Luta para levar água e tratar o esgoto nas cidades ainda enfrenta dificuldades

Estudo | Universalização do acesso ao abastecimento de água e tratamento de esgoto terá atrasos

Região – No início do mês de janeiro, a Confederação das Indústrias (CNI) chamou atenção para o atual ritmo de investimentos na área de saneamento em todo o país. Caso não ocorra uma mudança de rumo, a universalização será atingida somente em 2054 – 21 anos após o estabelecido pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB). O PNSB estabeleceu o ano de 2033 como meta para atingir a universalização do acesso à água potável no Brasil.

Nos municípios da região, especialmente em Araricá e Nova Hartz, os cidadãos sequer possuem um sistema de abastecimento de água. Entretanto, nos dois municípios, as Prefeituras deram início à implantação do sistema. Porém, devido a atrasos na liberação de recursos financeiros e modificações nos projetos (caso de Araricá), as obras se encontram paralisadas.

Estas dificuldades são notórias e reconhecidas por todas as lideranças envolvidas no tema. Em recente entrevista, o presidente do Instituto Trata Brasil (entidade fundada em 2007 e que acompanha a política de saneamento e dos recursos hídricos no país), Édison Carlos, sentenciou. “Com os atuais ritmos de investimentos e de execução das obras, dificilmente teremos força para cumprir com o que foi firmado”, alerta.

Gargalos que precisam ser superados na área

Entre os pontos que precisam ser superados para atingir a universalização dos serviços de abastecimento de água e de tratamento de esgoto na região e no país estão, justamente, o tratamento dos esgotos, bem como a redução das perdas de água potável nos sistemas de distribuição. “São mais de 100 milhões de brasileiros vivendo sem os serviços de coleta dos esgotos e menos de 40% dos nossos esgotos são tratados, sendo despejados de maneira irregular nos rios, córregos e praias;
37% da água potável é perdida em vazamentos, roubos ou medidores irregulares”, lembra Édison Carlos.

Para driblar esta situação (de perda de água tratada), a Corsan argumenta que investiu R$ 3.800.700,00 na substituição de 33,8 quilômetros de redes de água em Campo Bom e Sapiranga nos últimos cinco anos. Outros R$ 908 mil foram investidos na instalação de macromedidores para controlar as perdas nas redes de abastecimento.

Arrecadação da Corsan

Anualmente, a Corsan arrecada em Campo Bom e Sapiranga aproximadamente R$ 32 milhões de reais. Conforme a estatal, são cerca de R$ 16 milhões obtidos de cada município somente com a cobrança pelo serviço de abastecimento de água nos dois municípios. A população estimada das duas cidades juntas é de aproximadamente 134 mil habitantes, conforme dados do IBGE.

Situação em Nova Hartz

Propostas piloto para o tratamento do esgoto por raízes em Nova Hartz surgem como alternativa, enquanto o projeto principal que englobe toda a área urbana do município não sai do papel. Na área de abastecimento de água, Nova Hartz concluiu no final de 2015 a implantação de uma adutora de água tratada de Parobé até o município. Para este ano, está prevista a construção de um grande reservatório de um milhão de litros de água no Loteamento Brusius. Para isso, a Prefeitura luta para ter parte do recurso liberado junto ao governo federal.

Presidente do PRÓ-SINOS fala

O presidente do Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (PRÓ-SINOS) e prefeito de Esteio, Gilmar Rinaldi, destaca que a entidade é o primeiro consórcio público de Saneamento do país e tem conquistado importantes ações para os 32 municípios que integram o Consórcio. “Elaboramos o Plano de Saneamento de forma consorciada de toda a Bacia Hidrográfica do Sinos. A solução individual para cada cidade é inviável devido ao custo alto. E também porque muitas vezes o município sozinho mal consegue fazer o projeto para captar os recursos. A Bacia do Sinos atingirá 50% do esgoto tratado nos próximos cinco anos”, projeta o presidente do Pró-Sinos. Gilmar Rinaldi ainda reforça a necessidade de conscientizar as comunidades da importância de conectar a rede doméstica de esgoto das casas aos caros sistemas em construção.

Corsan detalha investimentos na região

Sapiranga
A estatal explica que está em andamento a construção de 27 quilômetros de redes coletoras de esgoto (mais de 22 quilômetros já foram feitos), além da construção de uma elevatória na bacia que envolve os bairros Sete de Setembro, Amaral Ribeiro, São Jacó, entre outros locais.

Outra medida em andamento em Sapiranga é a construção de 11 quilômetros de redes coletoras de esgoto e a construção de uma estação de tratamento de esgoto compacta para os loteamentos João Goulart, Operária e Pinheirinhos, no valor de R$ 3.700.000,00, em parceria com a Prefeitura.

Está em fase de licitação também a construção de uma Estação de Tratamento de Água (ETA), no valor de R$ 11 milhões.

Campo Bom
No município, a Corsan ainda não conseguiu dar início às obras para a implantação do sistema de tratamento de esgoto. Aliás, durante encontro da Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos (AMVRS), o prefeito, Faisal Karam, voltou a criticar a lentidão da Corsan em dar prosseguimento ao projeto. “Estamos prestes a perder um recurso de R$ 82 milhões para o tratamento de esgoto por negligência do Estado e da Corsan. Há dois anos a Corsan fez um levantamento de uma área para a construção de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e até agora não desapropriou o local. O estudo técnico não foi adiante e o recurso de financiamento, de lá para cá, nada avançou”, disse Faisal.

Pojeções da Corsan
Na próxima década, a Corsan pretende atingir 40% da população urbana nos municípios de Campo Bom e Sapiranga na área de tratamento de esgoto, conforme o seu Plano Estratégico corporativo.

Entre os itens ressaltados pela Corsan e que tem contribuído para amenizar as perdas de água nos municípios em que ela atua está o investimento de R$ 1.031.140,00 no Sistema de Controle Supervisório junto às estações de bombeamento, reservatórios e no sistema de distribuição de água.

Crédito da foto: CNI