O Clube Atiradores de Sapiranga

Entidade mantém acesa tradição de confraternizar com tiros de pólvora a passagem de ano pela região

Entre as principais entidades sapiranguenses, uma em especial mantém acesa uma tradição com mais de sessenta anos no Município. É o Terno dos Atiradores. A data, comemorada sempre no Ano Novo, é uma menção honrosa das famílias de brasileiros e imigrantes alemães para lembrar o envolvimento dos imigrantes alemães durante a Guerra do Paraguai (1864-1870). Ao fim do maior conflito armado registrado na América do Sul, os imigrantes alemães receberam as chamadas “riúnas” do Exército.

O professor de história e geneologista Claudio Jose Schnorr relembra que a festa dos Atiradores no Vale do Sinos possui cerca de 13 ternos organizados e ainda ativos. “Anualmente, os clubes se reúnem para festejar a vitória na Guerra do Paraguai”, explica o professor, que se criou em Sapiranga, mas atualmente mora em Santa Maria do Herval.

O professor revela que o seu pai foi um dos fundadores do Terno dos Atiradores do bairro Amaral Ribeiro, no fim dos anos 1960. “Em função da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), por ter origem alemã, meu pai sofreu perseguição e a guerra interrompeu muita coisa. A língua alemã foi proibida. Tenho fotos e filmagens daquela época. Sapiranga chegou a contar com quatro Ternos de Atiradores. No período da confraternização, nós que morávamos no pé do Morro Ferrabraz ficávamos acordados para escutar os tiros disparados pelos ternos em outras regiões, como em Campo Pinheiro e Campo Vicente, em Nova Hartz”, comenta o historiador.

Municípios da região também contam com ternos de atiradores

Entre o final da década de 1960 e início de 1970, com a desmobilização e o fim dos encontros entre os Atiradores do bairro rural de Lomba Grande, em Novo Hamburgo, os membros do clube do município vizinho a Sapiranga passaram a integrar o Clube Atiradores sapiranguense. “Outras regiões também possuíam os Ternos. Na região de Morro Alto, na região onde o deputado Fixinha residia, era muito forte esses encontros”, pondera.

Família recebia atiradores

João Fischer (o Fixinha) relembra que quando era criança, a sua família recebia em casa, na região do Morro Alto, em Taquara, integrantes do Clube Atiradores. “Essas histórias foram repassadas para mim através do meu bisavô e pelos meus tios. No final da década de 1980, também passei a integrar o Clube Atiradores de Sapiranga. Na verdade, essa confraternização dos Clubes Atiradores ocorrem para celebrar a paz e quando passam de casa em casa, desejam felicidade e bem-estar para as famílias”, cita.

Terno do Amaral Ribeiro deu origem a um único Clube

Fundado em 30 de maio de 1988, o Terno de Sapiranga tem sua fase inicial no bairro Amaral Ribeiro. Porém, conforme o historiador Claudio Jose Schnorr, ocorreram várias fusões de outros Ternos com o de Sapiranga. “Aí, lá na década de 1990, a ex-prefeita, Marlene dos Santos Wingert, doou uma área de terras para o Clube Atiradores e a Associação de Moradores do bairro Centenário, na Rua José Seibel. Aí, construímos a sede do Clube e da Associação. Somos o único Terno que tem sede própria na região do Vale do Sinos”, valoriza o historiador.

Mensalmente, os integrantes do Clube Atiradores e do Terno de Sapiranga se reúnem. Além disso, os membros participam de encontros em outros municípios vizinhos, como em Rolante e Riozinho.

Caracterização para evento e a participação das mulheres no Terno

O professor Claudio Jose Schnorr relembra que alguns Ternos de Atiradores se caracterizavam por contarem com a participação de negros. “Os negros também integraram o Exército na Guerra do Paraguai. Era uma possibilidade de conquistarem a liberdade – a abolição da escravatura só veio em 1888. Nas apresentações combinadas antecipadamente em algumas casas, é comum alguns homens se caracterizarem de negros e levarem suas riúnas (armamento fornecido pelo Exército para uso dos soldados na Guerra do Paraguai), pólvora, espoleta, papel para bucha e o socador para carregar a riúna, além é claro, dos músicos para a animação. Assim, faziam a saudação pela passagem do ano, primeiro através de um verso em alemão, ou em português. Após, se dá início a salva de tiros, começando pelo mais fraco e o mais forte por último”, contextualiza.
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Entre os personagens das apresentações estão o palhaço (que brinca e dança com o grupo e a família visitada), o negro (integração entre as etnias) o espantalho (para espantar as coisas ruins e dar sorte) além das mulheres (homens vestidos de mulher para representá-las no grupo).