Luiz Antonio de Assis Brasil e o episódio dos Muckers

Inspiração | Caso dos Muckers foi romanceado pelo autor no seu livro intitulado Videiras de Cristal

Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor gaúcho nascido em 1945, em Porto Alegre, publica livros desde a década de 1970. Suas obras, que somam mais de quinze livros, ainda que sejam de romance e ficção, dizem muito sobre as vivências dos gaúchos de ontem e hoje.
Em 1990, o escritor publicou Videiras de Cristal, que conta, em 542 páginas, a história dos Muckers no Padre Eterno. A obra acompanha a trajetória dos Muckers entre os anos de 1872 a 1874. 
O Jornal Repercussão conversou com o autor a respeito do Videiras de Cristal e do seu interesse no episódio dos Muckers. Quando questionado sobre como ele ficou sabendo da história de Jacobina e seus seguidores, Assis Brasil não soube precisar o momento em que a ouviu pela primeira vez. “É uma história que sempre circulou na nossa História e em múltiplas referências em jornais e livros. É algo do conhecimento geral de qualquer pessoa do Rio Grande do Sul, e de vez em quando o assunto volta, especialmente em reportagens de rádio e TV e em jornais.”
Não apenas um escritor, Assis Brasil também é professor da Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), desde 1975, e também foi secretário de estado da Cultura do Rio Grande do Sul de 2011 até 2014, durante o mandato do ex-governador Tarso Genro.
Videiras de Cristal é um livro de romance, afirma Luiz Antonio de Assis Brasil
Luiz Antonio de Assis Brasil deixa claro que seu livro se trata de um romance, não de um relato histórico. “Eu não adaptei o fato histórico ao romance. Isso seria um absurdo. Eu escrevi um romance. Para escrevê-lo, é certo que fiz pesquisas e usei-as naquilo em que poderiam apoiar o romance, mas nunca me preocupei com a `veracidade’. Isso é domínio da História, não da Literatura, e não me interessava escrever um livro de História. Na dúvida, sempre optei pelo romance”, comenta o escritor e professor. 
Como epígrafe do livro, Assis Brasil exibe a frase de Frères Goncourt, “L’histoire est un roman qui a été; le roman est de l’histoire qui aurait pu être” , que, numa tradução literal, quer dizer:  “A história é um romance que foi; o romance é a história que poderia ter sido”.
Assis Brasil visitou Sapiranga para desenvolver a atmosfera do livro
Assis Brasil nos conta que, para compor Videiras de Cristal, ele buscou a documentação existente no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, e sua principal fonte de informação foi o livro de Moacyr Domingues, A nova face dos muckers. Ele também cita os livros de Janaína Amado, Padre Ambrósio Schupp e Leopoldo Petry. “Era o que havia, na época”, diz.
Questionamos o autor se ele havia visitado o município de Sapiranga, durante a época em que colhia material para a realização do livro. “Visitei não apenas a cidade de Sapiranga, mas também fui ao Ferrabraz, visitei os espaços onde ocorreram os episódios e falei com muitas pessoas”, responde. Segundo Assis Brasil, esta não foi uma tarefa difícil. “Tive um excelente guia e cicerone, o livreiro e homem de cultura Arti Hugenthobler. Sem ele, teria sido impossível penetrar nesse universo de pessoas e lugares.”
Em Videiras de Cristal, Jacobina aparece mais como uma influência externa nos personagens e no desenvolvimento da trama, do que como personagem principal. Sobre a construção da imagem de Jacobina, o autor diz que nunca pensou em transformá-la em personagem principal. “Para a escrita do romance, me interessavam muito mais as personagens secundárias, cada qual com seus dramas e seus traumas. Procurei fazer como que Jacobina, antes de tudo, tivesse verdade romanesca, isto é, que o leitor acreditasse nela tal como está no romance.” 
Caráter atroz do caso dos Muckers foi o que atraiu o autor
O Jornal Repercussão também questionou Assis Brasil sobre o que o fez considerar que o episódios dos Muckers fosse interessante o suficente para vir a se tornar um romance seu. “Foi o caráter atroz de que se revestiu a partir de certo momento. Eu, que conhecia a colônia alemã do RS, por ter vivido nela (em Estrela) de zero aos 15 anos, não conseguia entender como os colonos, tão pacíficos, ordeiros e respeitadores das autoridades, tinham se envolvido nessa brutalidade. Nada fechava”. Segundo o autor, o livro foi escrito para entender melhor o fenômeno e, também, como funciona a alma humana.
Humanos são todos os personagens do livro – inclusive aqueles que não estão do lado dos Muckers. “Não tomei partido, mesmo porque eticamente não me julgava autorizado a tal. Deixei isso ao leitor, a partir dos elementos do romance. Uma obra literária é o território da liberdade”.
Crédito da Foto: Douglas Machado.