Vale do Sinos registra chuva recorde

Na história | Volume de chuva é o maior em 30 anos. Estragos só não foram maiores segundo meteorologista, porque volumes de chuva não foram iguais nas nascentes

A chuva provocada pelo fenômeno El Niño foi recorde: 382,8 milímetros em pouco menos de nove dias na região. O saldo não podia ser outro. Ruas e avenidas próximas de arroios alagadas, casas alagadas, serviços públicos suspensos e moradores precisando de amparo. Os cálculos dos prejuízos ainda são contabilizados pelas prefeituras. Araricá estima perdas que podem chegar a R$ 1 milhão. Cerca de 1.800 campo-bonenses foram atingidos. Aproximadamente 58 pessoas ficaram desabrigadas e outras 700 ficaram desalojadas. Escolas campo-bonenses também foram afetadas pela cheia. Em Sapiranga, pouco mais de 30 pessoas ainda sentem os reflexos da cheia do Rio dos Sinos.

Para amenizar os alagamentos na área central, a Prefeitura de Sapiranga enviará ao governo do Estado um estudo com diversas ações. A proposta deverá ser incluída no pacote de Estudos e Projetos para Minimização do Efeito das Cheias na Bacia do Rio dos Sinos, organizado pela Metroplan.

Outra alternativa estudada pela Prefeitura é o desvio do Arroio Centenário, para evitar que ele se encontre com o Arroio Sapiranga (no encontro deles, na Rua Vasco da Gama). A Prefeitura diz que um dos problemas que causa os alagamentos na cidade atualmente é a canalização pluvial que concentra seu fluxo nestes arroios centrais, que acabam convergindo e alagando a área central em casos de chuvas contínuas e muito fortes.

Estrada Sapiranga/Dois Irmãos sofre com desmoronamento

O elevado índice de precipitação forçou a Prefeitura de Sapiranga a interditar a Estrada Kramer-Eck, que liga Sapiranga a Dois Irmãos. Técnicos da Secretaria de Planejamento da Prefeitura conferiram a situação e por motivos de prudência e segurança optaram em fechar provisoriamente a estrada. Em conjunto com a Prefeitura de Dois Irmãos, será buscado uma alternativa para liberar o tráfego, mesmo que parcialmente.

O trecho mais comprometido é na subida, em meio à curvas, no sentido Sapiranga-Dois Irmãos. Em um ponto, a estrada cedeu em meia pista e apresenta infiltrações, indicando a necessidade de reparos mais profundos.

Com a chuva da segunda-feira (20), parte de uma encosta junto à estrada desmoronou, danificando o asfalto. A Prefeitura de Sapiranga vai buscar junto ao Estado e ao governo federal recursos para reparar os estragos causados pelas fortes chuvas da última semana. Devido ao acúmulo de problemas, com pessoas ilhadas e desalojadas em áreas ribeirinhas e aos prejuízos em ruas e estradas, a Prefeitura de Sapiranga está analisando pedido de situação de emergência.

Estrada Campo Bom/Dois Irmãos também sofre com deslizamentos

Outro caminho rumo à Dois Irmãos e que sofreu com deslizamentos de terras é a Estrada Campo Bom/Dois Irmãos. O local onde ocorreu o deslizamento fica cerca de 1,2 quilômetros após o início da Estrada junto à RS-239, às margens de um posto de combustíveis. A situação ocorreu na segunda-feira (20), e no mesmo dia, a Secretaria de Obras levou máquinas para desobstruir a estrada e liberar o trânsito de veículos no local.

Meteorologista destaca as razões para a região ter sofrido com a chuva

Na última semana, a Estação Climatológica de Campo Bom registrou em nove dias 382,8 milímetros de chuva. O percentual é mais que o dobro do previsto para o mês todo de julho (a média é de 162,8 milímetros). “Este é o mês mais chuvoso em trinta anos, desde que a estação foi implantada”, destaca o coordenador da Estação, Nilson Wolff. Conforme o meteorologista, as fortes chuvas são a confirmação do fenômeno El Niño. Quando o El Niño atua no sul do Brasil causa excesso de chuva na região, sem que as chuvas ocorram em outras áreas do país. De acordo com Wolff, a ausência de massas de ar frio intensas também contribuem para que as chuvas persistam. “O normal, nessa época do ano, é que ocorram uma das duas coisas: ou frio ou chuva. O calor apenas chama a chuva e traz umidade, virando em chuva novamente. Como não temos grandes massas de ar polar chegando na região, a instabilidade acaba retornando. Há uma massa de ar frio, de média intensidade, se deslocando para o sul. Há previsão de retorno das chuvas na sexta-feira”, explica o coordenador.

O meteorologista explica que o El Niño foi o causador de tantos estragos. “Foi um período anormal. A enchente só não foi maior porque não choveu na mesma proporção nas cabeceiras do Rio dos Sinos. O El Niño costuma durar de seis a sete meses e ainda corremos risco de novas enchentes. Os meses de agosto e setembro costumam ser bastante chuvosos”, alerta Wolff.

Reflexos do temporal nos municípios

Situação em Nova Hartz
A maior parte dos danos no município foram registrados nas áreas rurais. Ruas que apresentavam problemas, tiveram amplificados os problemas. Na Avenida Irmãos Hartz, a Prefeitura providenciou uma ação emergencial para recuperar as margens do Arroio Grande, que acabou desmoronando com a força da correnteza. Pequenos deslizamentos foram registrados na região do Morro Canudos. Apenas uma família do bairro Primavera precisou ser removida para casa de familiares.

Situação em Araricá
Os prejuízos causados pelo temporal desta semana no município foram de aproximadamente R$ 1 milhão. Um levantamento fotográfico foi elaborado e a Prefeitura tenta incluir o município no decreto de emergência coletivo do governo do estado. “As ruas rurais sofreram mais. Temos um deslizamento grave na Estrada Auto Ferrabraz e na Rodolfo Brenner, que leva para Arroio da Bica, em Nova Hartz”, revela o secretário de Agricultura, Ademir Pedro Kautzmann. Para deixar as ruas em dia após o temporal, a Prefeitura estima que os custos ultrapassem os R$ 300 mil. Em razão da cheia do Rio dos Sinos, cerca de cinco famílias continuam abrigadas no barracão da Igreja Católica do bairro Campo da Brazina. “Iniciaremos a recuperação dos pontos danificados onde há maior fluxo”, destaca o secretário Kautzmann.