Moradores do Residencial Ferrabraz denunciam série de irregularidades

Escândalo | Há áreas no escuro por inadimplência e ex-funcionários cobram salários não pagos

Sapiranga – Moradores do Residencial Ferrabraz, no bairro Amaral Ribeiro, decidiram quebrar o silêncio e denunciaram à Polícia Civil, na semana passada, uma série de irregularidades que vêm ocorrendo há mais de três anos no local. As denúncias envolvem débitos de energia elétrica do Residencial com a AES Sul, de água com a Corsan, falta de pagamentos aos funcionários – serviços gerais e vigilantes que trabalham na portaria -, cobrança indevida pelos boxes no estacionamento e a denúncia mais grave de todas, que é a venda irregular de apartamentos do Programa Minha Casa Minha Vida. Depois de um período reunindo provas, moradores inconformados com a situação apresentarão os documentos no Ministério Público Federal. Eles sustentam que mais de 20 apartamentos foram vendidos irregularmente. Mas, o número pode ser maior. Documentos que comprovam o audacioso esquema foram apresentados à Delegacia de Sapiranga, que está investigando o caso e reunindo as provas. Entre os papéis reunidos pelas moradoras que decidiram quebrar o silêncio, estão recibos e declarações de venda de apartamentos. A série de documentos deixa claro o envolvimento de pelo menos um homem na venda dos apartamentos. Meses atrás, o acusado prestou depoimento na Polícia Civil.

Moradores cobram investigação do Ministério Público de Sapiranga

Na boca dos sapiraguenses, o Residencial Ferrabraz é conhecido como Carandiru (referência ao antigo presídio de São Paulo). O desejo dos moradores é descontruir essa tachação pejorativa que o Residencial adquiriu ao longo dos anos. Outra queixa é a espera de dois anos pela construção da cobertura dos boxes das garagens (alguns moradores pagaram até R$ 1 mil, mas a estrutura nunca foi construída). Hoje, apenas dois blocos do Residencial (que possui 224 apartamentos) contam com enegia elétrica nas áreas de circulação, graças, ao pagamento de uma conta de R$ 878 em atraso não paga e que acabou quitada entre os moradores.

Documentos entregues à Polícia Civil

A venda irregular dos apartamentos do Minha Casa Minha Vida é um problema recorrente em todo o país. A denúncia em Sapiranga envolvendo o Residencial Ferrabraz partiu justamente de uma mulher que comprou um apartamento de forma indevida. “Tenho a consciência que estou irregular morando lá. Comecei a negociar a compra do imóvel em 16 de abril deste ano. No dia 1º de agosto, consegui a autorização para entrar no apartamento. Fiz uma reforma completa. Paguei R$ 9 mil pelo apartamento em parcelas. Tem casos que os apartamentos foram vendidos até por R$ 25 mil”, denuncia uma moradora, que não será identificada nesta reportagem por questões de segurança.

Apartamentos serão vistoriados em Sapiranga

O Jornal Repercussão teve acesso exclusivo a alguns documentos e os apresentou ao secretário de Habitação, Jorge Elias Borges, o Jorginho. O titular da pasta informou que a regional da Caixa Econômica Federal – que fica em Novo Hamburgo – impôs à Prefeitura a realização de uma vistoria em todos os apartamentos, o mais rápido possível. “Estamos organizando os técnicos e funcionários da Secretaria de Habitação para fazermos esta vistoria. Precisamos saber se os reais beneficiários realmente estão morando nos apartamentos dos quais foram contemplados. Caso contrário, àqueles que estiverem em desacordo com as normas, será necessário tomar as medidas cabíveis”, contextualiza Borges. A mesma vistoria será promovida ainda no Residencial Centenário, onde de acordo com o próprio secretário, também há fortes indícios de ocupação irregular de apartamentos. Este caso, porém, não veio à público com documentos, como no caso do Residencial Ferrabraz.

Moradoras recebem declaração

A série de inconformidades envolvendo o Residencial Ferrabraz ainda envolvem o pagamento de R$ 33,00 feito por cada morador e que deveriam ter sido aplicado para a compra de extintores de incêncio para todos os blocos.

Os moradores ainda cobram a aplicação correta dos recursos da taxa de condomínio. Segundo as moradoras que procuraram o Jornal Repercussão, não há serviço de limpeza das áreas de uso comum há meses. “Queremos a saída imediata do síndico. Faremos um protesto na Câmara de Vereadores na próxima semana”, anuncia uma moradora.