Ensino de Campo Bom tem reconhecimento nacional

Exemplo | Confira entrevista exclusiva com a secretária de Educação e Cultura, Eliane dos Reis

Jornal Repercussão – O uso de tecnologias na sala de aula é bastante forte na rede municipal de ensino. De que forma os professores são incentivados a utilizarem estas ferramentas na sala de aula?
Eliane dos Reis – Quando assumi como secretária em 2009, todas as escolas de ensino fundamental, além do ginásio, contavam com laboratórios de informática. Nos primeiros meses, observamos que mesmo com as máquinas de ponta e com ferramentas, os equipamentos não eram utilizados porque não tínhamos uma pessoa lá específica para isso. Os professores também não tinham formação na inclusão digital. 
Fizemos o levantamento na rede de quais professores gostariam de trabalhar as tecnologias no laboratório de informática e desenvolvemos formações. Paralelo a formação, tivemos projetos pilotos em seis escolas de anos finais com as lousas educativas. Na compra das lousas, casamos a formação dos professores com a empresa. Não adianta comprar o equipamento se não junta a capacitação. A lousa é uma ferramenta, jamais vai substituir o professor. O professor sempre vai ser a cabeça, domina o conhecimento e domina as técnicas de como ensinar. Agora, não temos como negar, que as crianças hoje, dominam as tecnologias mais que os adultos. Isso criou um trabalho em rede e em colaboração. O conhecimento se dá junto com o uso das tecnologias. Em 2010 colocamos em todas as escolas as lousas, sempre com formação. Fico feliz com os resultados. Hoje, 90% dos professores usam, periodicamente, as tecnologias.
Jornal Repercussão – O êxito desta política vem através das premiações dos projetos com o uso de novas tecnologias. Como foi o start inicial?
Eliane dos Reis – Começou com as lousas interativas e as mesas educativas. Como os professores possuem horas para o planejamento das atividades, começaram a surgir os projetos. Um dos primeiros foi o CBB, na Escola Borges de Medeiros com a web TV, incentivados pelo professor Jorge (Cesar Coelho). Ele deu um subsídio para os professores que queriam ter projetos diferenciados, mas que apresentassem para a Secretaria primeiro quais os recursos que eram necessários, qual a carga horária e como iria se dar. Primeiro, os projetos iniciaram em caráter experimental e, mostrando resultados, se buscaram parcerias em cada escola, através de prêmios, conseguiram instrumentalizar as atividades em sala de aula. Isso facilita bastante. A prova é que há quatro anos seguidos, a gente vai com projetos, usando tecnologias em diferentes áreas do conhecimento, para concursos em nível mundial como o da Microsoft (este ano como PV News, da escola Presidente Vargas). A tecnologia pode ser muito boa ou muito ruim. Depende como conduzes. Temos trabalhado, mas é preciso reforçar os princípios éticos. Não se usa a tecnologia para detonar os colegas ou os professores. Se usa para o bem coletivo. Os projetos precisam expandir os muros da escola. Fomos muito felizes na forma que introduzimos a tecnologia junto às escolas. Não  passamos a usar a tecnologia para dizer que o município era digital. Instrumentalizamos os professores com formação na tecnologia e fazendo um trabalho colaborativo com os alunos e a comunidade.
Jornal Repercussão – Novamente, o Brasil enfrenta uma crise econômica e o governo volta a aumentar os impostos. As famílias apresentam grau de endividamento elevado e as pesquisas comprovam isso. A Secretaria de Educação em Campo Bom possui um belo programa de educação fiscal. Comente sobre o projeto.
Eliane dos Reis – Trabalhamos este tema em parceria com a Associação Comercial e Industrial (ACI) da região. Em 2014, fomos premiados novamente pelo Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Tributária do Estado do RS (Sindifisco). Em razão de tudo que estamos vendo, a educação fiscal neste ano será discutida. Temos que instrumentalizar essa juventude. Amanhã ou depois quem nos substituirá são os jovens. Hoje, conversando com um aluno da rede, ele sabe quais impostos vão para a educação, para a saúde e porque é importante. Diferente da nossa geração, da minha própria geração. Quando assumi a coordenação da Educação Infantil do Município, tive que estudar muito para entender das verbas. Se um estudante da nossa rede chegar a ser professor, coordenador, secretário ou prefeito, ele vai ter uma visão mais macro da realidade do país. Os jovens dos países mais desenvolvidos recebem estes esclarecimentos. Vamos continuar trabalhando este tema, desde a educação infantil. É claro, que neste nível, de forma mais lúdica.
Jornal Repercussão – A falta de vagas na educação infantil é um problema regional, que não afeta apenas Campo Bom. De que forma este problema é enfrentado pela Secretaria?
Eliane dos Reis – Fizemos todo um planejamento nesta área. Foram criadas cerca de 1.500 vagas em até 2015 em relação a 2009. Isso mostra que houve um planejamento de ampliação de escolas e de construção. Paralelo à isso, temos sete mil habitantes a mais. Tínhamos 59 mil em 2009 e hoje chega a 65 mil (extraoficialmente, pois os dados ainda não foram divulgados). Essas pessoas vieram para Campo Bom em busca da qualidade. E uma destas qualidades é a educação. Hoje o filho de quem tem menos condições e de quem tem muitas condições, está na escola pública. A escola pública alcançou um nível de excelência. Não é para se gabar. Acho que é o que o Brasil precisa. Independente se a escola é pública ou particular, a educação em si precisa ser valorizada. Se queremos um país melhor, mais cidadão, tudo passa pela educação. O acesso a educação infantil, das crianças de 4 a 5 anos, que é obrigatório frequentar a escola, Campo Bom atende desde 2010 essa meta. Na creche não atendemos ainda o berçário, que fica sempre um déficit de 150 vagas. Mas, por outro lado, as crianças permanecem 11 horas na escola.
Até 2016, os municípios precisam atender os 60% das crianças na creche. Hoje estamos com quase 80% de atendimento, considerando a demanda que procura, porque a creche não é obrigatória ainda. Trabalhamos com a demanda de pais que procuram por vagas. Uma coisa é o ranqueamento dos nascidos e os atendidos naquela idade. Mas, se a matrícula ainda não é obrigatória, é preciso considerar a demanda que procura. Essa é uma grande dificuldade que enfrentamos. Agora, vamos entregar a ampliação da EMEI Paulistinha, que passará a contar com berçário. Sei que não é suficiente por conta desta demanda maior de crescimento da cidade e fica complicado de conseguir sanar. Sabemos que todos têm trabalhado para superar as dificuldades.
Jornal Repercussão – Outro problema regional que as secretarias de educação enfrentam é a dificuldade na contratação de professores. Qual é a realidade de Campo Bom?
Eliane dos Reis – Querendo ou não, todo o professor que entra em licença médica, licença-maternidade, não se pode colocar um concursado no lugar dele. Se um dia ele voltar, a vaga é dele. Temos que ter então os contratos temporários e emergenciais. Existem áreas, que por mais que você faça concursos, é difícil manter um banco. É o caso da área de música. Há 30 anos atrás foi extinguido a música do currículo no Brasil. Agora em 2010, a música voltou para o currículo. Aí tu faz o quê? Se nesse meio tempo não era obrigatório e criou uma lacuna. 
Em Campo Bom, implantamos o ensino da música quando a lei passou a vigorar. Olha, vou confessar. Estamos penando para manter. Não tenho dúvidas da importância da disciplina de música. Queríamos ampliar para a Educação Infantil. Mas, a lei hoje cobra o ensino fundamental e mesmo assim temos dificuldade de manter. E a dificuldade se reflete em outras áreas. Outro exemplo é a disciplina de geografia. São poucas as universidades no Rio Grande do Sul que possuem cursos de geografia. Mas, quem passa em um concurso para ser professor de geografia, a pessoa vem para o Município, e chamam ele no IBGE, por exemplo. Onde a remuneração é maior o pessoal vai. O pessoal da matemática o mesmo caso. Temos que entender que a dinâmica de mercado mudou. O certo seria os municípios terem um aporte maior nas transferências de recursos via Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), por parte do governo federal. Hoje, 70% de tudo que arrecadamos fica com o governo federal. Aí se divide os 30% entre estado e município. Os municípios acabam ficando com as migalhas e é onde todo mundo cobra. Consequentemente, o piso seria maior. Mas, não adianta aumentar o piso e deixar as Prefeituras pagarem, porque fica insustentável financeiramente. Hoje todas as prefeituras estão enfrentando a Lei de Responsabilidade Fiscal. 
Jornal Repercussão – Como o prefeito Faisal Karam está no segundo mandato, a legislação impede que ele concorra novamente. E um dos nomes fortes é o seu. Como encara essa hipótese de ser a sucessora do prefeito em 2016?
Eliane dos Reis – Acho que é uma decisão que o partido terá que tomar. Não é uma decisão minha. Na verdade, não é só o meu nome que está sendo cogitado. Fico lisonjeada pelo fato de ter o trabalho reconhecido pelo prefeito, pelo partido e a população. Mas, isso não é uma decisão da secretária Eliane, e sim do partido.
Jornal Repercussão -Você tem vontade de ser prefeita?
Eliane dos Reis – Nunca almejei. Confesso que em um momento até aspirei. Mas, nunca tive vontade. Não fui vereadora, não por falta de convites. Quando eu era coordenadora de Educação Infantil, meu nome acabava surgindo. Sou política e isso corre muito forte nas minhas veias. Quero e gosto de ajudar meu partido. Tudo que eu faço na educação não é pensando em chegar em algum cargo. Estar secretária ou estar prefeita é uma oportunidade de ajudar a comunidade. Sempre encarei desta forma. Onde eu trabalhei procurei fazer a diferença. Quando se trabalha com crianças, é necessário pensar que os pais estão colocando estas preciosidades em nossas mãos. Temos um papel fundamental junto com a família de fazer com que essas crianças, realmente, ascendam. A educação não faz nada sozinha. As famílias em Campo Bom são bastante presentes na escola. Elas valorizam muito a educação.