Professora Dóris narra episódios que marcaram o surgimento do Hospital

Por Dóris Rejane Fernandes

Sapiranga -A Sociedade Beneficente Sapiranguense é resultado de uma construção comunitária de um hospital, é uma descrição da história de uma instituição de saúde filantrópica, suas fases e evolução até o presente.
A Sociedade Beneficente Sapiranguense nasceu de conversas nos ensaios do Coral masculino da Sociedade de Canto de Sapiranga na década de 1940 e se concretizou com a criação de uma sociedade em 1944.
Inicialmente, entre os moradores havia duas correntes: uma defendia a criação de um hospital para a comunidade haja vista aos índices de moradores sem condições de buscar fora este tipo de atendimento. Esta ala era liderada por Willy Oscar Konrath e pela maioria da comunidade. O outro grupo defendia a proposta de construir uma clínica nos moldes das existentes em Novo Hamburgo e Taquara.

Em maio de 1945 foi realizada a primeira festa em benefício da construção do Hospital e desta forma iniciar uma conta para tal.

No período de 1944 até 1951 foram realizadas reuniões de planejamento, festejos para arrecadação de fundos, churrascadas, chás para senhoras, apresentações teatrais e a coleta de doações através de livro de ouro, prata ou simples. Em 1950-51, o SESI foi decisivo para inauguração do Hospital com a doação de equipamentos.
A primeira contribuição para a construção do hospital foi dada por Reinaldo Klein. Alfredo Jacobus registrou sua contribuição para o início das atividades: a pedra fundamental. Não era bem “a” pedra, mas várias pedras que concretadas formariam o marco fundamental. O erguimento do primeiro espaço foi realizado pelo construtor licenciado Oscar Arlindo Venter. Na oportunidade fora feito uma planta de autoria de E. R. Rehüler com orientações do construtor e do médico Dr. Décio Gomes Pereira.

Ampliações integram história do hospital

Passados cinco anos da inauguração do hospital este se mostrou pequeno, levando a decisão de ampliar o espaço físico. Era necessário adquirir terro ao lado, fazer o projeto arquitetônico e a construção. Isso foi assumido pela diretoria liderada por Willy Oscar Konrath e apoiado pelo médico Décio Gomes Pereira e posteriormente pelo Dr. João Ewaristo Bauer.

O período de 1956 a 1968 foi mais longo do que os anteriores. Doze anos para reunir a verba necessária. Em junho de 1968, na mesma sessão, o Presidente, Willy Oscar Konrath, comunica o recebimento de verba para a obra, que foi recebida por ele juntamente com Arnoldo Wingert:

O sr. Presidente ainda informou o recebimento da 1ª parcela de “Pão para o Mundo” no valor de NCr$ 71.154,00 (setenta e um mil cento cinquenta quatro cruzeiros novos) que foi depositado no Banco Nacional do Comércio & Cia em conta especial de “Pro-construção e equipamento”. A entidade, estabelecida na Suíça, mas pertencente a Igreja Evangélica Luterana da Alemanha Ocidental aprovou o projeto encaminhado pela Sociedade Beneficente Sapiranguense para prestar serviços a uma comunidade pequena, formada basicamente por sua ascendência alemã. O compromisso assumido era longo, 25 anos, porém aceito pela Diretoria e uma vez colocado em assembleia, pelos associados também foi aprovado. O capital necessário chegou 15 anos após o início da campanha. Havia necessidade de muito trabalho, pois qualquer deslize estava em jogo a devolução do investimento estrangeiro.

Etapa de ampliação iniciou em 1988 e se estendeu até 1996

A responsabilidade era grande, mas a vontade de ver a ampliação concluída era maior. Seria a última obra do Presidente Willy Oscar Konrath, como diretor da Sociedade. Com esta verba foi construída a ala que hoje faz atendimentos pelo S.U.S. Em 1982, novas reuniões foram realizadas pois a área para atendimento a saúde da população de Sapiranga pelo hospital estava pequena. A reunião ocorreu e iniciava-se desta forma a primeira fase da ampliação do Hospital. Esta etapa durou de 1988 até 1991, quando foi paralisada por seis anos, até 1996. A decisão dos convidados para a ampliação recebeu um forte apoio. Arlindo Weber, empresário local de sucesso e de credibilidade, visionário e defensor da proposta de ampliação do Hospital fortaleceu a adesão dos demais. Esta participação foi seguida pelas demais empresas calçadistas de Sapiranga.

Neste momento a cidade passava por um período de prosperidade causada pelo desenvolvimento da indústria calçadista. O desenvolvimento econômico permitiu a ampliação do hospital nesta primeira etapa, visto que o montante para este custeio proveio da iniciativa privada local, sem contribuição de outras esferas políticas.

Sefrin coordenou arrecadação para obra

Para que processo de arrecadação e pagamento da obra se efetivasse, Leopoldo Luis Sefrin foi contratado para fazer a arrecadação mensal, pagamentos e a contabilidade desta negociação. Sua tarefa seguia passos: primeiro ligar e marcar o dia do recebimento da contribuição; segundo, recolher e conferir depósitos bancários; terceiro fazer o registro contábil .

Para facilitar o andamento das atividades de construção do hospital foi criada uma comissão para tal, com mais autonomia e desconcentrando atividades.

Empresários foram decisivos para dar continuidade nas obras do Hospital

A construção seria encabeçada pela Comissão escolhida e a administração e manutenção do Hospital seria tarefa da diretoria.

A Comissão reuniu-se na sala de reuniões do Sindicato das Indústrias de Calçado de Sapiranga. A reunião foi aberta pelo Presidente da Sociedade Beneficente Sapiranguense, Eduardo Venter.

Esta Comissão trabalhou com reuniões ora mensais ora semanais dependendo das atividades de levantamento de obras, relatórios de arquitetos, acompanhamento das obras, arredação de verbas junto a comunidade.

As fábricas iniciadas por estes empresários reuniram inúmeros trabalhadores, vindos de várias regiões do Estado do Rio Grande do Sul, do oeste catarinense e paranaense. A cidade sofreu um processo de “inchamento rápido”, fator para o qual não estava preparada. O compromisso da classe empresarial para com seus funcionários estava na obra então iniciada e no trabalho remunerado que garantia o sustento das famílias. A interrupção da obra ocorreu devido a crise econômica que atingiu o país e o Vale do Sinos, principalmente a indústria calçadista. Os planos econômicos para vencer a inflação galopante daquele momento foi a responsável pela desvalorização do dólar, o recolhimento do dinheiro pelo Plano Collor, a diminuição das exportações e o início de novas concorrências externas para a produção calçadista foram responsáveis por uma pausa de cinco anos na obra necessária a comunidade.

O projeto foi retomado em 1995, quando a equipe da secretaria da Saúde vistoriou as obras e não encontrou “desconformidades” . Angariando verbas junto a comunidade e as instituições governamentais e recebendo orientação do Instituto de Administração Hospitalar e Ciência da Saúde, as obras foram reiniciadas em setembro de 1997. As obras que receberam recursos financeiros locais, privados e do Governo do Estado deveriam ser concluídas até dezembro de 1998.

A obra foi supervisionada pelos arquitetos Ingo Schwinn e Eduardo Rissi. É interessante a nomeação do primeiro mestre de obras, Gregório e do segundo mestre de obras, Silvério que compuseram esta equipe que desenvolveu o trabalho de construção desta obra complexa e necessária à comunidade.

Entrega da ampliação ocorreu em 1998 com diversas lideranças

Contribuiram com verbas públicas para a realização desta obra Germano Bonow, Secretário de Estado da Saúde, Júlio Redecker, deputado federal, João E. Fischer, deputado estadual e Renato Molling, prefeito municipal.

A inauguração ocorreu dia 19 de dezembro de 1998, às dez horas com a presença das autoridades acima citadas e o Vice-Governador do Estado, Vicente Bogo.

Em 2006, as dificuldades enfrentadas pelo hospital eram enormes como dívidas, outras reivindicações e mais o atendimento dos pacientes. Para completar o quadro, a AES Sul, empresa de energia elétrica que abastecia a região cobrou a dívida do Hospital. E um detalhe, iria penhorar o Hospital porque as tratativas de negociação haviam sido realizadas, porém não concluídas. Havia a possibilidade de parcelamento por 15 anos.

A decisão foi tornar pública a situação do hospital: fechamento. A comunidade se manifestou através de conversas ocasionais, porém frequentes: não pode deixar fechar. Diante deste posicionamento sugiu uma nova possibilidade: fazer um meio frango. A ideia nasceu de uma conversa com o vereador Chicão, que relatou ter feito em grande evento com 25 mil frangos na FENAC e com parceria do Pedro Paulo Bissoni.

Envolvimento evitou nova crise

João conversou com Bissoni que lhe trouxe um vídeo do evento. Foi o necessário para encampar a ideia. Realizou-se uma reunião com as igrejas, clubes de serviço e associações de bairro; foi feito um levantamento das churrasqueiras existentes na cidade, incluindo a Picada São Jacó, Bela Hu, Picada Verão. Os cartões foram vendidos por bairros e naquele lugar deveria ser retirado o meio frango. A resposta foi o envolvimento da comunidade.

Novamente as empresas foram chamadas a auxiliar. Cada um contribuía com cinco reais por empregado; os atelieres com parcelas menores, mas todos colaboraram. No primeiro mês reuniram o valor de trinta e dois mil reais por mês. A arrecadação chegou a atingir cinquenta mil reais por mês. Em 2008, nova crise econômica mundial atingiu o setor industrial e a ajuda foi suspensa em sua grande maioria. Nova etapa da campanha foi realizada, fazendo campanha junto a comunidade através do pagamento de parcela na conta de luz.

Texto: Dóris Rejane Fernandes