Paixão Côrtes, símbolo da tradição gaúcha, morre em Porto Alegre, aos 91 anos

João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, nome que se transformou em símbolo do tradicionalismo gaúcho e referência para muitos, morreu na tarde desta segunda-feira, 27, aos 91 anos.

Paixão Côrtes estava internado desde o dia 18 de julho no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, onde passou por cirurgia após fraturar o fêmur em uma queda. O folclorista, devido a idade avançada, sofreu algumas complicações pós-cirúrgicas, e permanecia no CTI do hospital. A família ainda não divulgou informações sobre enterro e velório do ícone gaúcho, que deixa como legado anos de estudos e pesquisas sobre a cultura e os costumes do povo do Rio Grande do Sul.

Paixão nasceu em Santana do Livramento em 12 de julho de 1927. Formou-se em Agronomia na UFRGS, profissão que exerceu por um período, antes de se render a sua verdadeira vocação. Ao longo das décadas de 1940 e 50, Paixão, junto com Barbosa Lessa e o Grupo dos Oito (amigos do colégio Júlio de Castilhos), foi o mentor de diversas solenidades, que visavam evidenciar os símbolos socioculturais do gauchismo, como a Chama Crioula e o CTG.

Foi por todo esse envolvimento que, em 1954, na criação da escultura do Laçador, símbolo do gaúcho, o autor Antônio Caringi, buscou em Côrtes o seu modelo para a estátua. Paixão, patrono da Feira do Livro de Porto Alegre em 2010, nunca deixou de trabalhar na pesquisa das manifestações culturais do Estado.

Entre 2012 e 2013, já com a saúde debilitada, ficou quatro meses internado em um hospital, por complicações de uma diverticulite. Nos últimos anos vinha demonstrando mágoa em relação aos rumos tomados pelo MTG e a condução das diretrizes por parte dos dirigentes atuais do movimento. Em entrevista publicada pelo jornal Zero Hora, em 2010, questionou a “obsessão com o passado” e o “fechamento absoluto para valores a serem descobertos” no presente e, quem sabe, no futuro. — A tradição é algo que brota espontaneamente. No momento em que ganha formas delimitadas, exatas, ela perde a própria razão de ser — disse.

Foto: Mateus Bruxel