Personagem de Sapiranga fala de lembranças, desafios e sua paixão

Desde 2004, o gaiteiro fica em duas esquinas da Av. João Corrêa Fotos: Júlia Regla

Por Júlia Regla

Sapiranga – Todos os municípios possuem seus moradores mais conhecidos. Quem é de Sapiranga ou frequenta o Centro, provavelmente já passou por ele na principal avenida da cidade. Se perguntarem seu nome, poucos irão saber, mas se falarem sobre o “homem que toca gaita em frente aos bancos”, é difícil encontrar alguém que não o conheça.

 

Natural de Três Passos, Marcos de Andrade nasceu em novembro de 1981 e chegou na Cidade das Rosas aos 11 anos, onde vive até o atual momento. Mas sua vida nunca foi fácil. Deficiente visual desde o nascimento, passou por uma cirurgia nos primeiros anos de vida, onde recuperou parte da visão, mas que, por problemas futuros, a perdeu novamente. “Enxerguei até os 18 anos com a minha vista esquerda e daí ela deu uma forte pressão e estourou. Eu andava de bicicleta, agora só vejo um vulto preto e branco, não consigo ver cores, nem pessoas”, comenta Marcos, que durante sua infância estudou no Instituto Santa Luzia, em Porto Alegre. “Lá era especializado para pessoas deficientes que nem eu. As coisas não eram como hoje”, relembra.
A sua história com a gaita é antiga e, há 18 anos, sapiranguenses que passam em frente às instituições bancárias da Av. João Corrêa podem ouvir a voz de Marcos e suas habilidades com o instrumento. “Também tocava antes da pandemia em São Leopoldo, Novo Hamburgo, Taquara e Parobé”, comenta.

“Eu estava entrando em depressão quando perdi minha visão”

Gremista e morador do bairro São Luiz, Marcos teve contato com uma gaita nos primeiros anos de vida.”Meu pai tinha uma e eu, com 6 anos, tirei 1° lugar em um concurso de gaita da escola. A música era ‘Alô Moçada'”, recorda.
E foi com este instrumento que o gaiteiro encontrou uma maneira de superar um início de depressão após a notícia de que havia, novamente, perdido a visão. “Eu estava entrando em depressão quando perdi minha visão e o médico me disse que, se eu soubesse fazer alguma coisa, era para eu fazer. Então, comecei a tocar no Centro”, conta Marcos, que desde 2004 fica entre às 13 e 16 horas em duas esquinas da Av. João Corrêa.
Para chegar nos locais em que passa um período dos dias que fazem sol, Marcos conta com a carona de sua irmã ou ônibus.

Um pouco mais sobre o gaiteiro

Em seu tempo livre, Marcos, que vive com sua mãe, irmãs e sobrinho, gosta de escutar programas de rádio, tocar teclado e gaita.
No final de 2016, o gaiteiro lançou o volume 1 do seu primeiro CD intitulado “Marquinhos Gaiteiro”, onde conta com regravações de músicas pedidas pela população durante suas tardes no Centro de Sapiranga. Em 2018 e 2020, os volumes 2 e 3 foram lançados, respectivamente. Os dois possuem o mesmo nome do primeiro e seguem a mesma temática. “As pessoas me ajudam por livre e espontânea vontade, compram meus CD’s, pedem músicas”, comenta.
Tendo os locais dos quais passa as tardes como seus preferidos na cidade, Marcos finaliza: “Estamos aí, tocando, gosto de fazer o que eu faço. Em casa também estou sempre mexendo na gaita, teclado, gosto bastante”.