Quando a cidade deixa de ser atraente e o campo garante sustento e qualidade de vida

* por Fábio Radke

A jovem da localidade de Picada Verão, Júlia Cristina Scherer, de 22 anos, nasceu em uma família de agricultores, e até chegou a ser funcionária de um aviário durante cinco anos. Voltou para casa aos 18 anos, e ao lado do namorado Robert Duart, 25, concentra os esforços em ajudar os familiares: “começamos vendendo na rua, depois conseguimos a feira de Sapiranga em quartas-feiras, a merenda escolar e fomos nos estabelecendo. Hoje, fazemos três feiras por semana, entregamos panificados e moranga descascada para merenda escolar”, destacou.
Júlia também faz parte do grupo Koloniegeschmack, há um ano e meio. Ela acredita que não há mais espaço para o preconceito para quem vive no campo: “isso vem diminuindo bastante, eu acredito, por que eu mesma na escola sofria muito com piadinhas, e por isso tinha vergonha e achava que a melhor solução era ir para a cidade. Mas se nós, jovens, batermos no peito e mostrarmos que é tão bonito trabalhar com a terra, levar alimento para a mesa das pessoas, e que isso é muito nobre, esse preconceito tende a dar espaço à admiração”, afirma Júlia. Hoje, a jovem reforça o sentimento de satisfação: “hoje, sem dúvida, não me vejo fazendo outra coisa que não seja isso. Não me vejo em outro lugar que não aqui”, finaliza.

Júlia deixou emprego de lado e hoje com o namorado vive da agricultura.
Foto: Arquivo Pessoal

Esforços conjuntos

Valdes Cavalheiro de Araújo, secretário municipal de agricultura de Sapiranga
“Seguimos buscando mecanismos para fomentar a sucessão na zona rural e estamos sempre atentos a reduzir o êxodo. Praticamente inexistia a inspeção de produtos, hoje temos um grupo de orgânicos, logo será entregue um novo prédio para as feiras do produtor que hoje acontecem em quartas e sextas-feiras, temos o grupo de mulheres, que em todo domingo, vendem seus produtos”, citou. O secretário ressalta que os jovens somente vão permanecer se o Poder Público tiver a mentalidade de provar aos jovens com iniciativas que é possível administrar gerando renda e sobreviver tranquilamente da agricultura familiar”.

Angelisa Silveira, extensionista da Emater/Ascar em Sapiranga
“Entrevistas em 2018 apontaram problemas enfrentados por jovens que permanecem no campo: “surgiu o conflito de gerações, a falta de apoio, a masculinização do trabalho rural com as meninas indo embora, a falta de voz ativa na hora da tomada de decisão”, exemplificou. Angelisa informou que um trabalho abordando a sucessão foi desenvolvido em junho durante seminário de agroindústrias: “tivemos a presença de uma família de uma cidade vizinha que apresentou como era essa divisão. Hoje, temos até exemplos de jovens que após ganharem pouco e serem até mesmo explorados na cidade, acabam voltando para casa”, afirma.