Grupo Pão de Açúcar retira do mercado cerveja produzida em Campo Bom

Campo Bom – O caso recente de contaminação por dietilenoglicol e monoetilenoglicol em marcas de cervejas produzidas em Minas Gerais pela cervejaria Backer, voltou as atenções dos brasileiros quanto aos processos de produção e qualidade no setor cervejeiro. Classificado como uma situação de exceção pela Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), o uso das substâncias com caracteristícas de refrigeração, a exemplo do que aconteceu em solo mineiro, não é uma prática comum adotada nas cervejarias da região.

Atualmente, as cervejarias e microcervejarias em sua maioria utilizam água para o processo de resfriamento com atenção para que não alcance o congelamento. As quantidades e variedades dos ingredientes (malte e lúpulo) e tempo de cozimento são determinantes para o estilo de cerveja a ser produzida. Agora mais do que nunca, os órgãos de fiscalização estão atentos a todos os processos. Recentemente, uma simples alteração no gosto da cerveja Fábrica 1959, produzida pela Imigração, de Campo Bom, resultou na retirada de garrafas das unidades do Grupo Pão de Açúcar. A constatação em nada tem a ver com as substâncias, entretanto, a simples alteração no sabor de alguns rótulos resultou na medida e na realização de novos testes de qualidade.

Pão de Açúcar retira do mercado cerveja, com alteração no sabor, feita pela Imigração

Fabricada pela cervejaria Imigração, de Campo Bom, a marca de cerveja Fabrica 1959, do Grupo Pão de Açúcar, promoveu a retirada de garrafas de determinado lote da rede, por problemas de qualidade. A fabricante foi acionada pela rede carioca para refazer testes para identificar as causas que resultaram na alteração do sabor. A reportagem entrou em contato com a Imigração, que até o fechamento da edição, não retornou a reportagem.

Somente variação no sabor

O Grupo Pão de Açúcar, por meio de sua assessoria de imprensa, se manifestou sobre o episódio relacionado a cerveja. “Reiterando o seu compromisso com a qualidade e a transparência no relacionamento com os seus consumidores, a Fábrica 1959 informa que na semana retrasada realizou, proativamente, a retirada de seus produtos dos pontos de venda após detectar variação no sabor (mais amarga do que o normal) em testes sensoriais realizados em alguns rótulos de lotes específicos dos tipos Pilsen e Weiss. O fornecedor foi imediatamente acionado e, após concluir as análises, foram identificadas alterações sensoriais no lote 1 do estilo Pilsen e nos lotes 1 e 2 do estilo Weiss decorrente da incorporação maior de oxigênio durante o envase. Tal característica não traz qualquer risco à saúde do consumidor e os ajustes necessários já foram realizados para que fatos como esse não ocorram novamente. Mesmo assim, a marca optou por descartar os lotes citados a fim de garantir a melhor experiência aos seus clientes. Nada foi constatado nos demais lotes e estilos da Fábrica 1959”.

Ainda na manifestação, a Fábrica 1959 se coloca à disposição dos seus consumidores para esclarecer qualquer dúvida adicional por meio do canal de atendimento: 0800-15-2134. O consumidor poderá efetuar a troca dos produtos dos lotes indicados ou solicitar o ressarcimento na loja em que realizou a compra.

Abracerva diz que caso mineiro é exceção absoluta

Com o objetivo de entender melhor a produção das cervejarias independentes brasileiras, a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) realizou levantamento entre associados para saber quais os processos de resfriamento utilizados pelas fábricas. Entre as 200 cervejarias que responderam, 87,4% utilizam álcool na fabricação, 6% propilenoglicol (não é tóxico ao ser humano) e 5,1% outros métodos. Apenas 1,5% das respondentes usam o etileno glicol, com índice de toxicidade muito inferior ao dietilenoglicol. Eles já receberam recomendação de substituição do componente por parte do órgão.

A Abracerva indiciou aos órgãos competentes que, através de normativa, proibisse o uso do dietilenoglicol nos processos, após a inédita contaminação ocorrida em Minas Gerais. “O que aconteceu em Minas é uma exceção absoluta e não pode prejudicar um setor ascendente e impactante como o nosso”, disse o presidente da Abracerva, Carlo Lapolli.

Dietilenoglicol na cerveja causou mortes em MG

Em boletim divulgado esta semana pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais, foram notificados 28 casos suspeitos de intoxicação pela ingestão de dietilenoglicol. Quatro casos evoluíram para óbito. Os demais 24 restantes continuam sob investigação, uma vez que apresentaram sinais e sintomas compatíveis com o quadro de intoxicação por dietilenoglicol e com relato de exposição. Entre o total de casos em solo mineiro, 24 são de homens e somente quatro mulheres.

Segundo profissionais médicos, o dietilenoglicol é uma substância tóxica que não pode entrar em contato com alimentos e bebidas. A presença da substância na cerveja está sendo associada à ocorrência de óbitos e intoxicações naquele Estado.

A ingestão da substância pode resultar em síndrome nefroneural. Foram observados sintomas gastrointestinais (náusea,vômito e dor abdominal) associados a alterações da função renal ou sintomas neurológicos (paralisia facial, borramento visual, amaurose, alterações de sensório, paralisia descendente e crise convulsiva).