Kerb de Sapiranga era um evento tradicional e que registrava grande público nas festas

Sapiranga – A Kuncherfest, mais conhecida como Kerb, é uma tradição em várias regiões do Rio Grande do Sul. Festa tradicional alemã, em Sapiranga ela existe há muito tempo, porém muitas pessoas não sabem o seu significado, origem e transformações. Por isso que o Jornal Repercussão irá desvendar todos os detalhes dessa festa tradicional do município.

A origem do Kerb foi em 1845, quando os imigrantes alemães se estabeleceram em Sapiranga. Eles encontraram muitas dificuldades ao morar em um país distante e com outra cultura, onde precisaram buscar novas ocupações, moradia, educação, estabilidade entre muitos outros. Por serem pessoas religiosas, de muita fé, começaram a realizar encontros entre si, como os cultos que ocorriam anteriormente na Alemanha.

No início, as reuniões aconteciam nas casa. Mas, com o tempo, percebram que uma boa opção seria a construção de uma escola, onde os encontros poderiam acontecer, em um local mais apropriado e seus filhos poderem estudar. Como a maioria das casas na época, o colégio foi construído no estilo enxaimel. Segundo relatos e pesquisas de historiadores de Sapiranga, o local que foi utilizado pelos imigrantes para se reunirem, é onde, atualmente, está localizado o Centro Médico de Sapiranga, na avenida João Corrêa, 683.

Com o tempo, os imigrantes construíram igrejas

Confraternização do Kerb, em um salão a noite em Sapiranga

Com o passar do tempo, o número de imigrantes foi aumentando e o local não tinha mais as condições necessárias para sediar os cultos de maneira organizada. Por isso, em 1850, construíram uma igreja para abrigar todos os fieis que participavam dos cultos semanais.

Em 1961 foi construída outra igreja, às margens do arroio Sapiranga. E no dia 17 de outubro de 1986, iniciou a construção da primeira igreja de pedra do município. Ela foi inaugurada em 1° de maio de 1987, sem torre e sino, pois era de origem protestante e o Brasil vivia a época do Império. Porém, com a Proclamação da República, em 1989, ela foi finalizada, com a construção de ambos em 1912.

E foi essa igreja de pedra que deu origem a festa do Kerb em Sapiranga. “Eles inauguraram dentro de toda tradição alemã, mas como Kincherfest era um nome comprido e complicado, as pessoas começaram a abreviar para Kerb. E como nosso Kerb era de cunho de religião protestante, que hoje é a Igreja Evangélica de Confissão Luterana, eles ligaram a data com a Páscoa. Naquela época o Kerb ocorreu três domingos depois da Páscoa e é assim até hoje”, afirma a historiadora sapiranguense, Anelise Blos.

Além do culto, o Kerb oferecia atividades

Os cultos ocorriam aos domingos pela manhã. Após, iniciava a festa do Kerb, com a preparação do almoço e recepção dos familiares e convidados.

Os alimentos eram todos tradicionais alemães, como batata, chucrute e carne de porco. Nos cafés da tarde, também eram servidas as ainda tradicionais cucas e linguiças.

À noite, todos permaneciam no local, agora empolgados para a participação no baile, conduzido por bandinhas alemãs, que animavam as pessoas a dançarem e se divertirem a noite toda.

Por causa das transformações que Sapiranga teve com a industrialização, diminuição de agricultores, aumento de população e a entrada de imigrantes de outros lugares, a festa do Kerb passou por uma adaptação. A maioria das pessoas concordam que a festa não existe mais. Porém Anelise Blos, afirma que o Kerb apenas passou por uma transformação.

Jantar de algumas pessoas participantes do Kerb, após iriam para o baile que acontecia em algum salão de Sapiranga

Para a historiadora Anelise Blos, o Kerb ainda existe. Apenas a forma de realização é diferente, se comparado com décadas atrás

Penso que ele existe ainda, pois no bairro Centenário ainda fazem, se não me engano é na Sociedade dos Atiradores, tem o baile, almoço e janta, não sei se nos dois últimos anos, mas tinha uma época que tinha baile em sexta e sábado, e eles ofereciam os alimentos de características alemãs. Além do bairro Centenário, que grande parte das pessoas são descendentes de alemães, o bairro Sete a gente encontra também famílias que preservam essa tradição”, diz a historiadora.

O Kerb também era realizado nos arredores do museu de Sapiranga. Mas, como era em uma data próxima da festa da Colônia e como os imigrantes alemães eram colonos, a administração da cidade resolveu juntar ambas, no início dos anos 2000.

Atualmente as raízes dos primeiros imigrantes de Sapiranga são celebradas durante a Festa da Colônia, que fortalece essas tradições. E através disso, a lembrança dos antepassados religiosos, que apesar de terem outras origens, cultura e não gostarem de samba, ajudaram com toda sua fé, dedicação e compromisso, o desenvolvimento de Sapiranga e a sua população.

Texto: Diego Moraes

Fotos: Arquivos históricos