Fundada antes mesmo da emancipação de Sapiranga, o crescimento da Paquetá refletiu no desenvolvimento do município

Sapiranga – Não há morador de Sapiranga que não tenha trabalhado ou conhece alguém que trabalha ou já trabalhou na Paquetá. A tradição e história de quase 74 anos de empresa hoje já passa por gerações de colaboradores. Fundada em 20 de junho de 1945 por Arlindo Müller e Hugo Wagner, foi primeiramente chamada de Müller & Wagner Cia Ltda. Logo depois, entre 1948 e 1949 Hugo deixou a sociedade e Arlindo Weber tornou-se formalmente sócio. A fábrica, então, não mais produz masculino e passa a produzir apenas sapatos femininos. Foi também neste período que a empresa muda a razão social para Paquetá Calçados Ltda, nome inspirado na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. Em 1972, Adalberto José Leist, atual presidente do Conselho, após o casamento com Iara Weber, filha de Arlindo, ingressa na empresa para atuar na área industrial.

O Sr. Adalberto recebeu o Repercussão com exclusividade e relembrou a história da empresa e da própria Sapiranga, cidade que adotou. “Começamos com mercado interno, depois, em 1971 para a exportação. Em 1980 ficou 100% exportação. E depois, em 1995, começamos a voltar para o mercado brasileiro, que mantemos até hoje”.

Retribuição e carinho pelo município

Com as exportações, o setor do calçado cresceu exponencialmente por todo o Vale. Chegou a faltar mão de obra. Foram abertas 15 filiais.

“Teve a ampliação da indústria calçadista e Sapiranga foi muito promissora. Sempre digo que Sapiranga me fez! E eu consigo, até hoje, retribuir com empregos. Tenho um carinho muito grande, sem dúvida”, reflete Adalberto.

Melhores perspectivas para o futuro da cidade

A Paquetá chegou a empregar cerca de cinco mil pessoas em Sapiranga. Mesmo com a crise que abalou toda a economia brasileira, Leist destaca que a fábrica na cidade nunca ficou com menos de 1200 pessoas trabalhando. “Hoje nós temos 12 mil pessoas trabalhando conosco, no total”, destaca. Mesmo com unidades no Ceará, Bahia e Argentina, Sr. Adalberto pontua que a alma da empresa sempre ficou em Sapiranga, até hoje. “Toda a administração continua aqui, as modelagens, e uma pequena produção, para aqueles sapatos mais delicados”, pontua. Ele prospecta um recomeço. “Sapiranga, nos últimos anos, ficou mais organizada, limpa. Está com potencial muito bom. Muitas fábricas reabrindo. Sapiranga tem um povo que cheira e fala sapato. É um local de crescimento. Mão de obra muito boa. Temos metalúrgicas muito boas aqui também”.

Com 74 anos de história, foram diversas as mudanças de mercados. Produção, hoje, foca também no esporte

A produção de um sapato sempre foi muito artesanal. “Mesmo um injetado, no início, precisa ter uma mão artesanal”, pontua Leist. Ele destaca que na Paquetá, com produção somente em couro, sempre produziu para grandes marcas internacionais, além das marcas próprias, Dumond, Capodarte e Ortopé. A linha de produtos foi se diversificando. “Hoje nós temos grandes clientes do ramo esportivo. No início era só feminino. Agora temos esportivo, masculino, infantil”, explica.

A produção de tênis, para marcas como Adidas, Puma, Oakley e Timberland, está com o mesmo volume do sapato feminino, que sempre foi o carro chefe. O empresário faz questão de salientar a importância do funcionário “falar sapato”. “O sapato é uma especialidade. Eu, por exemplo, sou e gosto da indústria. Passo quase o dia todo ainda dentro da indústria. Converso com as pessoas e gosto deste contato com o funcionário. Porque é ele que nos ensina”, salienta Adalberto, que filho de um dos primeiros médicos de Sapiranga, Pedro Leist, chegou a cogitar a carreira na medicina e trabalhou até os 21 anos em uma farmácia.

Ele se rendeu ao calçado. “Não me vejo parando. Tinha uma veia totalmente diferente, mas depois que vim pra cá, tantos anos aqui, junto com a fábrica e com as pessoas, foi sapato a vida inteira”. Sobre a cidade, destaca as boas oportunidades. “Temos que acreditar. Sapiranga é um local de pessoas amigas. Visitantes gostam de estar aqui. A minha vida foi construída aqui. Cidade está mais segura e é um polo muito bom, com grande pujança”, ressalta.

Transformação nos mercados norte-americanos e asiáticos revelam dificuldades no Brasil

A maior dificuldade hoje no Brasil, quando se trabalha com marcas internacionais, conforme Adalberto, é a busca por materiais. “Eles sempre querem uma coisa diferente, algo original. No Brasil fechou muitas representações de determinados materiais, e na China tem tudo. Então, quando americano vem pro Brasil, ele não consegue encontrar determinado material aqui e precisa buscar em outro país. E o chinês não, tem tudo lá”, salienta, ressaltando a qualidade que hoje o solado feito na China tem. “Eles nao tem medo de errar. Fazem muito rápido até acertar. Determinados solados, como da Adidas e Oakley, tem que vir de lá, infelizmente, porque nós não temos”, lamenta. É por facilidades como essa que hoje o norte-americano se sente com mais possibilidades estando na China do que no Brasil.

Texto: Sabrina Strack