Memória viva de um dos precursores do voo livre

Sapiranga – A empolgação e a riqueza de detalhes para descrever os primeiros passos do voo livre em Sapiranga é de um entusiasta e de um apaixonado pela modalidade. Gilson Caloni, 50 anos, é uma das testemunhas que presenciaram o primeiro salto de asa delta realizado no Morro Ferrabraz, em 1977, quando ainda era um menino e observava toda a movimentação dos precursores do esporte da chácara do seu pai, que fica na subida do Morro.

No Rio Grande do Sul, Caloni relembra que policiais rodoviários federais, especialmente na pessoa de Pedro Giberto, foram fundamentais e pioneiros do voo livre em Sapiranga. “O Pedro Gilberto construiu a primeira fábrica de asa delta do Rio Grande do Sul. Em São Leopoldo – onde há um batalhão da Polícia Rodoviária Federal – Pedro Gilberto produziu a própria asa delta e começou a voar. Tempo depois, em 1977, iniciou os preparativos para o primeiro voo partindo do alto do Ferrabraz. Lembro muito bem, foi em um domingo e estávamos no sítio do meu pai. Foi um vento apoteótico, não existia nada igual e fiquei encantadíssimo e disse para o meu pai: – Vou voar com esse troço de qualquer jeito”, relembra.

De jovem aprendiz para piloto

Depois do primeiro salto, Caloni relembra que os anos passaram, e ainda garoto, passou a acompanhar todos os finais de semana os voos no Ferrabraz. “Quando eu não estava no sítio vendo as decolagens, eu estava na rampa ou no campo de pouso. Eu e mais uma gurizada começamos a acompanhar e aprender tudo, pois ajudávamos os pilotos. Tempo depois, dois paulistas que voavam vieram morar em Sapiranga e fizeram amizade com a nossa família. Mais tarde, abriram uma escola de voo e o meu irmão, Rogério Caloni, foi o primeiro aluno deles, isso em 1980”, recorda. A entrada do irmão na escola foi como um trampolim para Gilson. “Pensei, meu irmão entrando, eu também vou entrar. Estou feito”, conta aos risos. Quando completou 14 anos, enfim, chegou a vez e a hora de experimentar o voo.

Do primeiro salto no Ferrabraz até a volta às competições

Caloni passou a ser uma espécie de assessor do próprio irmão. “Ele precisa de ajuda para subir com o carro, montar a asa delta e se equipar. Foi assim que aprendi a voar. Em 1982, quando eu tinha 14 anos e estrutura para segurar a asa, meu irmão me levou para onde, atualmente, é a escola Companhia do Ar. Em 45 dias me formei e um dos paulistas que conheceram a nossa família me levou para um voo de instrução e voamos por uma hora no Morro Ferrabraz. Foi incrível. Depois, fiz novo treinamento e realizei meu primeiro voo sozinho e de lá para cá faço voos regularmente”, relembra Caloni.

Gilson foi amadurecendo e integrando direções da AGVL – que em 2018 completa 40 anos de fundação. “Integrei a diretoria por sucessivas vezes”, pondera.

Mas, em 2018, após longo hiato sem participar de competições, Gilson Caloni voltou a competir. “Depois de 32 anos sem competir decidi voltar novamente. Recentemente, no início de fevereiro, ocorreu a primeira etapa do Campeonato Gaúcho e me saí muito bem na minha categoria e fiquei em 1º lugar”, conta.

Ferrabraz como polo turístico

“O ex-prefeito, Waldomiro dos Santos, foi o primeiro prefeito a investir no voo livre. Na época dele, a cidade passou a usar o slogan Sapiranga a Cidade das Rosas e do Voo Livre. Hoje, somos reconhecidos internacionalmente pela nossa posição geográfica, pois aqui, temos voo livre no período de dezembro até março. Recebemos praticantes do esporte do Uruguai, Argentina, Chile, Suíça, Alemanha, França e da Itália. Contamos com um complexo turístico muito grande que eu considero mal explorado. Precisamos de um investimento e um estudo maior nesse setor. Uma das principais necessidades é a compra do campo de pouso. Hoje, ele é alugado. Sei que existe projeto da Prefeitura de compra, mas que ainda não se efetivou. A cidade está expandindo rapidamente e aquela área é a menina dos olhos do mercado imobiliário. Não existe outra área de pouso. Se aquela área for destinada para outro fim, acabou o voo livre em Sapiranga”, alerta Gilson Caloni.

O que ainda é necessário qualificar no aspecto turístico

Como futuro polo turístico, Caloni entende que é fundamental investir no acesso ao local através do asfaltamento da estrada. “Além disso, temos que ter estrutura lá em cima para receber os turistas e visitantes. Já demorei 1h45 para descer o Morro. A estrada não tem boas condições e os motoristas, às vezes, não possuem a técnica para andar na estrada, ocasionando inúmeros incidentes. Precisamos de um banheiro público e água. A pouca estrutura existente no Ferrabraz quem fez foi a Associação. O Município deveria se preocupar mais. Não conseguimos sequer preservar a estrutura que existe lá em cima. Entendo que o Morro necessite ser declarado como um parque turístico e ecológico, mas as lideranças carecem de um entendimento maior. Além disso, é necessário cobrar ingresso, pois o custo de manutenção é alto e sem o controle de entrada e saída, fica sem controle. Temos que encarar as mazelas do Ferrabraz”, defende Caloni.