Greve dos caminhoneiros atinge economia da região

Perdas e danos |  Cargas perecíveis, como frutas e grãos, não chegaram ao destino final e geram prejuízos à economia

Região – Os bloqueios de estradas realizados por caminhoneiros de vários estados do país durou quase duas semanas e ainda gera protestos nas rodovias. O movimento causou transtornos tanto para os empresários quanto para o cidadão comum, que já sente falta de produtos como leite nas prateleiras dos supermercados.
Dentre várias demandas, os manifestantes protestavam  contra o aumento no valor do diesel e pelo estabelecimento de uma tabela de preços para os fretes. 
Na prática, os protestos dos motoristas acabaram prejudicando a economia. Belvam Schmidt Junior, diretor comercial da Transportadora CSLog, de Campo Bom, diz se encontrar em uma situação delicada. “Tínhamos compromissos  com os clientes, e só estamos conseguindo fazer entregas depois desta terça-feira.”.
André Costa, vice-presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos dos Estados do RS e SC (Fecam), diz que não foram informados sobre a intenção dos motoristas. “Nós não fomos convidados para discutir essa paralisação. Não participamos da reunião com as autoridades”.
Quando questionado sobre as demandas do movimento, ele deixa claro que questões como valor de frete são bandeiras antigas da organização. “Mas baixar preço de diesel é utopia”, sentencia. Embora não esteja envolvida com a greve dos motoristas, segundo André, a Fecam terá de pagar a conta. “Temos cinco ações contra nós, nesse momento. Uma dessa ações foi o Estado que moveu contra nós, solicitando o pagamento de indenização de R$ 100 mil.”, conta André. Temos mais outras três ações contra nós, entre elas uma da Procuradoria Geral da União. Agora, vamos tentar negociar com o Estado, e arcar com as consequências”, diz André Costa. 
E no comércio exterior…
Sidnei Cardoso, diretor de logística da ECX Global Logística Integrada e Comécio Exterior, de Campo Bom, comenta que as operações da empresa foram afetadas pela paralisação. “É um impacto operacional para nós, que ficamos com os veículos parados. Seguramos nossos veículos e os liberamos para coletas apenas na sexta-feira passada. Eles estão andando e parando, depois andam de novo. Aos poucos, conseguem chegar nos destinos. Temos conseguido entregar cargas, principalmente no nordeste do país”.
O diretor comenta que o impacto maior é em seus clientes. “Tivemos casos de dois clientes nossos que essa semana deram férias para os funcionários, pois como o material não chega na fábrica, não têm como produzir”. É o caso do setor calçadista, que depende dos componentes de calçados chegarem na fábrica para poderem produzir. 
“Temos bastante cargas paradas no porto, que dependiam só do desbloqueio das estradas para serem entregues aos clientes. São cargas de vários segmentos, como calçado, lojas e metalúrgicas”, comenta Elviton Pereira, gerente comercial da Fênix Serviços em Exportação e Importação, de Sapiranga.  
A Fênix também tem casos de exportações que não puderam ser realizadas devido ao bloqueio das estradas. “Além disso, temos cargas que foram importadas para o Brasil para a Fimec, que precisam ser liberadas pela Receita Federal em tempo de entrarem no pavilhão da feira”. A Fimec começa dia 17 /3, e para que as mercadorias estejam no evento, é necessário um processo administrativo junto à Receita, que normalmente é demorado. “Vai ser bem complicado, e temos do dia 5 ao dia 12 de março para entregar as mercadorias no pavilhão”, comenta Elviton.
Motoristas em meio às manifestações
Apesar de ter prejuízos com o bloqueio das estradas, Belvam diz que entende as reivindicações dos motoristas. “Compreendemos a paralisação, mas acabamos ficando no meio da situação, e fomos prejudicados junto”, desabafa.  
Belvam ainda comenta que os manifestantes estavam bloqueando a entrada do Terminal de Cargas (Tecon) do Porto de Rio Grande, impedindo as transportadoras de carregarem as mercadorias que chegavam ao porto. “Em Pelotas e Camaquã, as estradas estavam bloqueadas.”, diz.  
Segundo o diretor comercial, alguns caminhões da sua frota estavam em circulação pelas estradas, já que estavam realizando entregas e coletas quando a greve começou. “Tínhamos alguns caminhões parados em Camaquã. Eles precisaram esperar o fim da greve, já que qualquer movimento era repreendido pelos manifestantes, às vezes de forma violenta”, comenta Belvam.
Prejuízos da greve preocupam entidades
Representates de cinco federações empresariais do Rio Grande do Sul estiveram reunidos na manhã de segunda-feira (2), na Fiergs, para discutir as consequências da greve dos caminhoneiros. Na reunião, conversaram sobre soluções para amenizar os prejuízos causados pelo movimento. Apesar de compreenderem as razões por trás das manifestações, demonstraram preocupação com os efeitos negativos da greve na economia do estado.
Estiveram presentes o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul, Vitor Augusto Koch – que afirma que o varejo ainda trabalha com base em estoques, mas setores específicos como o de combustível, farmácia e alimentos perecíveis já são afetados – , o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Carlos Sperotto e o presidente da Fiergs, José Heitor Muller, entre outras lideranças.