poder mostrar um pouco da Liga Campo-bonense de BMX, que esse ano completa 32 anos de existência. E como o município de Campo Bom também é um referência do Estado e fora dele, eu como cria de Campo Bom parabenizo essa cidade que me enche de orgulho e não mede esforços para ajudar da melhor maneira possível o esporte. Como presidente da Liga, através dessa mensagem, quero convidar todas as famílias, principalmente aquelas de Campo Bom, a conhecerem esse esporte tão apaixonante e tão cheio de vida. Um esporte que envolve a família e é uma grande ferramenta de transformação. Nossos treinos ocorrem às terças e quinta-feiras à noite, e aos sábados à tarde. Tragam seus filhos e venham conhecer também o nosso projeto Bicicross Olímpico”, convida Dreyer.

Texto: Taylor Abreu

Foto: Bruna de Bem / Esporte Campo Bom / Arquivo Pessoal