Com dívida de R$638,5 milhões, Paquetá apresenta pedido de recuperação judicial

Sapiranga – O pedido de recuperação judicial da Paquetá The Shoe Company foi apresentado nesta segunda-feira, 24, às 22h, na comarca de Sapiranga. O valor das dívidas, coberto pela proposta, é de R$638,5 milhões.

O processo foi apresentado após 10 meses de preparativos e trabalho realizado pelo grupo que assessora a empresa, formado pela Carpena Advogados (coordenador jurídico do projeto), Galeazzi (advisor financeiro) e o escritório de advocacia João Pedro Scalzilli (responsável pela condução processual).

O faturamento da Paquetá é de cerca de R$1,3 bilhão ao ano. No total, o grupo conta com 10.250 funcionários, 11 fábricas, 148 lojas próprias e 86 franquias.

“O propósito da medida recuperacional não é somente equalizar algumas das questões financeiras da Companhia, mas, sobretudo e principalmente, permitir que seja capitalizada e receba investimentos – nacional ou internacional – para crescer rapidamente nos próximos anos”, destacou Márcio Louzada Carpena, sócio da Carpena Advogados.

A recuperação judicial proposta, segundo Carpena, figura como mais um passo, de um plano maior de ação, para permitir que o Grupo supere algumas dificuldades pontuais e rapidamente volte a superar seus próprios números.

Novas demissões não estão previstas em nenhuma das unidades. Dos 600 desligamentos ocorridos nas últimas semanas, apenas 80 foram em Sapiranga. O cenário, conforme o advogado, é de estabilidade e até de contratações a médio e longo prazos.

“O objetivo principal da Paquetá é ser capitalizada e aumentar seu tamanho, o que se mostra mais fácil de ocorrer em uma Recuperação Judicial. Estamos propondo uma medida legal que visa ao pagamento de alguns credores. Ela está sendo deduzida para a Companhia ter, de forma transparente, negociação com todos em conjunto e evitar especulações de concessões de privilégios a apenas alguns. Devemos olhar a questão pelo aspecto positivo: além de favorecer o pagamento transparente, caminhos interessantes se abrem para uma empresa em recuperação, como, por exemplo, aumento de algumas linhas de crédito, seguranças aos fornecedores (que passam a ser credores especiais) e a grande possibilidade de receber aumento de capital, caso a empresa seja geradora de caixa, como é o caso da Paquetá” enfatiza Carpena.

De acordo com o advogado, nos últimos meses, a Paquetá já foi sondada e mantém conversas com alguns fundos e investidores. “A Companhia vem despertando interesse inclusive de fundos internacionais. Se for capitalizada e continuar entregando a qualidade que emprega em todos seus produtos e para todos seus clientes (alguns grandes players mundiais), o faturamento de R$ 1.3bi pode disparar. Podemos, se tudo der certo, estar diante de uma empresa que pode abrir capital em bolsa dentro de 5 anos” pondera Carpena.

O grupo não descarta medidas como a venda de ativos ou de parte do negócio, como a rede de varejo Esposende, presente apenas no Nordeste. “Estamos olhando para frente e queremos o crescimento da Companhia, o que pode se dar por meio da venda, permuta ou algum outro tipo de negociação dos ativos” registrou o advogado.

A produção segue normalmente, inclusive de marcas como Adidas e Asics. Os principais clientes já estão cientes e seguem com contratos mantidos com a empresa. Produção de marcas próprias também, segue normalmente. Sobre um possível cenário de falência, Carpena foi enfático. “De jeito nenhum. Não há a mínima possibilidade”, declarou.

Em agosto do ano passado, a empresa anunciou a troca do CEO, quando Luiz Augusto Polacchini assumiu no lugar de Hermínio de Freitas. Polacchini possui vasta experiência financeira e, durante três décadas, atuou como diretor da Gerdau.

Texto e foto: Sabrina Strack