Programa Mais Médicos completa três anos de existência

Avaliação | Gestores municipais avaliam período em que profissionais cubanos e brasileiros ajudaram a interiorizar atuação médica nos pequenos municípios brasileiros. Porém, experiência está encerrando

Região – Prestes a completar três anos de atuação nos municípios da região, o Programa Mais Médicos foi uma iniciativa do Governo Federal para trazer reforços à saúde nas cidades do interior do país. Um ciclo do Programa, implantado na região em 2013, vai chegando ao fim neste ano.

É o que explica Jadiel da Rosa, coordenador das Estratégias da Família de Sapiranga – os cinco médicos que atuam no município sapiranguense estão inseridos em ESFs. “O convênio que o Governo Federal tem com Cuba prevê datas: os médicos cubanos vieram para cá sabendo que voltariam, vieram para cá em uma missão. Agora, o programa deve ter novas fases. Ainda não temos informações do Ministério da Saúde, mas o que deve ocorrer é uma nova fase do programa, na qual mandariam novos médicos para repor os que estão indo embora.” Ele explica que, para fazer parte do programa, os municípios devem se cadastrar junto ao Ministério da Saúde. “O programa ocorre via Ministério da Saúde. O município faz esse cadastro, onde constam várias informações sobre o perfil da cidade, quantidade de atendimentos por dia, quantos procedimentos são feitos, população. Cada município deve atender a uma série de metas para poder participar do programa, para promover a saúde. Uma delas é justamente ter a Estratégia da Saúde no município.”

Médica em Sapiranga até agosto

Trabalhando de segunda a quinta-feira na Estratégia da Família (ESF) na Morada São Luiz, a médica cubana Rita Dianelis Morales Alonso atua no município de Sapiranga através do Programa Mais Médicos. “Vim para o Brasil trabalhar na medicina da família e descobri que aqui algumas coisas são semelhantes à Cuba, outras são feitas de formas diferentes. Quando cheguei aqui, a dificuldade que tínhamos era que o encaminhamento dos pacientes à especialização era demorado. Agora, esse sistema de encaminhamento mudou e, qualquer coisa que precisamos, discutimos direto com o especialista. Essa mudança nos ajudou no trabalho, nos sentimos mais seguros nele”, explica a médica. “Me sinto bem aqui, acho que o que fazemos funciona. Agora, com essa mudança nos encaminhamentos, o trabalho está muito melhor, podemos acompanhar o paciente”.

A realidade em Araricá e Nova Hartz

Para o diretor de Saúde de Araricá, João Nilmar da Silveira, a chegada da médica cubana, Alba Rosa Elizalde, em 2013, foi um ganho enorme para o Município. “Havia um pouco de receio, mas foi uma surpresa boa e uma experiência positiva recebê-la. A comunidade adora a Alba”, destaca o diretor. Porém, mesmo com a destacada atuação, por força maior, o período de intercâmbio da profissional em Araricá está chegando ao fim. “Quando ela sair de férias nas próximas semanas, ela não voltará mais a atuar conosco devido ao fim do contrato, que era de 36 meses, entre o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)”, informa o diretor.

Durante o período em que a profissional atuou em Araricá, o Município custeou despesas com internet, aluguel, energia elétrica, TV por assinatura e internet. “Estas despesas giravam em torno de R$ 1.700/mês”.

A secretária de Saúde de Nova Hartz, Franciane Rocha, destaca que o Programa Mais Médicos veio para auxiliar o atendimento à população na atenção básica. “Ainda contou favoravelmente o fator econômico, que se tornou um valor mais baixo de custeio do que com os médicos brasileiros”, pondera a secretária. Franciane conta que Nova Hartz chegou a contar com três médicas dentro do Programa (duas cubanas e uma brasileira). “Considero importante o Programa, pois no início houve muita resistência. Porém, a política de humanização dos profissionais cubanos é diferente dos brasileiros. Nas comunidades mais vulneráveis, mais carentes, as médicas cubanas foram recebidas numa boa, diminuindo nossa carência na área médica”, contextualiza a secretária.

Mensalmente, Nova Hartz repassa cerca de R$ 2.300 que são usados pelas profissionais para custear despesas com aluguel, energia elétrica e alimentação.

Mais Médicos presente em Campo Vicente, em Nova Hartz

Na UBS Campo Vicente, em Nova Hartz, a médica Sobeida Quiala Ortiz trabalha através do programa Mais Médicos. Atuando há dois anos e cinco meses no município, a médica cubana já acumulou experiências em países como Venezuela e Haiti. “Visitando outros países, temos contatos com outras crenças e culturais, o que tem sido algo bom. A experiência aqui em Nova Hartz tem sido muito boa, acho que também tem sido algo bom para os pacientes”, diz a médica, que passou por um período de adaptação aqui. “Foi um pouco difícil no começo, mas sempre entendi o que as pessoas falavam para mim. Aqui em Campo Vicente fizemos várias reuniões, com a equipe médica e as enfermeiras. Trabalhamos sempre muito unidos por aqui. Também temos um dia que fazemos um período diferenciado de atendimento, das 23h30 às 8h, para os trabalhadores que não podem se consultar em horário convencional.” Quanto à estrutura, Sobeida crê que é adequada para o trabalho. “Claro que há sempre algo a melhorar, mas temos o suporte necessário para trabalhar”, considera a médica, que deve retornar neste ano à Cuba.

Renovação não será solicitada em Campo Bom

Conforme a secretária de Saúde, Dorothea Thobe, Campo Bom está se desligando do programa, pois ele se tornou inviável para o município: coube à Prefeitura o trabalho burocrático, a equipe que possui o médico do programa teve diminuição de repasse pelo Ministério da Saúde, cabendo à Administração custear. O município tem o compromisso de pagar moradia, alimentação e transporte para a médica, deixando o custo ainda maior, por isso, optaram pelo desvinculamento do Mais Médicos.

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