Artilheira tricolor, Karina Balestra, é inspiração para jovens do futebol feminino, confira a entrevista:

Reportagem Especial: Leonardo Oberherr

A artilheira do Campeonato Brasileiro Série A2 de 2019, Karina Balestra, atacante do Grêmio, falou sobre o universo do futebol feminino e como são as partidas e o apoio feminino em dias de jogos. Durante a entrevista, concedida ao repórter Leonardo Oberherr, ela expôs suas opiniões sobre como deveria funcionar o futebol feminino no país. “Acho que a primeira coisa que teria que mudar são os pensamentos dos clubes grandes em relação ao futebol feminino. Acho que isso vem mudando aos poucos, com vários clubes de camisa dando exemplo no futebol feminino e se estruturando”. A atleta esteve ao lado de Marta, Cristiane e Formiga na conquista do Pan-Americano de Futebol de 2003, conquistado em Santo Domingo, na República Dominicana, e evidenciou como os clubes e as próprias atletas podem ajudar no fortalecimento do esporte no país. “Se os clubes investirem e apoiarem o futebol feminino, com certeza a sociedade e a mídia vão apoiar também. Começa também por nós, por nossa postura e disciplina”, relata a jogadora.

Apoio feminino nas arquibancadas:

Durante a entrevista, Karina falou sobre a presença da torcida nos jogos femininos: “nosso apoio sempre foi muito bom, o Grêmio sempre teve um bom público nos jogos, principalmente o público feminino. Muitas mulheres gostam de assistir o futebol feminino, mais do que os homens, por exemplo. E não podemos reclamar, sempre recebemos muito apoio, muita força da nossa torcida, como da nossa torcida organizada do Grêmio. Nosso público sempre vem para nos apoiar bastante nas partidas, estamos muito bem servidas”. Vista por muitos como um símbolo, a atacante ainda falou sobre esse sentimento de ser um espelho para as novas gerações de meninas: “Eu me sinto uma referência, recebo muitas mensagens de muitas meninas que falam que sonham em jogar futebol profissionalmente, que sonham em chegar onde eu cheguei, que me admiram e eu sempre tento passar algum tipo de mensagem, vídeo, para que essas meninas não desistam de seus sonhos, pois um dia eu já passei por isso também. Um dia eu também já quis estar em um time grande, jogando futebol, e sempre tento passar uma mensagem positiva para que essas meninas não desistam dos seus sonhos. Já fui também em muitas palestras em escolas, para poder falar pessoalmente para essas garotas como foi minha trajetória e como é o futebol feminino, que elas não desistam de seus desejos, sonhos, e que o futebol feminino tem espaço para todo mundo” – completou.

“Nossa estrutura no Grêmio é uma das melhores que tem no futebol feminino no Brasil. O Grêmio vem crescendo a cada dia, procurando melhorar o ambiente, como os alojamentos, os ambientes de treinamento. Nossos treinos são diários. Treinamos cerca de duas, duas horas e meia por dia, sendo que tem dias que treinamos em dois turnos. A preparação técnica, física, tática, preventiva de lesões também, temos um departamento para fisioterapia. Sobre competições, no primeiro semestre disputamos o Campeonato Brasileiro Série A2, onde conseguimos a vaga para a Série A1 do ano que vem. O Grêmio vem se estruturando cada vez mais, pois sabemos que o Campeonato Brasileiro Série A1 é muito mais difícil, com equipes muito mais qualificadas, com os principais times do país, mas acredito que que estamos no caminho certo e já pode ser equiparada com os melhores times do Brasil em termos de estrutura”.

“Eu sempre quis vestir a camisa do Grêmio. Sempre quis jogar em um clube grande, e eu já passei em diversas equipes grandes do nosso país, mas o grêmio sempre foi um time que eu quis jogar, já por ser gaúcha, ser daqui, é um orgulho. Desde 2017 visto a camisa tricolor e graças a Deus conseguimos nosso primeiro objetivo que foi colocar o Grêmio na Série A1, o lugar onde deve ficar. Tenho muito orgulho em poder esta vestindo essa camisa que tem tanta história no futebol masculino e feminino”. 

“Na verdade quando eu era muito pequena eu já gostava de futebol mas eu nunca tinha colocado na minha cabeça o sonho de virar jogadora. Acho que o desejo veio ali mais próximo da adolescência, entre 12, 13 anos, quando consegui entrar numa escolinha que só tinha meninas, o que era muito difícil na época, e para mim, que antes jogava só com meninos, estar numa escolinha para futebol feminino foi muito importante. E depois foi se tornando realidade. Coloquei na minha cabeça sonhos maiores, que um dia poderia jogar na Seleção Brasileira, e conseguir jogar num grande clube e isso foi se estruturando na minha vida. Fui me preparando, ganhando espaço no futebol feminino, e hoje graças a Deus me considero sim uma jogadora consagrada e que meu sonho se tornou realidade”.

“Minha trajetória foi igual a de quase todos. Sabemos que no Brasil o futebol feminino é bem difícil. Eu tenho um irmão mais velho que sempre me apoiou, sempre me levou para jogar bola com ele. Onde ele ia, para jogar futebol, eu ia junto. Comecei a gostar muito do esporte e todos os dias, quando eu chegava da escola, ia direto para o campo para jogar. Até um dia um vizinho meu me viu jogar. Um senhor convidou para jogar no time dele, pois ele tinha um time de futebol feminino e ali ele começou a ver que eu tinha potencial, que eu era diferenciada das outras e me levou para uma escolinha de futebol feminino em Porto Alegre, onde eu fui reconhecida por um grande clube e comecei a jogar profissionalmente. Aí eu me dei conta que meu sonho estava sendo realizado, e graças a Deus, com 19 anos eu cheguei na Seleção Brasileira principal e hoje consigo realizar outro sonho, que é o de estar num grande clube como o Grêmio. Então minha trajetória foi difícil mas consegui vencer e consigo seguir realizar meus principais objetivos dentro do futebol feminino”.

“A gente sabe que financeiramente não dá para comparar, mesmo nos grandes clubes. Vemos que o Grêmio está se estruturando e aprimorando cada vez mais para se dedicar ao futebol feminino, mas a gente sabe que a diferença salarial é incomparável. O futebol masculino é muito mais divulgado, com a mídia sempre em cima, como a televisão, as rádios e o futebol feminino às vezes o pessoal nem sabe que vai ter o jogo, muitas vezes importante, de um campeonato brasileiro ou um clássico. Então falta um pouco da mídia se aproximar do futebol feminino, se interessar um pouco mais para divulgar. Falamos até mesmo da nossa televisão local, que quase não mostra o que acontece no Campeonato Gaúcho e do Campeonato Brasileiro, sendo que Grêmio e internacional estavam jogando, e foram poucas as vezes que mostraram alguns jogos. No Gauchão, mesmo, até agora não foi divulgado nenhum jogo na televisão, apenas alguns lances do clássico GreNal que teve mês passado. Mas nós seguimos tentando buscar o nosso espaço. Acho que o futebol feminino tenha crescido muito e eu acredito que em termos de visibilidade nós vamos, sim, no futuro, ser comparadas com o masculino”.

“Acho que a primeira coisa que teria que mudar são os pensamentos dos clubes grandes em relação ao futebol feminino. Acho que isso vem mudando ao pouco, com vários clubes de camisa que já vem dando exemplo no futebol feminino, se estruturando, como é o caso de São Paulo, Corinthians, Santos, Grêmio, Internacional, Flamengo, Fluminense, enfim, são tantos… Começa por aí. Quanto mais os grande clubes começarem a se interessar, investir, para que as grandes empresas e as principais mídias consigam acompanhar e mostrar que o Brasil tem força no futebol feminino, com um grande Campeonato Brasileiro, de qualidade para mostrar. Os Campeonatos Brasileiros Série A e série A2 são competições muito fortes, com grandes equipes, então, acho que começa por aí, mesmo. As principais federações também precisam apoiar, incentivar, assim como os clubes. Pedimos muito que a nossa Federação Gaúcha dê também o exemplo para as outras federações e comece também a se estruturar para fazer um grande Campeonato Gaúcho, começando por aqui com uma boa estrutura”.

“Com certeza! Eu me sinto uma referência, recebo muitas mensagens de muitas meninas que falam que sonham em jogar futebol profissionalmente, que sonham em chegar onde eu cheguei, que me admiram e eu sempre tento passar algum tipo de mensagem, vídeo, para que essas meninas não desistam de seus sonhos, pois um dia eu já passei por isso também. Um dia eu também já quis estar em um time grande, jogando futebol, e sempre tento passar uma mensagem positiva para que essas meninas não desistam dos seus sonhos. Já fui também em muitas palestras em escolas, para poder falar pessoalmente para essas garotas como foi minha trajetória e como é o futebol feminino, que elas não desistam de seus desejos, sonhos, e que o futebol feminino tem espaço para todo mundo”.

“Nosso apoio sempre foi muito bom, o Grêmio sempre teve um bom público nos jogos, principalmente o público feminino. Muitas mulheres gostam de assistir o futebol feminino, mais do que os homens, por exemplo. E não podemos reclamar, sempre recebemos muito apoio, muita força da nossa torcida, como da nossa torcida organizada do Grêmio. Nosso público sempre vem para nos apoiar bastante nas partidas, estamos muito bem servidas”.

“Se os clubes investirem no futebol feminino e apoiarem o futebol feminino, com certeza a sociedade e a mídia vai com certeza apoiar também. Acho também que começa muito pelas atletas, o que as atletas fazem extra-campo, se são bons exemplos, se são disciplinadas dento e fora de campo, pois acho que os clubes vão se interessar, por saber que no futebol feminino tem meninas que gostam de trabalhar de verdade, acho que começa também por nós. Nossa postura, disciplina, acredito que o caminho seja por aí, e a partir daí entra a questão do clube. Tendo boas jogadores, boas atletas, disciplinadas que gostam do que fazem e se dedicam ao que fazem, os clubes vão se interessar muto mais”.

“Meu principal sonho, desde muito cedo, foi entrar num grande clube, conquistar grandes títulos e isso aconteceu ainda quando eu era adolescente. Meu primeiro título veio com 15 anos e, depois, o sonho era chegar na Seleção Brasileira principal, que acho que é o auge do atleta. Vestir a camisa amarela, e chegar, também na seleção, a ganhar um título. Consegui esse sonho em 2003, quando ganhamos o Pan-Americano em Santo Domingo, na República Dominicana, com a Seleção principal. Com Marta, Formiga, Cristiane, todas estavam juntas neste título. Depois disso, meu outro sonho era, também, jogar no exterior, que também consegui. Lá fora ganhei títulos também, individualmente, ganhei a artilharia do campeonato, e o grupo conquistou o título de Campeã Coreana. E agora, meu outro sonho era recolocar o Grêmio na Série A, onde ele merece estar e conquistar um título com o Grêmio, e eu, como capitã, quero muito e o plantel quer muito também. Acho que esse ano tem tudo para que isso aconteça”.

“São tantas histórias engraçadas, principalmente no exterior. Lá fora eu tinha tradutora, mas nem sempre ela estava nos treinos, então quando o treino era tático, as jogadas aconteciam lindas, mas quando a bola chegava em mim, eu não sabia o que fazer. Como era um treino tático, era pura comunicação, então como eu não entendia nada, a jogada sempre parava em mim e todo mundo ria. Sem tradutora, no começo, foi bem difícil, mas, depois de um tempo, eu aprendi a falar a língua deles. Outra história engraçada foi no Pan-Americano de 2003, que nós saímos para treinar em outro lugar com a Seleção, durante a competição e teve um dia que eu fiquei conversando com o Bernardinho (ex-treinador da Seleção de Vôlei) e eles forma para o treino sem mim. Na verdade não foi uma história muito engraçada, foi mais tensa. O ônibus saiu do local sem que eu estivesse e só se deram conta lá no treinamento, já quando o treinador foi dividir a equipe titular e reserva para o treino, e daí deram conta que eu estava ausente”.

“É, costumamos dizer que as mulheres são seres mais difíceis de lidar. Mas eu acredito que a maioria das meninas, no futebol feminino, eu diria que uns 70% são muito profissionais. Aqui no Grêmio temos um ambiente muito bom, um vestiário muito unido. Algumas meninas chegaram neste ano, são meninas experientes que já passaram por outros clubes e são mais rodadas. Mas claro, às vezes rola uma conversa, um desentendimento que é normal, algumas fofocas, acho que é normal. Acho que o homem tem mais aquela coisa de ‘aconteceu no campo, morreu no campo’, com as mulheres não é assim. Muitas vezes levamos tudo muito para o lado pessoal, par ao coração e acaba arrumando alguma intriga ou alguma coisa que atrapalhe no vestiário. Mas graças a Deus aqui no Grêmio a gente se dá muito bem, o ambiente é ótimo. Mas claro, já passei por muito lugar que realmente era bem difícil de lidar”.