Olarias de Campo Bom mantêm processo artesanal na produção em luta constante contra a crise

Campo Bom -O processo de urbanização de Campo Bom iniciou em 1959, juntamente com a emancipação. Foi nessa transição que a economia do município se desenvolveu, primeiramente, com as olarias, atafonas e indústrias de calçados

As olarias foram se estabelecendo às margens do Rio do Sinos, utilizado à época para o transporte de mercadorias e matéria prima. “Antigamente era tudo de barco, transportava material pelo rio, com barcos a gasolina, que levavam tijolo, lenha, fruta, verdura. Depois veio as estradas, os caminhões, aí terminou as embarcações. Hoje é tudo em caminhão”, lembra Osmar Ermel Nunes, proprietário da Olaria Ermel Nunes, uma das poucas que ainda restam em Campo Bom. “Quando comecei aqui, conheci umas 20 olarias trabalhando. Hoje tem apenas nove. Onze sumiram”, constata o Sr. Nunes, recordando com saudosismo da época de ouro das olarias na cidade, em que fez muito dinheiro.

Tijolos passam pelo cortador após processamento do barro

Com 12 hectares de terra, Ermel Nunes, para se manter, reduziu produção e pessoal

Olaria está no sangue do Sr. Osmar. Ele iniciou jovem ajudando o irmão, então proprietário do local, quando era o responsável pela lenha dos fornos. Depois alugou, junto com um sócio, uma outra olaria, para mais tarde comprar, sozinho, o negócio do irmão mais velho, onde atua até hoje. São 12 hectares de terra.

Após décadas de altos faturamentos, a situação mudou e hoje a empresa funciona com menos funcionários, e com lucro reduzido. “Passei anos aqui muito bem. Tive anos aqui que ganhei muito dinheiro. As vezes fico pensando: como que ficou tão difícil o ramo de olaria? Eu me mantive só por Deus. E anos atrás o que a gente queria comprar, a gente comprava, comprava à vista. Não faltava dinheiro. Hoje não tem dinheiro pra nada. Reflexo da economia. Não estou perdendo mais porque baixei a produção, tirei gente, fiz acordo com empregado”, conta o empresário, saudoso dos áureos tempos da empresa.

Processo de produção é manual e para extração do barro, licença é necessária

Última etapa da produção é a secagem nos fornos, aquecidos a lenha e de forma artesanal

Na Olaria Ermel Nunes, a produção é artesanal, pois para modernizar, o custo seria muito alto. “Hoje tenho nove funcionários. Mas já tive mais. Vejo oleiros aí quebrando, patinando. Então eu me considero um vencedor”, declara Osmar, que hoje produz quatro tipos de tijolos e ainda sente a lentidão das vendas, ainda reflexo da crise e ligada, segundo ele, diretamente com a má fase do calçado. “Crise pegou o calçado, imagina as olarias. O calçado é o carro chefe, se o calçado tá bem, nós estamos bem, calçado tá mal, nós estamos mal”, pontua.

Nunes ainda destaca que por muitos anos teve que comprar o barro para produzir o tijolo, o que acaba encarecendo o processo, isso porque a extração da matéria prima depende de licença ambiental emitida junto à prefeitura. Mas, desde o fim do ano passado, a licença foi obtida e a olaria já pode extrair o próprio barro. O depósito fica nos fundos e as máquinas, próprias, fazem o transporte até a máquina que prepara o barro, com misturador e cilindro, a maromba. Depois de preparado, o tijolo passa para o cortador automático. “A partir do cortador é automático. Só tem que pegar lá na esteira, com a mão. E colocar no carro, e na prateleira. E depois vai pro forno”, explica o Sr. Osmar. Ainda sobre a esteira da máquina que corta as peças, Nunes destaca a agilidade necessária. “Nesta fase, é preciso correr, ser rápido. São quatro ou cinco homens aqui, para tirar os tijolos cortados. Encostam os carrinhos do lado e vão retirando da esteira”. O processo de produção de um tijolo leva em média seis dias, do barro até a secagem no forno a lenha. Cerca de três dias para secar, antes de ir pro forno, e outros três dias no forno, para queimar. A produção mensal fica entre 150 a 180 mil tijolos.

Gosto pela profissão é o que mantém Ermel Nunes no ramo por tantos anos

“Esse é um ramo muito difícil. Mas eu amo isso aqui. Porque fiquei velho aqui dentro?! Porque eu gosto! Mas eu acredito que dias melhores ainda vão vir. Pior que está, não vai ficar. Tenho muita esperança”, declara, empolgado, o Sr. Osmar, quando questionado sobre de onde vem a vontasde de continuar, mesmo com as constantes quedas nas vendas e consequente dificuldade de manter o negócio aberto.

Nunes ainda revela que, em função de todos os percalços, gostaria de mudar de ramo, mas que agora, considerado a própria idade, vai deixar para os filhos tomarem a decisão de investir em outro negócio. ” Eu queria mudar de ramo, mas com a idade que eu estou não dá, tenho 76 anos. Queria que os filhos colocassem uma madeireira. Comprar pronto e vender, não construir para vender. Porque o fazer hoje está muito difícil. Mais vantagem é só repassar. Não vou mais investir aqui, não quero mais dívida. Eu já disse para os meus filhos, se quiserem, invistam e assumam. Eu irei só manter. O que tinha que fazer eu fiz”, avalia o empresário.

Texto e fotos: Sabrina Strack