Por Caroline Waschburger
Sapiranga – Todos os dias percorremos o mesmo caminho. Do trabalho para casa, e da casa para o trabalho. Quem sabe, um desvio até a padaria ou ao mercado. Quase sempre preocupados com o que teremos que fazer depois e focados em como sobreviver até amanhã. Mas, muitas vezes, esquecemos de olhar pela janela do carro e perceber o que há além do vidro.
Mas eles estão lá – presentes. Um presente aos olhos com seus malabares, riso solto e jogo leve. E por trás da tinta branca que cobre o rosto há muito mais do que se possa imaginar. “O que me levou a seguir… não sei, gostei. De lidar com as pessoas, de ver sorrisos. Ver as pessoas em dia difícil e poder arrancar, dar um sorriso para ela, fazer as crianças felizes”, diz David Luis Machado dos Santos, de 28 anos. David é conhecido nas ruas como Kau. E conseguiu arrancar muitos sorrisos enquanto era fotografado.
Kau já viajou por quase todo o Brasil, sendo seis estados de bicicleta, e tem um filho que mora em São Paulo. “Qual é meu maior sonho? É conhecer o Nordeste do Brasil, não conheço ainda”, explica.
“É uma lei da rua: sempre que tu vê outro malabarista, tu chega pra cumprimentar”
Em Sapiranga, João e Kau são amigos. Jogam juntos pelas sinaleiras. Kau conta que já faz malabares há cerca de 10 anos. “Me inspirei em muitos malabaristas viajando, conheço muitos e sempre me dei muito bem com todos. É uma lei da rua: sempre que tu vê um outro malabarista, outro artesão viajando, tu sempre chega pra cumprimentar, ver de onde é, é automático de malabarista, de repente rola de viajar junto, sair em galera, conheço muitos”, explica.
Além da arte, jovens sonhadores
João tem 25 anos e começou a jogar malabares há nove. É casado e tem um filho de 4 anos. Ele deixa sua casa quase todos os dias em busca de sorrisos.
O que o levou a seguir no ramo foi perceber a aptidão com o circo. “Geralmente, eu impressiono a maioria, mas mesmo assim temos pessoas que ainda não veem isto como um trabalho, e sim uma fuga dele. Elas estão enganadas. Treinamos muito e nos esforçamos para poder passar o melhor de nós”, relata.
João aprendeu a jogar malabares com um amigo e conta que sempre se aventurou pela arte, até perceber a aptidão com o circo. Quase todos os dias, logo cedo, após levar o filho para a casa da tia, que o cuida, segue para o Centro da cidade para montar seu personagem.
Por trás da tinta branca que lhe cobre o rosto, está um menino jovem, amante da arte, com muitas histórias pra contar e cheio de sonhos e talento para compartilhar com o mundo.
Fotos: Caroline Waschburger