Estado diz que vai normalizar entrega de remédios a transplantados

Dever do Estado | Ciclosporina, que está em falta, é usado por transplantados

Região – Já não bastasse o déficit financeiro do Estado, com o qual os municípios precisam lidar, a área da Saúde agora também enfrenta dificuldades com o abastecimento de medicamentos. Recentemente, o problema tem sido em encontrar disponibilidade junto aos fornecedores.

As Secretarias da Saúde, como a de Sapiranga, sofrem com a falta de medicamentos que deveriam vir do Estado. Um desses medicamentos é o ciclospirona de 50 e 25 mg, que deve ser utilizado por pacientes que fizeram transplantes de órgaõs. Em Sapiranga, são 24 transplantados que aguardam a chegada do medicamento. “Alguns medicamentos, como o ciclospirona, são fundamentais. Não tomá-los regride o tratamento a ponto de comprometer a evolução do paciente”, diz o secretário de Saúde de Sapiranga, EmersonLeite. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o fornecimento de ciclosporina deve ser normalizado até esta sexta-feira (30).

Sapiranguense relata

O sapiranguense Marco Antônio Renner, funcionário público de 54 anos, fez um transplante de rim, portanto necessita de ciclosporina. “No meu caso, preciso de 75 mg, então necessiariamente preciso das doses de 50 e 25 mg. O ciclosporina de 100 mg está disponível no município, mas não auxilia no meu caso”. Marco Antônio faz questão de lembrar que ele não é o único nessa situação. “São todos os transplantados do município nessa situação. Como são medicamentos que deveriam ser fornecidos pelo Estado, o município fica de mãos atadas e nós, que precisamos dos medicamentos, ficamos na espera. Notei que a Secretaria Estadual de Saúde informou que o medicamento deve chegar nesta semana, mas….já ouvimos essa conversa antes”, desabafa. “Se o transplantado fica, digamos, uns três dias sem o ciclosporina, começa a dar rejeição no órgão transplantado. É uma situação terrível, que só deve piorar se o governo realmente acabar com a Farmácia Popular, ano que vem. É uma questão que precisa ser divulgada”, declara Marco Antônio.

Secretário fala sobre a questão

O secretário municipal de Saúde de Sapiranga, Emerson Leite, demonstra grande preocupação com a situação em que a Secretaria se encontra. “Para nós é horrível, pois as pessoas moram aqui e vêm até nós para reclamar – nem mesmo dentro do Hospital há ciclosporina”, revela Emerson.

Segundo Emerson, o que se pode fazer é solicitar aos médicos que adaptem as medidas – já que o ciclosporina de 100 mg ainda está disponível. “Como se trata de uma medicação comprada diretamente pelo Estado, nós do município não recebemos o recurso e nem temos o contato da fonte para fazermos a compra”, o secretário explica.

”Na sexta-feira passada, falamos com a Saúde, em Porto Alegre, e tudo que ouvimos foi que haveria tentativas de entrega ao longo da semana. Mesmo se o prazo estipulado pela Secretaria Estadual se cumprir, recebemos o remédio na sexta-feira e quem precisa só pode retirá-lo na segunda-feira, é bastante tempo sem o medicamento”, avalia Emerson. Ele lembra que não é apenas da ciclosporina que precisam, mas outros medicamentos estão em falta. “Não tínhamos mais dieta alimentar para fornecer, mas esse problema resolvemos nesta sexta-feira, estamos sendo abastecidos nesta semana”, explica o secretário.

Conforme Emerson, entre os medicamentos que precisam receber do Estado, além da ciclosporina, estão o rituximabe, o ranibizumabe e o everolimo. Para o secretário, esse é apenas o começo de um período conturbado para a Saúde. “A pior fase ainda não chegou. Essa situação vai ser uma constante, ainda mais com o bloqueio das contas. Até a produção por parte do laboratório é comprometida, pois se o Estado atrasa o pagamento das contas ao fornecedor, atrasa a chegada do medicamento”, comenta Emerson. Ele lembra também que o abastecimento do município para decitabina foi resolvido porque conseguiram o remédio com Osório. “E veja só que situação. Só conseguimos com Osório porque o paciente deles veio a óbito”, revela o secretário.

O secretário Emerson ainda revela que o valor que o município recebe em medicamentos do Estado fica entre R$ 400 e R$ 500 mil, por mês. “Então simplesmente não há como o município assumir esse custo. Mas ao mesmo tempo a população que é penalizada, já que o recurso não é do município, mas a vida do cidadão compete ao município. Infelizmente, é uma situação que será cada vez mais frequente”, ele considera.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado, a entrega de ciclosporina está programada para ocorrer ainda nesta semana. A Secretaria afirma que o Estado teve dificuldades para atender os pacientes transplantados que fazem uso desse imunossupressor, em função de problemas enfrentados pelos dois fabricantes no Brasil. Em nota, a pasta explicou que um dos laboratórios (EMS) suspendeu a produção por determinação da Anvisa. A outra empresa, Novartis, não conseguiu atender toda a demanda gerada e não teve condições de entregar os lotes adquiridos pela Secretaria dentro do prazo, ou seja, final de setembro.
A Secretaria também informa que a Coordenação da Política de Assistência Farmacêutica da Secretaria entrou em contato com outros estados para solicitar o empréstimo da Ciclosporina, mas não obteve sucesso, já que a situação é semelhante em quase todo o país – remédio em falta ou com estoque baixo.

Em Nova Hartz, a situação é a mesma. A Secretaria de Saúde aguarda o reabastecimento de ciclosporina pelo Estado. No município, são dois transplantados que necessitam do imunossupressor.

Crédito da foto: Divulgação/SES