Sem fugir da luta

Região – Tamanha efervecência social não era vista no país há décadas. Uma onda de manifestações (a maioria organizada pelas redes sociais) toma conta das principais cidades brasileiras, e no Vale do Sinos, não poderia ser diferente.
Inspirados pelos mais de 300 mil brasileiros que saíram às ruas no início da semana, dezenas de jovens de Sapiranga prometem uma passeata para a tarde desta quinta (20). Mas, afinal, estas manifestações manterão o  fôlego até quando? Quem são os seus líderes? 
O professor de filosofia e ciência política da Feevale, Henrique Keske, destaca que as atuais movimentações e reivindicações são difusas e não possuem um ordenamento específico, e por isso, acabarão como um fogo de palha. “Quem organiza um movimento desta natureza deve propor uma mudança política e não é o que ocorre atualmente”, lembrando que falta um direcionamento da proposta política que o movimento pretende.
O professor, que mora em Porto Alegre, cita que uma das suas principais preocupações com o atual cenário é de que o crime organizado se infiltre nas manifestações provocando a desordem. “Toda liberdade de manifestação deve ser submetida à manutenção da ordem. O impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello foi assim”, recorda o professor. Keske ressalta que as manifestações foram um recado expresso aos políticos, que precisam refletir sobre o atual cenário.
Onde há promessa de manifestações:
a União dos Estudantes de Campo Bom (UECB) e lideranças municipais estão convocando a população para um grande ato no próximo sábado (22). A concentração ocorre em frente do Centro Cultural Marcelo Breuning. A saída está marcada para às 17 horas. Em Sapiranga, uma manifestação deve ocorrer nesta quinta-feira, apartir das 18h30, com concentração no Parque do Imigrante. O movimento é organizado por estudantes e o Movimento da Diversidade. Em Nova Hartz, um ato também pode ocorrer, mas na próxima quarta-feira(26). Ainda não há definições sobre o ponto de concentração e o trajeto.
Manipulação é citada:
*Henrique Keske lamentou o fato de em algumas cidades, as manifestações (que começaram pacíficas), terem descambado para atos de vandalismo. “Sempre que eu coloco violência, tanto da parte de quem reivindica quanto da autoridade policial eu perco a razão”, reflete.
*O professor comentou ainda que é necessário superar o mito em torno das redes sociais. “Se discute que elas não são passíveis de manipulação, mas elas são, sim, como qualquer outro meio de comunicação de massa”, questionando a espontaneidade do movimento .
*Sobre o perfil dos manifestantes, o professor destaca ainda que ainda não é possível estabelecer um padrão. “Me parece ser um movimento anárquico”, comenta.
*Nos atos em Porto Alegre, foi possível perceber a presença de bandeiras partidárias nas manifestações, mas na maioria, conforme o professor, a classe política foi deixada de lado pelos movimentos sociais que estão na rua protestando. “Temos um instrumento democrático para demonstrar nossa insatisfação e ele se chama voto. Se os que estão no poder não representam os nossos pensamentos, não votemos mais neles”, pondera.
*O presidente da União dos Estudantes de Campo Bom, Wesley Sales, diz que a manifestação do próximo sábado (22), terá como tema algumas bandeiras defendidas nacionalmente, sem esquecer dos problemas locais como o Hospital Lauro Réus e o transporte público oferecido.