Sapiranga 67 anos: Casa centenária pertence à mesma família há quase 130 anos

Sapiranga – Na área urbana de Sapiranga, muitas são as casas que remetem ao início da formação da cidade como estrutura, nos anos 40 e 50, quando a movimentação para emancipação começava. Alguns destes imóveis foram conservados, mas a grande maioria deu lugar a prédios mais modernos.
Na rua Major Bento Alves, uma construção chama a atenção, principalmente por ser mais antiga do que a maioria dos casarões da área central. Trata-se da casa da família Wolff, que foi construída em 1894, portanto, tem 128 anos.
O imóvel está localizado em um ponto estratégico para deslocamento na época, pois a rua Major Bento Alves era usada como acesso da ‘rua principal’ de Sapiranga (João Corrêa) em direção à Taquara, tornando o caminho bem movimentado.
A casa foi construída por Felipe Adão Wolff, que o fez com as próprias mãos, e a ajuda da família em espécie de mutirão, o que era comum na época. Adão nasceu em 1850 e era casado com Elisabeth Strassburguer. Ele viveu na casa até seu falecimento, acometido pela terrível Gripe Espanhola, uma pandemia que atingiu o mundo inteiro no início do século XX, situação parecida com a que vivemos um século mais tarde.

A viúva, Elisabeth, continuou no imóvel e morava com o filho Ernesto Edgar Wolff, casado com Ilsa Wolff . O casal teve quatro filhos : Adão Edgar Wolf (conhecido por Meno, em memória), João Edmar Wolff, Mariana Wolff e Eliana Wolff, todos criados em Sapiranga e que foram adquirindo outras propriedades, conforme foram se casando. Ilsa viveu na casa até o final de sua vida.

No período posterior a casa ficou fechada por alguns anos, mas a família sempre fez questão de manter a propriedade, de um local tão significativo para a história deles, e também da cidade.
Há cerca de três anos, a residência passou por uma reforma, o que deu nova vida ao imóvel, mas sem perder características originais como o assoalho, janelas e vidraças, e algumas colunas de sustentação na varanda, compostas por pedra e barro.

Hoje, no local vive Mabel Viana Pires e sua família. Mabel é arquiteta, e entende a importância da preservação dessa casa como registro da Sapiranga do século XIX e também para a sua origem, já que é tataraneta de Felipe Adão Wolff.

 

Casa de imigrantes alemães

A história de Sapiranga se confunde com a de várias famílias de imigrantes alemães que chegaram à região. “A gente lembra muita coisa de criança, nascemos junto com Sapiranga”, comenta com o forte sotaque de quem ainda pratica o dialeto germânico, Geraldo Muller, nascido na Picada São Jacob. A sua esposa, Anita Lúcia Stelzer Muller também é sapiranguense e vive com a família até hoje em uma casa no estilo enxaimel, técnica usada pelos imigrantes que acreditavam encontrar aqui no Brasil as mesmas nevascas do norte alemão. O telhado foi trocado e a casa recebe pintura de manutenção, mas a estrutura é toda original.
O imóvel não tem um registro formal do ano de construção, mas a ocupação dos Stelzer data de 1928, quando Otto e Martha Stelzer adquiriram o local. O pai de Otto, Jorge Gustavo José Stelzer, veio da Alemanha em um navio clandestino, possivelmente ainda no século XIX e teve o nome ‘abrasileirado’ na documentação tirada em 1918. Dona Anita é a filha mais nova de Otto Stelzer e cresceu na casa junto com os irmãos. Casou-se e vive no local, cuidadosamente preservado, até hoje. “Dizem que era um salão antigo, da comunidade, era maior ainda”, conta.
Mais do que abrigar a trajetória de uma família, a casa, no alto de uma das colinas na Picada Schneider, é um documento histórico para toda a comunidade de Sapiranga, que também possui outras construções do tipo. A propriedade da família tem outra construção histórica onde vivem Carmem Stelzer Scholl e Vilmar Scholl, filha e genro, que também criaram seus filhos no local.
“Aqui sempre esteve ocupada, nunca chegou a ser abandonada”, comenta seu Geraldo, como argumento para a conservação do imóvel. E que a casa dos Stelzer Muller fique em pé por muitos anos, como registro e homenagem aos primeiros sapiranguenses.

74 anos sob a mesma terra

No próximo dia 6 de março, Anita Stelzer completa 74 anos. “Nasci e acho que vou morrer por aqui mesmo”, comenta, bem-humorada. Quando a família recebeu a nossa visita, mostrou vários documentos e fotografias que detalham a formação do município e das relações entre as famílias. “Nos criamos por aqui, os Stelzer, os Wasem, todo mundo junto, as crianças eram criadas misturadas”, relembra dona Anita. Na foto abaixo, estão Martha e Otto Stelzer e os filhos, em 1950. Anita, com dois aninhos, na cadeira. Na imagem acima, Geraldo, Anita, Carmem e Vilmar, quase no mesmo ponto, em frente à residência com base de pedras.