Jovens são esperança de continuidade do trabalho nas propriedades rurais da agricultura familiar

* por Fábio Radke

A promessa de que a colheita não estará perdida nas próximas décadas passa pelas mãos de adolescentes e jovens que hoje nutrem a viabilidade da sucessão familiar, não deixando assim que os campos envelheçam e acabem abandonados e improdutivos.
Em Sapiranga, por exemplo, a partir do trabalho do Poder Público, apoio de entidades voltadas ao setor primário, muitas sementes já estão sendo plantadas e mostram que os jovens também sujam as mãos, entendem de culturas e técnicas agrícolas e mais do que isso, também podem gerenciar e tornar propriedades rurais ou agroindústrias rentáveis.
Duas jovens sapiranguenses, dentro da mesma faixa etária, possuem histórias semelhantes. Ambas não querem saber de deixar o campo de lado e não medem esforços e dedicação para produzir o alimento que vai para a mesa de muitas pessoas da cidade e região. E mais do que isso, as mesmas mãos que operam ferramentas em trabalhos rústicos e manuais, também preparam deliciosos pães e bolachas. As personagens desta reportagem, moradoras de diferentes localidades do município, são conhecidas e também são colegas dentro do grupo de mulheres Koloniegeschmack (Sabor da Colônia).

A paixão pelas frutas começou com a estufa de morangos que o pai montou para a filha
Fotos: Fábio Radke

Do cultivo de morango para a produção de frutíferas diversas, sem uso de defensivos

No Alto Ferrabraz, em meio a uma propriedade com açudes e roças, Leila Helena Kronbauer, de 20 anos, caminha de um lado para o outro apresentando diferentes cultivos presentes no local. Em uma estufa montada pelo pai, a jovem cultiva diferentes variedades de morangos. A partir de diversas participações em cursos e oficinas, a paixão pela agricultura rende cada vez mais frutos. “Entrei no grupo de orgânicos da Eco Ferrabraz e hoje estou na fase de conversão para a produção orgânica de frutíferas, como romã, pêssego e mirtilo. Não existe nada melhor do que gerenciar o próprio trabalho, respirar o ar puro e ter sempre a boa comida caseira na mesa”, afirma Leila.

Três gerações de mulheres

Com a escolha de Leila em permanecer no campo, a família conta com três gerações de mulheres agricultoras. A mãe Ivanir Kronbauer, de 45 anos, e a avó Melita Weyermüller, de 67 anos, não escondem o orgulho. “Ela me consulta bastante. Esses dias perguntou se dava mesmo para capinar as batatas agora. Isso mostra que ela já está sabendo dos períodos certos”, disse Melita.
A mãe Ivanir apoia a filha e também participa de diversas atividades e capacitações voltadas a agricultura familiar. “É muito bom ter a filha em casa. E ajuda bastante com as técnicas de cultivo orgânico mostrando que existe um jeito de trabalhar com aquilo que a natureza nos dá, diferente daquela forma que estávamos acostumados”, avaliou a mãe.

Pesquisa com duas dezenas de jovens

De acordo com a extensionista da Emater/RS-Ascar de Sapiranga, Angelisa Silveira, recentemente, em torno de 20 jovens identificados como agricultores no município foram entrevistados para observar demandas desse público. “Temos o Plano de Desenvolvimento Rural em Sapiranga e uma das prioridades é trabalhar em apoio à juventude. A própria gestão do Conselho mudou a direção e pela primeira vez entraram seis mulheres e jovens. O Conselho assim muda um pouco sua direção, sendo mais voltado para as mulheres e os jovens, disse.

Mirtilos: a fruta da vez

Com diversas frutíferas já plantadas na propriedade rural no Alto Ferrabraz, mas ainda sem frutos ainda para a comercialização, Leila não para de investir em diferentes culturas enquanto aguarda a obtenção do selo orgânico. O investimento mais recente, sempre com acompanhamento técnico da Emater, foi no plantio de mudas de mirtilo, a pequena fruta também conhecida como blueberry. “Já plantamos um total de 30 mudas de diferentes variedades adquiridas em Vacaria. Em breve, outras mudas da variedade Biloxi, do gênero evergreen, virão de Pelotas. O diferencial desta é que já prouz frutos seis meses após a poda”, revelou. Ela ressalta ainda que a colheita das primeiras frutinhas deve acontecer entre dezembro e janeiro. Rica em antioxidantes, a pequena fruta azul, oferece benefícios à saúde e pode ser consumida in-natura, em sucos, geleias e bolos.

Mirtilos ainda não maduros já surgem em alguns pés