Tradicionalistas se despedem de Adão Preto, ícone do tropeirismo

Campo Bom – Um dos tradicionalistas campo-bonenes mais emblemáticos, Adão Preto, faleceu na quinta-feira (22). Amigos comentaram à reportagem que o idoso, de 94 anos, apresentava problemas de saúde há algumas semanas. O velório de Adão Manoel dos Reis, ocorrerá a partir das 11 horas na Capela do Cemitério Municipal de Campo Bom. O sepultamento será em São Francisco de Paula.

 

Em 2018, Adão foi homenageado na Assembleia Legislativa durante os festejos Farroupilhas e por sua ligação com o tropeirismo. Na oportunidade, ele recebeu a medalha Mérito Farroupilha, uma das maiores condecorações concedidas pela Assembleia Legislativa.

 

Um breve histórico de Adão Preto
Em 26 março de 1927, nascia no interior de São Francisco de Paula, Adão Manoel dos Reis. Adão Preto, como é conhecido, ficou órfão de mãe logo ao nascer, seu pai então o entregou a família Lopes na qual trabalhava. A sua mãe de criação, fazendeira da região com um casal de filhos biológicos também ficou viúva logo em seguida, sendo que Adão, o único negro na família, cresceu desde cedo camperiando a cavalo pela fazenda. Tanto que, aos 15 anos, ele já fazia todas as lidas da fazenda e logo em seguida assumiu a função de capataz, pois sua mãe depositava plena confiança para administrar a fazenda, em meados de 45.

Foi por esta época que se iniciou sua jornada de peão e tropeiro, pois junto de sua mãe e seu irmão de criação saiam da fazenda em São Francisco de Paula para vender queijo em vacaria e comprar mantimentos para eles e vizinhos, no lombo de mulas.

Mais tarde suas tropeiradas eram só ele e seu irmão de criação que o acompanhava, quando levavam tropas de gado para vender em matadouros da região metropolitana, mais precisamente o de Viamão, tropiou varas de porcos de Jaquirana até Rolante (tropas de 150 a 200 porcos ), também faziam viagens para comprar e buscar mantimentos diversos da região litorânea de RS e SC para as fazendas de cima da serra, sendo que os cargueiros eram mulas em média de 20 a 25 animais conduzido pela égua madrinha, trazendo cada uma delas 90kg de carga.

 

Nesta passagem de sua vida os negócios eram feitos na palavra e no fio do bigode, seu Adão tanto comprava mantimentos para as fazendas como vendia tropas de gado aos matadouros, mas o fator mais peculiar que os lotes de gado vendido aos matadouros eram pesados na balança de São Francisco e conferido pelo seu Adão o qual até hoje não sabe ler e nem escrever, e levava estas marcações em sua memória até o final da viagem.

Adão era a única pessoa viva de sua família biológica e adotiva, seu carisma é inexplicável tanto em Campo Bom quanto nas cidades de cima da Serra por onde passou. Sua memória também é invejável, pois relata os fatos nos detalhes.

 

Adão Preto foi acolhido pelo CTG M’Bororé, onde se tornou idealizador e organizador da cavalgada da Primavera, atuando até hoje na entidade.