Entenda porque é importante falar sobre Covid-19 e evitar comparar com outras doenças

Foto: Adriana Severo

Região – O novo coronavírus foi confirmado no Brasil em 26 de fevereiro. Nesta terça-feira, fecharam-se três meses do vírus no país e já são 24.549 mortes. Desde o início da pandemia, muitas pessoas questionam a notoriedade que o novo coronavírus tem recebido. Conversamos com médicos e levantamos dados para explicar por que a Covid-19 é diferente de câncer, de infarto, de AVC, e da própria gripe A, a H1N1, que, em 2009, também causou uma pandemia com milhares de mortes.

Um dos pontos abordados nas redes sociais diz respeito ao fato de que grande parte da população deva ser contaminada para a criação de anticorpos, contudo, o problema está no fato de todos se contaminarem ao mesmo tempo o que colapsaria o sistema de saúde. O Dr Rafael França, médico presidente da Associação Beneficente São Miguel -ABSM, que administra o Hospital Lauro Reus, de Campo Bom, explica que “a importância do coronavírus dá-se pela alta taxa de transmissibilidade”, e que estando doentes certos casos “podem evoluir para um quadro grave de insuficiência respiratória, sobrecarregando o Sistema de Saúde, pela necessidade de leitos em Unidades de Tratamento Intensivo e uso de respiradores”, explica.

Além disso, questões como a suspensão de exames e a ocupação da infraestrutura hospitalar, por conta de casos de Covid-19, podem afetar também pacientes que sofrem com demais doenças.

Porque não se compara a Câncer

Algo importante a ser destacado é que, de forma geral, de acordo com o Dr. Rafael, é possível dizer que Câncer não é uma doença evitável, na mesma proporção que a Covid-19 é.

Leonardo Gilberto Haas Signori, Pneumologista do Hospital Sapiranga, explica que doenças como câncer, infarto, AVC e asma podem levar a morte dos pacientes, até com taxas de mortalidade maiores que a da Covid-19, mas possuem tratamento e prevenção diferenciada, sendo muitos cuidados que devem ser tomados a longo prazo, além de predisposição genética, enquanto a Covid-19 é uma doença contagiosa e que requer cuidados imediatos para a promoção da saúde. “Comparar o coronavírus com câncer seria a mesma coisa que comparar uma caneta com uma bola”, afirma Leonardo.

MÉDICOS EXPLICAM

Rafael França, presidente ABSM

“Habitualmente, mortes por doenças denominadas como doenças do ‘envelhecimento’, tais como doenças vasculares ou câncer, geralmente são casos esperados. O que chama a atenção das mortes por coronavírus são a quantidade de mortes e a velocidade com que acontecem”.

Leonardo Signori, pneumologista do Hospital Sapiranga

“São doenças completamente diferentes, com mecanismos fisiopatológicos diferentes, portanto não existe essa possibilidade de comparação. Podemos comparar taxa de mortalidade entre diferentes vírus”.

Mesmo não sendo comparáveis, confira os números reais de mortalidade das doenças

 

Doença Período Mortes Mortes por dia
Covid-19 3 meses 24.549 Chegou a 1.188
H1N1 (pandemia) 2009 2.060 10
AVC 2018 33.635 92
Infarto 2018 93.272 256
Câncer 2018 224.712 616

Fonte: DataSus, Ministério da Saúde e INCA
Por não terem sido atualizadas, utilizamos informações de 2018.

Hidroxicloroquina

Outro ponto bastante abordado nas redes sociais é a eficácia da Cloroquina e Hidroxicloroquina no combate a Covid-19. Leonardo explica o seguinte: “Surgiram, no início da pandemia, estudos que mostraram resposta da Cloroquina e Hidroxicloroquina no tratamento do vírus em laboratório. Até então, não tínhamos um ensaio clínico randomizado (tipo de estudo mais adequado) testando essas drogas contra o tratamento de suporte padrão para avaliar seu real resultado. Por isso, a meu ver, não temos evidência científica para usar tais medicações em nível ambulatorial, sem o devido controle e monitoramento dos pacientes, considerando seus potenciais efeitos adversos.”

Hospitais aptos

Rafael afirma que o HLR conta com leitos de isolamento em todas as áreas do hospital para o atendimento a estes pacientes, seja na Emergência, UTI e Enfermaria. Leonardo explica que o Hospital Sapiranga ampliou a capacidade de atendimento a estes pacientes, mas que ainda não houve a necessidade de internação por Covid-19, e afirma que a estrutura está organizada e preparada.